Ao falar da Guiana, continua a dúvida: qual delas? Sempre surgem dúvidas quanto a estes dois países, inclusive sobre a localização geográfica de ambas e as histórias (que não se confundem.) Você sabia que, no passado, já tivemos cinco Guianas?
A Guiana da qual falaremos aqui é a Francesa e não é, de fato, um país, mas sim Território Ultramarino e região da França e seu idioma oficial é o francês. Inclusive é preciso de visto para se entrar lá e a moeda oficial é o euro.
Situada ao norte da América do Sul, faz divisa com apenas com o Suriname e o Brasil. Seu território tem 83.534km2 e a densidade populacional mais baixa da América do Sul: 3,4 habitantes por km2.
Antes da primeira chegada dos franceses, em 1503, o território era habitado pelo povo Lokono. Mas, só em 1643, com a fundação da cidade de Caiena, é que os europeus se fizeram presentes de maneira permanente.
As plantações de cana dominaram a região e para este trabalho, vieram muitos africanos que foram escravizados e também fizeram aumentar a população.
Outra função do Território foi servir como colônia penal para prisioneiros franceses condenados a trabalhos forçados. Ao longo do litoral e nas ilhas, foram construídos presídios e colônias penais, sendo a mais famosa delas a “Ilê du Diable”. O principal trabalho destes prisioneiros foi a coleta de borboletas para a venda no mercado internacional. Tanto para fins científicos quanto para colecionadores.
Foi somente a partir de 1946 que a Guiana tornou-se um Território da França e passou a ser presidida pela Assembleia da Guiana Francesa (51 conselheiros eleitos por voto direto), que tem um representante de Estado nomeado pela França e também elege dois deputados e dois senadores para o governo francês.
Como os demais países da região, há problemas sociais, econômicos e um grande fluxo de garimpo ilegal, já que a região possui muito mouro.
A Guiana é extremamente rica culturalmente, um verdadeiro mosaico que se formou sobre as “terras das águas” mas, há poucos nomes que se destacam mundialmente no cenário cultural e artístico.Na literatura, o Território não tem tantos nomes reconhecidos internacionalmente Há as poetisas Eugénie Rézaire e Assunta Renau Ferrer e a escritora Myrtô Ribal Rilos que estampa nossa agenda de 2023. Mas, quem é essa mulher?
Sobre a escritora:
Myrtô Ribal Rilos nasceu na Guiana Francesa, hoje vive na Martinica, onde leciona. É doutora em sociedades crioulas do Caribe e da Guiana, tendo publicado inúmeros artigos no campo de Línguas e Culturas Regionais. É também pesquisadora associada nos laboratórios da Universidade das Antilhas Guiana (UAG) e da Universidade da Guiana Francesa (UG). Tem um interesse particular pelas sociedades crioulas do Caribe e da Guiana, sendo especialista sobre as mesmas, suas culturas e os modos de transmissão das mesmas. Myrtô procura sempre trazer as vozes dos povos africanos que foram escravizados. Há muitas relações entre as histórias de lá (Guiana) com as nossas aqui.
Siga a autora em suas redes sociais:
Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=100011217368579
Sobre as suas obras:
Sua ficção favorita são os espaços e modos de transmissão das culturas crioula e africana para as novas gerações franco-guianenses, buscando sempre o resgate da história e da memória cultural das mesmas em sua ficção. Relata histórias de diversas gerações que vão dos vulcões de Guadalupe à Martinica e à Amazônia da Guiana. Fala sobre a sede de ouro, lucros, maxiglobalização e a ignorância que temos de nós mesmos e da Mãe Terra. Escrita repleta de figuras de linguagens (onomatopeias, aliterações, assonâncias e paronomásias), para envolver o leitor em uma aventura auditiva entre terra e água.
Seu primeiro livro, Pierra, leva o leitor dos vulcões de Guadalupe às colinas da Martinica passando pela Amazônia guianense. Este livro foi selecionado pelo júri para o Prix Carbet des lycéens 2014 e conta a história da personagem que acorda do coma, Pierra abre os olhos em uma cama de hospital. O que aconteceu ? Ela lembra-se que estava indo levar remédios para um paciente, quando ouviu uma explosão. Memórias confusas surgem: as de sua juventude, de uma sogra destacada, de um bebê de pele branca e alguns conhecimentos medicinais ancestrais. Ao recuperar a consciência, estão ao seu lado Swann (amigo fiel) e Brice (motociclista responsável pelo acidente). Para se redimir do ocorrido, este irá cuidar do jardim de Pierra e, aos poucos, vão conhecendo sua história; repleta de conhecimentos das culturas crioulas e africanas e, assim ocorre a transmissão de saberes às novas gerações.
