Machismo mata: professora é assassinada pelo companheiro

Machismo mata: professora é assassinada pelo companheiro


APP-Sindicato reitera: é preciso sim debater as questões de gênero na escola

Pranchita amanheceu nublada nesta sexta-feira (24). O tempo fechado, entretanto, não descreve apenas as condições climáticas da pequena cidade no sudoeste do Paraná, mas também o sentimento de tristeza que paira sobre a população.

 

Na noite dessa quinta-feira (23), a professora Eliani Ivete Lampert foi morta a facadas. O autor do crime foi o marido, Alberi Junkes. A morte da educadora aconteceu uma semana depois do assassinato da funcionária de escola Maria Terezinha Leite, em Pinhão. Em comum, além da profissão, a proximidade afetiva com o agressor: o assassino de Maria Terezinha foi Laertes Camargo de Freitas, ex-companheiro da vítima.

 

Os casos aconteceram um mês após a categoria enfrentar uma intensa discussão sobre questões de gênero. O debate sobre a aprovação dos Planos Estaduais e Municipais de Educação previa a inclusão de temáticas como combate ao machismo, racismo e homofobia no cotidiano. “Nós precisamos ensinar às nossas crianças o respeito e que as pessoas devem ser respeitadas como são. A educação tem papel fundamental neste debate, pois ela desconstrói essa cultura machista”, defende a secretária de Gênero, Relações Étnico-Raciais e Direitos LGBT da APP-Sindicato, professora Elizamara Goulart Araújo.

 

Tanto no âmbito nacional quanto em várias esferas municipais as chamadas ‘questões de gênero‘ foram suprimidas dos documentos que nortearão a educação pública nos próximos 10 anos. “Esses crimes nos atingem em cheio. Quando lutamos para que o debate sobre gênero fosse incluído na lei para que casos como esse não continuassem acontecendo. A legislação dá amparo e recursos para incluir o debate sobre a diversidade no planejamento pedagógico”, explica a professora ao salientar que ações de igualdade impactam não só nos alunos(as), mas também nas famílias das crianças e adolescentes da rede pública. “Há uma cultura de aceitação da violência que precisa ser quebrada. Infelizmente, trabalhamos com a punição, não com a prevenção”, avalia.

 

Eliani participou das lutas recentes da APP durante a greve e defendeu bravamente os direitos da categoria. Uma das conquistas da greve impactou diretamente na vida da professora: Eliani foi um dos(as) 463 educadores(as)   nomeados(as), após aprovação no último concurso. Há pouco mais de dois meses a educadora assumiu o cargo de pedagoga da Escola Interventor de Santo Antônio do Sudoeste. “Estamos todos muito sensibilizados. Agora precisamos investir em ações para o combate a esse tipo de crime pois, infelizmente, vivemos em um país machista. Esse sentimento de posse, de ciúmes, de apego precisa ser tratado em todas as esferas da sociedade, inclusive na escola”, comenta a dirigente sindical de Francisco Beltrão, professora Suzette Polga.

 

Alberi se suicidou após matar Eliani. O casal deixa dois filhos gêmeos de 12 anos. Eliani deixa também um outro legado: a luta pelo respeito à mulher. O velório acontece durante essa sexta-feira, na Capela mortuária de Pranchita.

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