MP pede restabelecimento imediato da liminar que proíbe Parceiro da Escola onde consulta não atingiu quórum

MP pede restabelecimento imediato da liminar que proíbe Parceiro da Escola onde consulta não atingiu quórum

Recurso critica decisão da Presidência do TJ que derrubou liminar concedida pela Justiça à pedido da APP-Sindicato, contra decreto assinado por Ratinho Jr. com regras antidemocráticas

Foto: APP-Sindicato

A Coordenadoria de Recursos Cíveis do Ministério Público do Paraná ingressou, nesta quarta-feira (11), com um Agravo Interno no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) pedindo o restabelecimento imediato da liminar que proíbe a Secretaria da Educação (Seed) de decidir unilateralmente sobre a adesão ao Parceiro da Escola nos estabelecimentos de ensino onde a consulta pública do programa não atingiu o quórum de 50% mais um das pessoas habilitadas a votar.

:: Receba notícias da APP pelo Whatsapp ou Telegram

A liminar havia sido concedida pela 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, atendendo pedido formulado pela APP-Sindicato em uma Ação Civil Pública, mas foi derrubada pela Presidência do TJ-PR, por solicitação do governo. Na decisão de 1º grau, o juízo acatou os argumentos do Sindicato de que dispositivos do Decreto nº 7.235/2024, assinado pelo governador Ratinho Jr. (PSD) para regulamentar o Programa Parceiro da Escola e o processo de consulta pública, violam a Constituição e o princípio da gestão democrática.

Para o Ministério Público, o pedido do governo para derrubar a liminar não se enquadra nos casos que justificam a análise pela Presidência do TJ-PR, pois poderia ter sido apresentado mediante instrumentos ordinários previstos na legislação, como agravo de instrumento, dirigido ao órgão recursal regular. O MP também rebate as alegações da Presidência da Corte local de que a alteração das regras das votações previstas no decreto “aparenta ser extremamente prejudicial ao Estado do Paraná diante da iminência de sua realização”.

O recurso do MP elenca uma série de agravantes que teriam sido praticados de forma proposital pelo governo para desestimular a participação da comunidade escolar, resultando na transferência da decisão para a Seed de maneira antidemocrática, “afastando a sociedade do processo decisório, desrespeitando a publicidade dos atos administrativos e prejudicando o controle social sobre um programa que impacta diretamente o ensino público”.

“Nesta toada, deve ser mantida a liminar concedida em 1º grau, haja vista a ausência de lesividade à ordem pública, tendo em vista que o descumprimento na divulgação do programa e a insuficiência de tempo entre a divulgação das regras e o início da consulta, violou o princípio da razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, além da gestão democrática”, defende o MP. Leia a íntegra do Agravo aqui.

94% de rejeição

A consulta pública aconteceu nos dias 6, 7 e 9 de dezembro. A divulgação do resultado mostrou uma grande derrota para o autoritarismo do governo Ratinho Jr. (PSD) e uma importante vitória da resistência das comunidades escolares, que lutam em defesa da escola pública de qualidade.

Mesmo com um forte esquema de repressão acionado para intimidar posicionamentos contrários e um aparato jurídico utilizado para impedir a participação democrática, das 177 escolas onde ocorreram as votações, em apenas 11 (6,2%) houve aceitação da proposta do governo que transfere recursos públicos da educação e a gestão dos estabelecimentos para a iniciativa privada.

O quórum só foi atingido em 94 escolas. Dessas, 83 disseram não à privatização. Nas outras 83 escolas, onde o comparecimento ficou abaixo do mínimo, as urnas não foram abertas e os resultados não foram divulgados. Nesses casos, de acordo com normativa imposta pela Seed e questionada pela APP-Sindicato na Justiça, o governo não vai respeitar a vontade da comunidade escolar, ficando a critério do secretário da Educação decidir se o colégio será incluído no programa.

>> Saiba mais: Comunidades escolares dizem não ao Parceiro da Escola e ao autoritarismo de Ratinho Jr.

Discussão no STF

A APP-Sindicato é contrária ao programa por entender que, além de oferecer riscos para a garantia da qualidade do ensino, a iniciativa tira recursos públicos da educação para gerar lucro aos empresários escolhidos pelo governo. 

A estimativa é de que as empresas que forem selecionadas recebam quase R$ 2 bilhões por ano e tenham um lucro estimado em R$ 240 milhões. O valor foi calculado com base nos editais e contratos do projeto piloto.

Segundo dados levantados, foi possível apurar que a gestão de Ratinho Jr. investe em torno de R$ 8 por estudante, mas para as empresas promete pagar uma quantia até 100 vezes maior, R$ 800 reais por estudante.

O sindicato ainda aponta outros problemas de legalidade e constitucionalidade, como a falta de transparência na aplicação dos recursos e interferência na gestão pedagógica das escolas para que a empresa aumente a fatia de dinheiro a receber do Estado.

A discussão sobre a constitucionalidade da iniciativa é debatida no Supremo Tribunal Federal, através da Ação Direta de Inconstitucionalidade 7684, protocolada no dia 11 de julho pelo Partido dos Trabalhadores. 

No final de agosto, o ministro Kassio Nunes Marques, relator do processo, determinou que o governo do Paraná fosse intimado a se manifestar no processo. O magistrado também pediu a manifestação da Advocacia-Geral da União e o parecer da Procuradoria-Geral da República.

:: Leia também:
>> Repressão à livre manifestação marca primeiro dia de consulta às comunidades sobre o programa Parceiro da Escola
>> Decisão judicial autoriza estudantes a votar e dá ânimo extra à mobilização contra o projeto Parceiro da Escola
>> Projeto Parceiro da Escola só trouxe retrocessos nas duas escolas em que foi implantado
>> Implementação do Parceiro da Escola desmontaria a educação pública paranaense, alerta conselheiro do Tribunal de Contas
>> Tribunal de Contas suspende programa Parceiro da Escola por irregularidades
>> Ratinho Jr. muda regras de consulta à comunidade para tentar privatizar escolas à força
>> Ação no STF contra a privatização das escolas avança com intimação do governo Ratinho Jr.
>> Veja como cada deputado(a) votou no projeto do governador Ratinho Jr. que permite a privatização nas escolas

MENU