Modelo de educação do Chile defendido por Ratinho Jr foi implantado há 50 anos pela ditadura de Pinochet

Modelo de educação do Chile defendido por Ratinho Jr foi implantado há 50 anos pela ditadura de Pinochet

Secretaria da Educação está levando diretores(as) de escolas públicas do Paraná para conhecer modelo que é rechaçado em todo o mundo

O governo Ratinho Jr tem anunciado com estardalhaço, como parte do programa Ganhando o Mundo, a visita de uma comitiva de diretores(as) de escola ao Chile, para conhecer o modelo de educação daquele país. A informação oficial é que o “o objetivo é proporcionar uma imersão nas práticas de liderança educacional, consideradas referência em âmbito internacional”. Na realidade, é apenas mais uma peça no museu de novidades de Ratinho Jr.

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“O que o Ratinho Jr quer fazer no Paraná não tem nada de novo. Nós já temos 50 anos de rechaço a esse tipo de política em todo o mundo”, afirma Diana Cristina de Abreu, que estudou o modelo chileno de educação e escreveu sua tese de doutorado sobre esse tema.

A reforma educacional do Chile, referência para Ratinho Jr, foi implantada durante a ditadura do general Augusto Pinochet, no início dos anos 1970. “Se a gente puder resumir em duas palavras a reforma educacional do Pinochet são descentralização e privatização”, resume Diana, que preside o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba.

As reformas educacionais no Chile foram tema de live da APP, apresentada pela presidenta do Sindicato, Walkiria Mazeto. “Nada disso é novo para nós, que acompanhamos o debate educacional. O que a gente está vendo são experiências que já foram implantadas há 50 anos e estão chegando agora para nós. Estão trazendo agora um modelo já testado e falido, não tem nada de novo, nem de modernização, muito pelo contrário”, diz Walkiria.

Mensalidade

O modelo chileno, que Ratinho Jr quer impor no Paraná, incluiu o “financiamento compartilhado”, em que as famílias dos estudantes são convencidas a fazer uma contribuição financeira para “melhorar” a escola. “Isso vai aumentando e vira uma mensalidade, vira uma contribuição obrigatória. Para manter a criança na escola você tem que fazer essa contrapartida”, explica Diana, que morou no Chile quando fazia a pesquisa para seu doutorado. 

A ameaça de cobrança de mensalidade já pesa sobre as cabeças de pais e mães que têm filhos(as) em escolas públicas no Paraná. Walkiria Mazeto lembra que a emenda que proibia a cobrança de mensalidade na escola pública foi derrubada na votação do projeto de lei que autoriza privatizar a gestão de 204 colégios. O texto final da Lei 22.006 não tem qualquer restrição à cobrança de mensalidade.

“A gente precisa discutir essas coisas e trazer para as pessoas, para que não acreditem nas falácias desse modelo, que é excludente, que é segregacionista e prejudica o desenvolvimento das comunidades periféricas”, afirma Diana.

Tudo pelo lucro

No modelo neoliberal de educação, que Ratinho Jr defende com unhas e dentes, o Estado atua apenas onde a iniciativa privada não quer entrar, ressalta Diana. “No caso da educação, que tem financiamento substancial, os empresários estão ávidos por esses recursos e o interesse é sempre o lucro. No Chile os empresários abocanharam essa parte dos recursos públicos”, diz.

Com a reforma chilena, o salário dos(as) professores(as) passou a ser determinado pelos municípios e pelas empresas privadas que administram as escolas. Os salários caíram um terço num primeiro momento e um quinto dos(as) professores(as) perdeu o emprego.

“Quando você transfere o recurso para a empresa administrar, o empresário vai priorizar o lucro, vai contratar estagiário no lugar do(a) professor(a), vai diminuir o salário, vai precarizar as condições de trabalho”, constata Diana. No Chile hoje os professores(as) se aposentam com 30% do salário da ativa. 

O ataque aos direitos trabalhistas e aos sindicatos que os defendem é uma marca do governo Pinochet no Chile, da mesma forma que Ratinho Jr faz no Paraná. “Quanto mais fortes esses sindicatos, mais democrática será a sociedade. Por isso governos de extrema direita sempre atacam os sindicatos e atacam os(as) professores(as)”, aponta Diana.

A exclusão é uma das consequências do modelo neoliberal implantado no Chile e adorado por Ratinho Jr. As pessoas com necessidades especiais de educação são excluídas, pois o custo para educá-las é mais alto. “Você vai ficar apenas com os alunos que têm uma situação social melhor. Ao contrário disso, nós defendemos uma educação inclusiva. Nossa categoria precisa estar atenta”, observa Diana.

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