Principais obras:
• Pierra (2012)
• Mélodie d´eau (2015 – infanto juvenil)
• Ballade Guyanaise (2019)
Fragmento de entrevista:
Du 24 août au 1er septembre Myrto Ribal Rilos (MRR) a participé à la 23è Foire du Livre de Belem. Invitée par la Secult, le Secrétariat d’Etat à la Culture et l’Alliance Française, l’auteure guyanaise a enchaîné conférences et rencontres portant à chaque fois la voix de la Guyane. Elle a également présenté son dernier livre Ballade guyanaise.
Promolivres Guyane: Vos contacts et échanges laissent -il présager de futures collaborations.
MRR: En effet, de futures collaborations semblent être possibles lors de prochains voyages Je remercie les départements de l’UFPA pour leur chaleureux accueil. Une ouverture vers l’Université de Guyane est souhaitée pour des échanges.La visite de la ville de Belem a constitué un temps fort qui a autorisé pour moi la prise de conscience d’un développement social et économique en Espace Amazonien. Il mérite d’être découvert analyse et apprécié jusque et y compris sous l’angle de la dynamique touristique. Toutes ces découvertes culturelles nourriront probablement une future création.
De 24 de agosto a 1 de setembro, Myrto Ribal Rilos participou da 23ª Feira do Livro de Belém. Convidada pela Secult, a Secretaria de Estado da Cultura e a Aliança Francesa, a autora guianense tem conferências e reuniões agendadas que carregam cada vez mais a voz da Guiana. Ela também apresentou seu último livro, A Balada da Guiana.
Promolivres Guyane: Teus contatos e experiências anunciam futuras colaborações.
MRR: De fato, futuras colaborações parecem ser possíveis nas próximas viagens. Agradeço aos departamentos da UFPA pela recepção calorosa e pela possibilidade de realizar intercâmbios junto à Universidade da Guiana. Visitar a cidade de Belém foi uma experiência poderosa que me permitiu tomar conhecimento do desenvolvimento social e econômico no Espaço Amazônico, que merece ser descoberto, analisado e apreciado até e inclusive do ângulo da dinâmica turística. Todas estas descobertas culturais irão provavelmente alimentar minha criação futura.
REFERÊNCIA: Disponível em: https://www.facebook.com/promolivres.guyane/posts/2508317782562989
DICAS PARA TRABALHO EM SALA DE AULA:
>> História
Base Espacial de Kourou
Charles de Gaulle, em 1964, decidiu construir uma base para viagens espaciais na Guiana Francesa para substituir a base do Saara na Argélia, estimulando o crescimento econômico da Guiana Francesa. O Centro Espacial da Guiana está na costa de Kourou e cresceu consideravelmente desde os primeiros lançamentos dos foguetes Véronique. Atualmente, faz parte da indústria espacial europeia e teve sucesso comercial com lançamentos como o Ariane 4 e o Ariane 5.
Links:
https://www.youtube.com/watch?v=nX3s5drVgS4
https://sites.usp.br/portalatinoamericano/espanol-kourou-base-espacial-de
O Fort Cépérou é um dos pontos turísticos mais interessantes da Guiana. Este local era uma antiga fortaleza (1643) com uma vista para toda a área central de Caiena e para o rio.
Link: http://www.ville-cayenne.fr/les-origines-du-fort-ceperou-et-de-la-ville-de-cayenne
Ilê du Diable é um dos lugares que poderia ser mais visitado na Guiana, porém a entrada de turistas é proibida. Pode ser avistada em muitos passeios pela região e é possível ver de longe as ruínas de um presídio que teria abrigado mais de 80 mil prisioneiros. As atividades no local foram encerradas em 1953, mas, até hoje, as histórias continuam a povoar o imaginário local.
