Um em cada três estudantes (33,5%) que tentaram vaga no curso superior, nos últimos cinco anos por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não tem acesso à internet e a dispositivos como computador ou celular, que permitam, por exemplo, aprender por meio de educação a distância (EaD).
Os dados foram levantados pela plataforma interativa Quero Bolsa, criada para estudantes buscarem auxílio e descontos para inscrição em faculdades particulares. Os números apontam para os prejuízos que a implantação dessa modalidade, em tempos da pandemia da Covid-19, oferece para o ensino público.
De acordo com o diretor de Inteligência Educacional da plataforma, Pedro Balerine, “a migração intempestiva para o EaD pode vir com alguns riscos”. Ele cita como exemplos a evasão escolar e o baixo desempenho.
“As instituições de ensino superior, principalmente aquelas que ficam em regiões mais pobres ou remotas, precisam ficar atentas ao fato de que possivelmente uma boa parte de seu corpo discente (estudantes) não tem infraestrutrura doméstica adequada para o aprendizado a distância”, alerta o especialista.
A análise dos dados colhidos nas respostas do questionário socioeconômico aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira (Inep), na inscrição para o ENEM nos últimos cinco anos, mostram uma realidade ainda mais preocupante.
Segundo o levantamento, 65,9% declararam acessar internet e celular; 61,9% tinham computador e celular; e apenas 54,81% responderam que tinham computador e celular dispositivos e acessavam a internet. As informações são da Agência Brasil.
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1) NÃO ATENDE A REALIDADE DO BRASIL
A maioria da população brasileira não tem acesso à internet em suas casas e nas escolas não há estrutura adequada sequer para as aulas presenciais.
2) NÃO SE MUDA A AULA DA SALA PARA A TELA
Não se faz EaD simplesmente mudando as aulas presenciais para o ambiente virtual.
3) NÃO GARANTE A APRENDIZAGEM
EaD é uma forma para quem já faz ou fez algum curso desta forma. Por isso a falta de aulas presenciais vai prejudicar a qualidade da educação.
4) NÃO ATENDE A MAIORIA DA POPULAÇÃO
Apenas 42% das casas têm computador e quanto menor a renda, mais difícil o acesso. Ou seja, a maior parte dos(as) estudantes não terão acesso às aulas.
5) AUMENTA AS DESIGUALDADES
Se apenas parte dos(as) estudantes terão acesso, isso vai gerar ainda mais desigualdade no acesso à educação. Os(as) mais pobres, novamente, serão os(as) mais prejudicados(as).
6) OS(AS) PROFESSORES NÃO RECEBERAM FORMAÇÃO PARA ATUAR NA EaD
A maioria dos(as) nossos(as) professores(as) não foram preparados(as) para atuar na educação a distância. Portanto, não estão aptos(as), assim como os(as) estudantes, para essa proposta.
7) A ESTRUTURA DAS ESCOLAS É PRECÁRIA
Muitas escolas não possuem sequer acesso à Internet.
8) NÃO É ADEQUADO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO
As crianças precisam desenvolver autonomia, capacidade de concentração e autodisciplina e isso só é possível na escola.
9) NÃO RESPEITA A COMUNIDADE ESCOLAR
A imensa maioria dos(as) estudantes não têm recursos necessários para realizar as atividades a distância. Implantar EaD é desrespeitar professores(as), funcionários(as), pais, mães, responsáveis e, principalmente, os(as) nossos(as) estudantes.
10) É UM RISCO PARA A PRIVACIDADE DAS PESSOAS
A gratuidade de aulas online, por exemplo, costuma esconder modelos de negócio em que o lucro das empresas vem da exploração dos dados de seus(suas) usuários(as) para, com isso, ofertar produtos e serviços.