Mais um caso “isolado”: empresário ataca trabalhador com ofensas racistas e xenófobas em Curitiba

Mais um caso “isolado”: empresário ataca trabalhador com ofensas racistas e xenófobas em Curitiba

O caso foi registrado na Central de Flagrantes da Polícia Civil do Paraná (PC-PR); Confira a repercussão

Foto: Reprodução

No último fim de semana, circulou nas redes sociais um vídeo onde um cliente ataca o frentista Juan Pablo de Castro com insultos racistas. Além do trabalhador, o suspeito, identificado como Marcelo Francisco da Silva, também desferiu ofensas preconceituosas ao operador de caixa do estabelecimento.

O caso foi registrado na Central de Flagrantes da Polícia Civil (PC-PR) ainda no sábado. De acordo com o delegado Nasser Salmen, do 7º Distrito Policial, um inquérito foi instaurado nesta segunda-feira (16).

Em nota enviada à RPC, o advogado Igor José Ogar, que defende as vítimas, afirmou que vai pedir para o suspeito ser indiciado por injúria, injúria racial e xenofobia. Afirmou, também, que pedirá a prisão do homem.

Já o deputado estadual e presidente da Comissão de Igualdade Racial da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), deputado Renato Freitas (PT), disse que o órgão vai acompanhar o caso para garantir que o suspeito seja responsabilizado.

Repercussão do caso

Com o vídeo, que tomou proporção nacional, Curitiba mais uma vez estampa as manchetes dos jornais de todo o país por conta de um caso de racismo.

Somente em 2023, a Secretaria de Estado Segurança Pública (Sesp), de janeiro a outubro de 2022 o Paraná registrou 1.170 ocorrências de injúria racial e 148 de racismo. Já na capital, foram registrados 224 casos de Injúria Racial e 44 casos de racismo.

Assim como Juan, o estudante de direito Angelino Cassova, de 32 anos, que é cadeirante, foi atacado em junho, por uma passageira em um ônibus do transporte público de Curitiba. De acordo com o estudante, a suspeita reagiu com a resposta “To numa floresta agora?”, em uma tentativa de associar pessoas negras a macacos.

Já a professora Isabel Oliveira, em forma de protesto, ficou de roupas íntimas em um mercado após ser perseguida por seguranças.

Em ambos os casos, o que chamou a atenção foi o despudor dos suspeitos frente às câmeras. Os casos ainda seguem nas mãos da Polícia Civil.

A secretária de Combate ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial da APP, Celina Wotkoski, ressalta que assistiu ao vídeo com revolta e que não é tolerável que casos de racismo sejam naturalizados em Curitiba.

“É muito revoltante. Até quando um trabalhador ou uma trabalhadora em seu local de trabalho serão desrespeitados? Indiferente de sua idade, da sua classe social, raça ou gênero, os trabalhadores devem ser respeitados. Justiça seja feita”, completa Celina.

Enquanto as investigações sobre o caso seguem, figuras públicas declararam sua indignação contra o caso. Confira algumas das reações:

 

 

 

 

 

O Brasil é um país racista?

A última pesquisa realizada pelo instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), intitulada “Percepções sobre o racismo no Brasil”, aponta que 51% dos(as) brasileiros(as) já presenciou um ato de racismo e seis em cada dez pessoas (60%) consideram que o Brasil é um país racista. Outros 21% concordam em parte com essa visão.

O estudo tem abrangência nacional e compreendeu 127 municípios das cinco regiões do país. As entrevistas com os(as) participantes foram feitas ao longo do mês de abril.

Embora compreendam a gravidade do problema, apenas 65% concordam totalmente (57%) ou em parte (8%) com a criminalização do racismo no país. Outro dado ainda mais chocante é em relação à percepção de atitudes racistas.

Enquanto os dados apontam ampla consciência da população sobre o problema crônico do racismo, somente 11% da amostra reconhecem ter cometido algum ato racista e 10% afirmam trabalhar em instituições racistas. 

O dado exemplifica a contradição em que a população reconhece a presença do racismo, mas não leva em consideração atos racistas no próprio cotidiano, identificando o racismo como um ato individual, feito apenas em forma de ofensa verbal.

Celina salienta que a real aplicação do ensino da história afro-brasileira e africana a partir da lei 10.639/03 tem o poder de modificar esse quadro. 

“A educação sempre terá o poder de mudar o status quo em nossa sociedade. A desconstrução do racismo perpassa as escolas, onde nós, educadores(as), temos o poder para garantir que uma sociedade justa para todas(os) seja construída”, finaliza a secretária.

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