Escritora Maria Fernanda Ampuero | Equador | APP-Sindicato

Maria Fernanda Ampuero | Equador


Não existe pecado ao sul do equador (Chico Buarque)

Não existe pecado do lado de baixo do equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor
Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo
Que eu sou professor […]

 

Ao falar do Equador, a primeira coisa que se pensa é na Linha do Equador e, depois, para quem gosta de música, é esse frevo caliente (texto acima) de Chico Buarque (1973), que surgiu da leitura de um dos livros de seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, onde há uma interessante análise do que acontece abaixo da Linha do Equador, terras  que seriam, segundo a visão colonizadora, destinadas à luxúria, ao pecado ou, simplesmente, à liberdade. 

Equador é um país andino localizado ao norte da América do Sul. Junto com o Chile, são os únicos que não fazem divisa com o Brasil. Sua capital Quito, considerada Patrimônio Histórico Mundial pela Unesco, fica na divisão perfeita dos hemisférios norte e sul, por isso também é chamada de cidade do “meio do mundo”. É a segunda maior do país,  com algo próximo a 2 milhões de habitantes que, no último censo oficial do país, tem 82,8% da população que se considera mestiça. A capital é repleta de monumentos históricos e belíssimas   igrejas barrocas, havendo em uma única rua, conhecida como La Calle de las trece cruces, 13 delas. 

Já Guayaquil, com aproximadamente 2,750 milhões de habitantes, é a  maior cidade do Equador. À beira mar, extremamente quente, tem uma localização   estratégica para o ingresso de milhares de turistas no Arquipélago de Galápagos, litoral sul do país.  Lá também fica o famoso  Estádio Monumental Isidro Romero Carbo, que sempre sedia jogos da Libertadores e da Copa  Sul-Americana.  Porém, a cidade tem vivido ondas de violência em larga escala, já que é uma zona portuária e o narcotráfico dessa região da América do Sul tem utilizado seus portos para contrabando de drogas. 

O país nem sempre foi conhecido por esse nome. Primeiro, foi território Inca, depois fez parte da Grã-Colômbia (Colômbia, Peru e Venezuela) até 1830, quando houve sua independência definitiva e passou a se chamar Equador por se encontrar no ponto zero da famosa linha imaginária do Equador que separa os hemisférios norte e sul. Em Quito, dependendo de onde você se encontra, de manhã está no norte e, à tarde, no sul.  

As principais riquezas do país são cacau, petróleo, banana, flores e café. Os famosos chapéus Panamá, ao contrário do que se pensa, são originários do Equador e lá se encontram as principais e mais tradicionais fábricas dos mesmos. Outra curiosidade é que, diferente de outros países sul americanos, a moeda corrente do país é o dólar americano. 

Equador tem nomes importantes nos campos da medicina, matemática, esportes, engenharia e também na literatura, sobretudo pela persistência em se resguardar uma das principais línguas nativas, o quíchua, proibida de ser usada durante a colonização espanhola. Jacinto Collahuazo, chefe ameríndio, foi o precursor da literatura no país no século XVIII.  

O país não tem muitos nomes reconhecidos internacionalmente na literatura, mas produz excelentes narrativas que ficam mais restritas aos países de língua hispânica. Exemplo disso é a escritora Maria Fernanda Ampuero que estampa nossa agenda de 2023, em junho. Mas, quem é essa mulher? 

Sobre a escritora:  

Maria Fernanda Ampuero estudou na Universidad Católica de Santiago de Guayaquil, é jornalista e escritora. Declaradamente feminista, é defensora dos direitos das mulheres por conhecer de perto o horror e a dor que meninas e mulheres enfrentam.

Em 2004, foi para a Espanha para narrar a vida dos imigrantes equatorianos que lá viviam e acabou ficando no país. Durante uma década, escreveu vários artigos sobre esse assunto para revistas latinas e europeias. Mais tarde, vários artigos foram compilados e lançados em dois livros, Lo que aprendí en la peluquería (2011) e Permiso de residencia (2013). 

Em 2012, foi selecionada como uma das 100 personalidades latinas mais influentes da Espanha. Atualmente, é uma das escritoras latinoamericanas mais importantes e citadas, de acordo com a revista Gatopardo. 

Sobre suas obras: 

Sua escrita é maravilhosa, empoderadora e, ao mesmo tempo, cutuca feridas profundas. Seus textos misturam o horror e o fantástico. É conhecida por construir narrativas curtas e concisas, que transbordam brutalidade. 

