30 DE AGOSTO: MEMÓRIA E RESISTÊNCIA
Há 30 anos professores(as) e funcionários(as) de escola sofreram um massacre na Frente do Palácio Iguaçu e Assembleia Legislativa. O dia era 30 de agosto e seria reconhecido pelos professores e funcionários da educação pública do Paraná como dia de luto e luta.
Nesse tempo temos marcado a data com mobilização e paralisação da categoria, para que nunca se esqueça, principalmente para que aqueles e aquelas que chegam hoje para trabalhar nas escolas tomem dimensão da importância da luta – sempre desafiadora, travada pelos(as) que os(as) antecederam.
Walter Benjamin (sociólogo alemão, 1892-1940) tinha uma compreensão interessante sobre a temporalidade. Benjamin era um crítico contundente da modernidade imposta pelo capitalismo e das suas formas totalitárias, em especial, o nazismo. Em a Origem do Drama Barroco Alemão (1984) e Sobre o Conceito de História (1994), Benjamin indica que as ruínas trazem potencialmente a áurea de atualizar o tempo passado. Assim, ao serem visitadas por qualquer um de nós, necessariamente elas passam por um processo de ressignificação. Desta forma, o passado estampado nas ruínas é atualizado e modificado, trazendo outras compreensões para o tempo presente que também modifica-se, o que traz novas possibilidades para o futuro. Trata-se de uma reflexão não cronológica e de múltiplas interações entre as temporalidades e de libertação do passado de suas próprias amarras temporais.
Substituindo as ruínas pelo processo de memória, esta assume importância fundamental no processo de libertação, pois é capaz de lançar sobre o passado a áurea necessária para ressignificá-lo e atualizá-lo. Não por menos que os ideólogos do neoliberalismo insistem no fim da história, de morte à memória, para que ela não possa libertar o próprio humano. Nesse sentindo, o incêndio ocorrido no Museu Nacional no Rio de Janeiro foi produto do descaso, que para além de queimar obras importantíssimas, joga às cinzas nossa memória e a possibilidade de ressignificar nosso tempo atual.
Nesse tempo de 30 anos, nós da APP-Sindicato temos insistido em fazer memória do que ocorreu naquele 30 de agosto de 1988, exatamente porque temos a compreensão de que ao fazermos isso, atualizamos o que foi a ação brutal da polícia a mando do governador Álvaro Dias, esse mesmo que agora quer ser Presidente, que jogou seus cavalos e bombas sobre os(as) professores e funcionários(as) de escola. Patas de cavalos, cassetetes e bombas anunciaram a barbárie que governos promovem para calar manifestantes, e disto não esquecemos jamais e fazemos memória como forma de atualizarmos o passado, demonstrando a esse tempo presente a necessidade da resistência como o caminho da luta sindical. E ainda que barbáries insistam em acontecer de novo, como foi o 29 de abril de 2015 no governo Beto Richa, alimentados pela memória do que foi o 30 de agosto, resistiremos e não nos calaremos. Até que estejamos livres dos algozes que insistem em matar nossas memórias, por que eles – os algozes, sabem que delas surgirá a nossa resistência e esperança na superação de todas as violências.
Hermes Silva Leão
Presidente da APP-Sindicato