O Brasil relembra em 31 de março, os 55 anos de um golpe civil/militar que instaurou no país uma ditadura sanguinária, que perseguiu, censurou e ceifou vidas de muitos brasileiros e brasileiras. Aquele dia deu início a uma tenebrosa ditadura que perdurou por 21 anos em nossa história, marcando um período que não pode jamais ser esquecido pelo povo brasileiro.
O governo de generais instalou um verdadeiro regime de terror no país, empurrando expressivos segmentos de nossa população, especialmente de setores de nossa juventude de então, a um processo de resistência política que, sem alternativas, desbancou para a luta armada porque foram suprimidos todos os canais de participação social. Esses longos anos foram marcados por uma hiperinflação que tirou o poder de compra dos/as brasileiros/as, que viram o derretimento, ano após ano, do salário mínimo, além do crescimento de nossa dívida externa a patamares estratosféricos. A taxa de analfabetismo entre pessoas de 10 a 14 anos beirava a casa dos 20% da população nesse segmento ao final da vigência dos governos militares. Sem falar na expectativa de vida que, de forma escandalosa, chegou a cair em seu primeiro período, demonstrando claramente a piora das condições de vida de nosso povo.
Esses aspectos econômicos, no entanto, ficam pequenos diante da violência institucional protagonizada por agentes de Estado, que gerou um absoluto clima de arbítrio e terror no país. Estimativas da Comissão Nacional da Verdade, a partir de dados recolhidos do projeto “Brasil: nunca mais”, dão conta de que tivemos mais de 500 mil cidadãos investigados pelos órgãos de segurança da época; 10 mil presos torturados só nas dependências do DOI-CODI (órgão de inteligência e repressão subordinado ao Exército) em São Paulo, dentre elas 40 crianças; 10 mil brasileiros exilados; mais de mil funcionários públicos aposentados ou demitidos sumariamente; intervenção em mais de 1200 sindicatos; censura prévia em toda a imprensa nacional; centenas de mortos e desaparecidos políticos. A jornalista Eliane Brum, ao discutir a historiografia oficial do número exato de mortos pelo regime, estima que além do registrado oficialmente – número esse que envolveu camponeses, sindicalistas, líderes rurais e religiosos, advogados e ambientalistas – esse número não contabiliza mais de 1100 mortes de indígenas que tombaram diante do cruel projeto de desenvolvimento econômico do país, invisibilizados por um regime que nunca contou com uma imprensa livre para ser denunciado.
Esse é o quadro de um período tenebroso de nossa história. Não pode jamais ser esquecido! Deve ser sempre denunciado. Causa asco, portanto, quando vemos o atual mandatário brasileiro, a ocupar o mais alto posto da República, orientar ao Exército brasileiro que se comemore esse dia. É um atentado com a nação! O atual presidente fanfarrão e despreparado que é, aposta na impunidade para sugerir algo dessa natureza, já questionado pelo próprio Ministério Público Federal. O presidente Jair Bolsonaro deve ser responsabilizado criminalmente e politicamente pela sua conduta de apologia aos crimes praticados pelo regime de terror que tanto enaltece. Quando era deputado, escondido pela prerrogativa da imunidade parlamentar, já defendeu mais de uma vez a ditadura no Parlamento. Agora como presidente, essa barbaridade não pode passar incólume. De forma acertada, decisão da Justiça Federal de Brasília, de 29 de março, impede que o governo comemore o início da ditadura militar no Brasil.
Os/as educadores/as brasileiros/as devem se somar às manifestações que vão ocorrer por todo o Brasil em repúdio a essa postura vil de nosso atual mandatário. Não toleraremos qualquer condescendência com esse regime que perseguiu e matou milhares de pessoas no Brasil, não poupando sequer membros das Forças Armadas brasileiras. Ditadura militar nunca mais! Jamais esqueceremos os seus mortos, e por eles também continuamos nossa luta por democracia no Brasil!
Fonte: CNTE