Link: https://www.uol.com.br/nossa/viagem/noticias/2019/10/18/perto-do-brasil-ilha-do-diabo-e-um-lugar-de-passado-assustador-conheca.htm
>> Geografia
Para entender melhor a estrutura da Guiana Francesa: ela é, ao mesmo tempo, uma região e um departamento francês de ultramar cuja prefeitura tem sede em Caiena. Dividida em dois arrondissements (de Caiena e Saint-Laurent-du-Maroni), tem dezesseis cantões e 22 comunas.
Link: https://journals.openedition.org/confins/11072?lang=pt
A floresta tropical de Iwokrama é uma das mais preservadas do mundo. Ocupando quase 90% do território. Abriga 225 espécies de mamíferos e mais de 6 mil tipos de plantas.
Link: https://www.conservation.org/pt/ouca-me/iwokrama
>> Biologia / Ciências
Os manguezais cobrem grande parte do litoral e, por tratar-se de um ecossistema extremamente frágil, o ecoturismo tem se desenvolvido lenta e planejadamente na região costeira. Ainda há o risco da extração petrolífera. Existem quatro tipos diferentes de manguezais no departamento, dentre os quais o vermelho e o branco. Atrás do mangue, a planície litorânea tem a Awara e de seus frutos elabora-se um caldo tradicionalmente consumido na época do Natal.
AWARA: Palmeira com fruto aromático que abriga sementes comestíveis, abundante na região amazônica; conhecida aqui no Brasil como tucum-do-amazonas. Na Guiana, tem usos alimentar, medicinal e artesanal.
Links:
https://la1ere.francetvinfo.fr/guyane/quelques-palmiers-emblematiques-guyane-awara-palmier-astrocuryum-vulgare-5-571505.html
https://conseilsphytoaroma.com/2017/12/07/un-palmier-de-guyane-qui-sert-a-tout-lawara/
As praias guianesas ficam repletas de tartarugas em determinadas épocas do ano, sendo uma experiência ímpar tais momentos.
>> Educação Física
Assim como o Brasil, o esporte mais praticado na Guiana Francesa é o futebol, tendo inclusive o Campeonato Nacional da Guiana Francesa, a principal competição de futebol do país, organizado pela Ligue de Football de La Guyane Française e sua primeira edição ocorreu no ano de 1962.
>> Arte
O Carnaval é um dos eventos mais importantes da Guiana Francesa e é considerado o mais longo do mundo. Tem uma mistura de cores, ritmos, danças e alegorias. Muitos o classificam como um teatro a céu aberto.
Links:
https://www.france.fr/pt/guiana-francesa/artigo/os-misterios-do-carnaval-revelados-por-uma-touloulou
https://www.revistas.usp.br/clt/article/view/206085
>> Português
O francês é a língua oficial, e é o idioma predominante do departamento, mas outras línguas também são faladas. A principal língua falada pela sociedade franco-guianense é o Crioulo da Guiana Francesa, que é baseado no francês, inglês, português, espanhol e outros dialetos africanos e ameríndios. Seis línguas ameríndias, quatro dialetos quilombolas, bem como hmong. Outros idiomas falados incluem o português, hacá (um dialeto chinês), crioulo haitiano, espanhol, holandês e inglês. Ou seja, a diversidade linguística da Guiana é gigantesca e maravilhosa!
Links:
https://www.webartigos.com/artigos/a-lingua-crioula-da-guiana-francesa-uma-relidade-tradutoria/47148
https://www.wikiwand.com/pt/Crioulo_da_Guiana_Francesa
DICAS DE FILMES:
O clássico Papillon (1973) , com Steve McQueen e Dustin Hoffman foi um filme além das expectativas, merecendo um remake em 2018. A história se passa na Ilha do Diabo (Guiana), num dos piores presídios do mundo, de onde Papillon (Henri Charriere) tenta, a todo custo, fugir. Mas, o que nem todo mundo sabe é a polêmica que envolve a autoria da obra. Vale a pena conhecer essa história também.
https://dragonmountbooks.wordpress.com/2018/10/25/resenha-filme-papillon/
https://istoe.com.br/a-verdadeira-historia-de-papillon/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/imacreditavel-fuga-e-farsa-de-henri-charriere.phtml
DICAS DE MÚSICAS
O principal ritmo musical da Guiana Francesa é o ZOUK – que significa festa – totalmente dançante e caliente, ele é cantado, em dialeto crioulo.
https://www.musicasmaistocadas.club/regional/musicas-guianas-mais-tocadas-2020/
IMAGENS DA GUIANA FRANCESA