Durante a greve geral da Educação Pública no Paraná, o termo “baderneiros”, foi bastante pronunciado. Nos dias 10 e 12 de Fevereiro, por ocasião das duas ocupações da Assembleia Legislativa do Paraná, esse adjetivo foi utilizado por várias autoridades. Porém, popularizou-se entre os manifestantes por conta da fala do governador Beto Richa(PSDB) nas entrevistas que concedeu na noite da segunda ocupação. Ele disse ele que, por conta de alguns “baderneiros” havia acontecido a ocupação e que ele pretendia não deixar que ninguém corresse riscos, inclusive os deputados e deputadas, referindo-se à retirada dos projetos de lei do chamado “pacotaço”! Ocorre que o governador não avaliou que pelo menos 20 mil pessoas participaram da segunda ocupação e que ninguém havia oferecido qualquer risco, ao contrário, vários educadores e educadoras foram feridos pelos excessos das forças de repressão do estado, inclusive com mordida de cães ferozes utilizado na repressão.
Outro dia, participando de uma reunião onde estava presente Doutor Rosinha, que é um dos homens mais cultos que conheço, leitor contumaz, especialmente da história brasileira, falou sobre Maria Baderna, em seguida o Deputado Estadual Professor Lemos(PT), sugeriu que eu escrevesse um artigo sobre essa personagem, praticamente desconhecida da história oficial brasileira.
Desafio aceito, vamos a algumas pinceladas da biografia da mulher que deu nome aos baderneiros de sempre.
Marietta Maria Baderna (1828-1870), foi uma talentosa bailarina italiana que começou a carreira muito jovem em Milão, tendo dançado em cidades como Londres e Paris, veio com o pai ao Rio de Janeiro, em 1849, exilando-se os dois por perseguição política na Itália ocupada de então.
Não demorou para que a artista se tornasse bastante popular em apresentações no Teatro São Pedro Alcântara. Começou a reunir uma legião de fãs em torno de si, especialmente entre os jovens da então capital imperial. Eram grupos barulhentos e costumavam bater forte os pés no chão quando a estrela aparecia, em vista disso, começa a surgir a palavra baderna/baderneiros.
Há registros também de que, certa vez, tendo havido atrasos de pagamentos da companhia de danças, Maria Baderna organizou uma greve e promoveu agitações que foram identificadas como: “da turma da Baderna e seus baderneiros”!
De espírito livre, contestador e sagaz, logo Baderna viria a se encantar com ritmos de dança de origem africana, como o lundu, que passara a inserir nas apresentações de dança clássica, começou a provocar o conservadorismo na sociedade escravista de então. Além disso, consta que a artista gostava de cantar e beber em grupos, o que passou a provocar o moralismo presente na sociedade carioca de então, pois não se tolerava esse comportamento por parte das mulheres numa sociedade machista tão marcada por essa cultura até os dias de hoje.
Consta que por volta de 1857, Maria Baderna voltou para a Europa com seu pai, sua carreira entra em decadência e veio a falecer em 1870.
A musa inspiradora dos baderneiros do século XIX foi biografada no livro “Maria Baderna, a Bailarina de Dois Mundos”, de autoria de Silverio Corvisieri, ex-deputado do Partido Comunista Italiano. Para o autor, Maria Baderna é o retrato de uma autêntica heroína que, por trás de sua atividade de dançarina, conspirou e enfrentou todo tipo de perigo por seus ideais revolucionários.
No Paraná dos tempos presentes, o governador instigou os milhares de educadores e educadoras, a assimilar o termo adjetivando “Baderneiros e Baderneiras” de forma positiva. Tomaram esse termo como sinônimo de disposição de luta e resistência, num retorno aos jovens de Maria Baderna. Em resposta afirmativa a essa provocação do governador se vê pelo Paraná várias camisetas trazendo expressões como “Je suis baderneiro”, ou “somos todos baderneiros”.
Somos mesmo, seguidores da inconformada e insubmissa Maria Baderna.
Artigo publicado no Site Notícias Paraná.