Mídia ataca professores(as) para defender privatização da escola pública, revela estudo da Unicamp

Mídia ataca professores(as) para defender privatização da escola pública, revela estudo da Unicamp

Pesquisadora analisou mais de 1.300 textos publicados em jornal paulistano e relata ter ficado surpresa com a grosseria utilizada nos textos para influenciar a opinião pública

Foto: Luiz Damasceno / APP-Sindicato

Entre as narrativas utilizadas para influenciar a opinião pública a apoiar a privatização das escolas públicas, a mídia brasileira adota posturas reiteradas de desqualificação do sistema público de ensino e ataques aos professores(as). A conclusão faz parte de um estudo realizado pela doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Thais Rodrigues Marin.

A pesquisadora analisou mais de 1.300 artigos de opinião e editoriais publicados pelo jornal Folha de S.Paulo, entre 2005 e 2020. Em entrevista para o Jornal da Unicamp, relatou que já esperava se deparar com o discurso privatista, mas ficou surpresa com o tom e o modo como isso aparece nos textos. 

“São recorrentes as expressões exageradamente negativas, catastróficas e mesmo grosseiras para caracterizar a educação pública, tais como ‘tragédia’, ‘desastre’, ‘fracasso’ e ‘mediocridade’. Fiquei impressionada, pois não esperava encontrar esse tipo de registro em um dos veículos mais importantes do país, principalmente nos editoriais, porque esses deveriam abordar o debate político de modo mais qualificado e menos espetacularizado,” disse.

O estudo utilizou a metodologia de análise de conteúdo categorial, para classificar as temáticas que se repetiram nos textos ao longo do período analisado. A pesquisadora identificou seis narrativas, direta ou indiretamente, favoráveis à privatização da educação.

A desqualificação da educação pública e a consequente necessidade de reformar o sistema é a primeira delas e também a mais expressiva, explica a autora do estudo. A segunda narrativa explora a ideia de que não faltam recursos, mas sim eficiência na gestão do Estado. 

Já a terceira mira os professores da escola pública, desqualificando os docentes ao descrevê-los como acomodados, malformados e corporativistas. “Esse discurso coloca o professor como inimigo e nega sua condição de trabalhador”, afirmou.

Na sequência aparecem as avaliações educacionais, os indicadores utilizados para responsabilizar, premiar ou punir os professores  pelos resultados, desconsiderando os problemas estruturais, sociais e políticos que também afetam o processo educativo. 

A defesa das parcerias educacionais com instituições privadas surge como a quinta narrativa identificada nos textos, colocando os atores não estatais como supostamente mais capazes de oferecer soluções e importantes para melhorar a qualidade da educação.

A sexta e última narrativa atribui à escola a responsabilidade pela superação das desigualdades sociais e o desenvolvimento econômico do país. Segundo a pesquisadora, esse discurso “é a teoria do capital humano alinhada ao discurso neoliberal”, defendendo que a suposta má qualidade da educação seria a causa da perpetuação de desigualdades e do enfraquecimento da economia do país.

Marin avalia que essas narrativas contribuem para endossar, legitimar e consolidar uma opinião pública favorável aos processos e práticas de privatização das escolas públicas, pois considera que a repetição vai tornando esse discurso hegemônico, como se fosse a verdade.

“Essa é a grande história que se conta sobre a educação básica pública brasileira e que ganha esse caráter de verdade, de prova concreta. Em editoriais, que seriam a voz do próprio jornal, ou ao dar espaço para autores de artigos, a mídia não está só relatando a história. Ela transforma-se em um ator que participa dessa história”, afirmou.

Ao chamar a atenção para um fenômeno que não atinge apenas o Brasil, mas tem escala global, além de desmistificar as ferramentas de atuação das empresas interessadas em abocanhar os recursos públicos da educação, a pesquisadora destaca que a disputa política é também discursiva, sobre os modos de se pensar a realidade e pautar a agenda política.

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Educação não é mercadoria

No Paraná, a agenda privatista na rede estadual de ensino teve grande impulso após a posse do governador Ratinho Jr. e do empresário Renato Feder como secretário da Educação, em 2018. Apesar das denúncias frequentes apresentadas pela APP-Sindicato, na maioria das vezes o tema é ignorado pela imprensa local ou reportado com visível apoio à narrativa privatista.

São inúmeras as iniciativas implantadas pela dupla para destinar verbas públicas da educação a empresas privadas. O uso de plataformas digitais que tiram a autonomia pedagógica dos(as) professores(as) e ações para manipular o ideb estão no centro desta política.

O fechamento de turmas e turnos de ensino noturno, da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e a militarização de escolas estão entre as maldades. As ações incluem ainda atos administrativos de perseguição, punição e retirada de direitos dos(as) educadores(as) e terceirização dos cargos dos(as) funcionários(as) de escola. 

A entrega da gestão de unidades de ensino para empresas privadas também já está presente na rede estadual através de um projeto piloto. Recentemente, o governador enviou um projeto de lei para a Assembleia Legislativa, indicando que pretende aumentar esse modelo no estado.

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Agenda de lutas

Fazendo o enfrentamento dessas articulações que visam o desmonte da escola pública, professores(as) e funcionários(as) de escola de todo o Paraná aprovaram a agenda de lutas e a pauta da campanha salarial da categoria para este ano. 

>> Confira as pautas da Campanha Salarial 2024

No próximo sábado (13), a categoria volta a se reunir em assembleia estadual para definir novas estratégias da luta coletiva em defesa da escola pública, por direitos, salário e condições de trabalho. A assembleia está marcada para início às 8h30 na AABB de Curitiba.

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