Temáticas como a infância corrompida, a destruição da inocência, a violência de homens contra mulheres e crianças, de certa forma, nos remetem ao universo de Dalton Trevisan, que é repleto de estupradores e pedófilos. Assim como o Vampiro de Curitiba, Fernanda explora o ambiente familiar como espaço de horror, medos e violências inimagináveis; debruça-se sobre o horror cotidiano enfrentado por meninas e mulheres ao redor do mundo.

A narrativa de María Fernanda Ampuero envolve a ficção e a não-ficção. Seus trabalhos já foram publicados em vários idiomas como em inglês, francês, chinês, dinamarquês, alemão, português e italiano. 

Sua publicação de 2018, Pelea de Gallos, foi um dos dez livros do ano do The New York Times en Español e já foi traduzido para vários idiomas. Inclusive, recebeu o prêmio Joaquín Gallegos Lara 2018 como melhor livro de contos do ano. 

Sobre Imigrantes, vale a leitura do texto da autora na Revista Piauí


Principais obras: 

Lo que aprendí en la peluquería (2011)
É uma seleção de crônicas não ficcionais sobre o machismo, as relações pessoais e as dificuldades que as mulheres enfrentam na sociedade e sobre os problemas econômicos e sociais que os imigrantes equatorianos enfrentam em outros países, sobretudo na Espanha. 

Permiso de residencia (2013)
Segue a mesma linha do anterior, trazendo artigos sobre os problemas dos imigrantes equatorianos;

Rinha de Galos (2018)
Alcançou notoriedade mundial, sendo eleito pela revista New York Times como o melhor livro de ficção do ano. 

Sacrifícios humanos (2021)
É uma espécie de continuação de Rinha de Galos, onde os personagens são sacrificados em suas vidas cotidianas. Personagens marginais vítimas de ódio, hostilidades, preconceitos e violências múltiplas praticados por “demônios vizinhos”. 

Fragmento da obra: 

Certa noite, a barriga de um galo estourou enquanto eu o carregava nos braços como se fosse uma boneca, e descobri que aqueles homens tão machos que gritavam e atiçavam para que um galo rasgasse o outro de cima a baixo tinham nojo da merda, do sangue e das vísceras do galo morto. Assim, eu passava essa mistura nas mãos, nos joelhos e no rosto, e eles pararam de me importunar com beijos e outras idiotices. Diziam ao meu pai: “sua filha é um monstro.” (p. 10)

Nos treze contos de Rinha de galos, o leitor tem 13 pesadelos diferentes com situações que vão do abuso sexual à violência psicológica contra a mulher. Apesar da frieza na narrativa de horrores, a escritora é brilhante em construir personagens e abordar medos, traumas e paixões com maestria. 

REFERÊNCIA:  AMPUERO,María Fernanda. Rinha de Galos. Belo Horizonte: Moinhos, 2021.


Acompanhe a escritora em suas redes sociais:

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Face Maria Fernanda Ampuero


DICAS PARA TRABALHO EM SALA DE AULA: 

As riquezas de mais esse país vizinho podem ser trabalhadas em várias disciplinas da Base Comum. Listamos abaixo algumas sugestões que podem enriquecer o trabalho em sala de aula.

>> História

Até a chegada dos incas, os habitantes da região viviam em clãs e tribos, como os membros da Cultura Las Vegas (11.000a.C.). No século 15, porém, os incas chegaram ao local, enfrentando resistência e dando início a uma guerra sangrenta. Os espanhóis desembarcaram no Equador justamente em meio a essa guerra, em 1531. Eles atacaram os incas e em pouco tempo conseguiram capturar o imperador inca. A partir disso, colonizaram o Equador até 1822, quando a população se rebelou e se uniu à Grã-Colômbia, república sonhada e fundada por Simón Bolívar, na qual permaneceu até 1830.

Assim como outros países da América do Sul, o Equador também teve um golpe militar passando por um regime ditatorial de 1972 a 1979.

Guerras territoriais na América hispânica, infelizmente, foram comuns entre os países andinos.  O Equador guerreou com o Peru duas vezes por disputas territoriais: a Guerra de Paquisha (1941-1942) e a Guerra do Cenapa (1995), esta supersônica.

Saiba mais:
Perfil do Equador 
Grande Colômbia
Grã-Colômbia, o sonho de Simón Bolívar
Guerra do Cenepa
Las Vegas
A cultura pré-cerâmica de Las Vegas na costa do Equador
Golpe no Equador

>> Geografia

Linha do Equador 

Em Quito, há, na verdade, três linhas do equador:
– A primeira,  registrada pelo povo quitu (pré-incaico), fica no topo do morro Catequilla, e foi calculada pelas estrelas;
– A segunda, na Ciudad del Medio del Mundo (1979), um parque criado após as pesquisas feitas entre 1734 a 1744 pela  Academia Francesa de Ciências;
– E a terceira, a 240  metros da linha amarela do parque, determinada pelo GPS.

Saiba mais:
Cidade de la Mitad del Mundo
A divertida história da Linha do Equador
Linha do Equador: como povos pré-incas podem ter descoberto marco muito antes dos ocidentais

Vulcões 

O Equador possui “apenas” 22 vulcões, sendo 20 deles na ativa. Encontra-se no chamado Círculo de Fogo, região de maior instabilidade tectônica do mundo.
É possível  conhecer bem de perto muitos desses vulcões e até aproveitar as águas termais que são aquecidas por eles, como na cidade de Baños.
O terremoto mais forte do país ocorreu em 2016, com 7.8 pontos na escala Richter, causando 700 vítimas fatais.

Saiba mais:
Círculo do Fogo do Pacífico
Círculo do Fogo do pacífico e os terremotos
Vulcões no Equador

>> Biologia / Ciências

Arquipélago de Galápagos
Um dos pontos turísticos mais cobiçados do Equador, este arquipélago ficou famoso pelas observações e  pesquisas do inglês, Charles Darwin, durante sua expedição no navio Beagle (1832-1836) que culminou com a publicação do livro A origem das espécies (1859).

Saiba mais:
Arquipélago de Galápagos
Ilhas Galápagos são anexadas ao Equador
Ilhas Galápagos

Darwinismo
Após sua visita a Galápagos, a cabeça de Charles Darwin fervilhou diante do espetáculo natural que o lugar lhe proporcionou e, alguns anos depois, formulou uma teoria acerca da evolução das espécies que ficou também conhecida por Darwinismo.

Saiba mais:
Seleção natural
Darwin, evolução e seleção natural
Como ocorre a seleção natural?

Observatório Astronômico de Quito
O mais antigo observatório da América do Sul encontra-se em Quito e foi fundado em 1873. O Observatório Astronômico de Quito oferece um serviço de telescópio virtual à comunidade, além de cursos básicos de astronomia.

Saiba mais:
Observatório de Quito telescópio virtual

>> Química / História

Petróleo
Em 1967, jorrou o primeiro poço de petróleo no Equador. De lá para cá, o combustível foi responsável por alavancar a economia do país. Porém, a conta está chegando para diversas regiões do país que estão apresentando vários problemas ambientais.

Saiba mais:
A mancha do ‘boom’ petroleiro no Equador
Petróleo: o que é e para que serve?

>> Arte

O Passillo é a música de sofrência equatoriana. Suas letras são recheadas de amores não correspondidos, traições e por aí afora.

Saiba mais:
Passillo

Oswaldo Guayasamín é tido como o pintor da humanidade. Suas obras, com traços fortes,  impactam até os mais durões pelas temáticas retratadas.

Saiba mais:
Oswaldo Guayasamín

>> Português / Espanhol

A literatura equatoriana, com forte influência dos hermanos argentinos e chilenos, vem se tornando referência nos países hispânicos, mostra um enriquecimento cultural e literário do país. Há obras essenciais para se conhecer a literatura equatoriana.

Acesse o link e confira:
10 grandes obras literárias

Luz Argentina Chiriboga Guerrero: escritora, poetisa, cronista e linguista equatoriana que se destaca por discutir os direitos humanos, sobretudo das mulheres negras e a cultura afroamericana.

Saiba mais:
Luz Argentina Chiriboga Guerrero
Luz Argentina Chiriboga Guerrero – Equador
Tambores en Luna

>> Educação física

Ecuavoley
O futebol é, sem dúvida, o principal esporte equatoriano, mas há um outro que também é bem popular por lá e que pra nós, é desconhecido: o Ecuavoley

Saiba mais:
Ecuavoley
Regras Ecuavoley

>> Filosofia / Sociologia

O Buen Vivir pode ser compreendido  como filosofia fluida de vida, que tem origem nos  povos Andinos, pois houve a consagração da natureza como sujeita de direitos na Constituição do Equador em 2008. Essa filosofia, entre outras discussões, faz uma crítica contumaz com relação ao tecnológico da humanidade em detrimento da natureza. Há quatro fundamentos que guiam o Buen Vivir: princípio da interrelação, princípio da complementaridade, princípio da correspondência e princípio da reciprocidade.

Saiba mais:
Buen Vivir
Filosofia Buen Vivir
O Buen Viver
Museu da Imigração


DICAS DE FILMES:

Veja algumas dicas de produções de filmes do Equador (clique aqui)


DICAS DE BANDAS E MÚSICAS:

Confira a seleção musical (aqui)


IMAGENS DO EQUADOR (clique aqui)

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