Leonardo Boff fala sobre a solidariedade e o valor da vida humana em tempos de pandemia APP-Sindicato

Leonardo Boff fala sobre a solidariedade e o valor da vida humana em tempos de pandemia

Companheiro, militante das causas sociais, intelectual brasileiro compartilhou suas contribuições para a formação do ser humano

Foto: Divulgação

A APP-Sindicato fez um bate-papo com o teólogo brasileiro, escritor e professor da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), Leonardo Boff, nesta segunda-feira, dia 15 de junho. As secretárias de Organização e Geral do Sindicato, Tereza Lemos e Vanda do Pilar Santana, pontuaram alguns temas e questionamentos que a comunidade escolar tem sobre a solidariedade e o papel da educação nesse contexto. Confira a troca de informações para o aprendizado mútuo.

Leonardo Boff afirmou que o vírus caiu como um raio em cima do capitalismo e do neoliberalismo. “O capitalismo tem como base o lucro, a competição, sem nenhuma cooperação, o individualismo, as teses fundamentais de diminuição do Estado, colocar o mercado no centro, privatizar o que pode e a falta total de solidariedade”.

Para ele, a grande discussão mundial aborda a medicina, as técnicas, uma vacina, o acompanhamento dos(as) afetados(as) com o isolamentos social e o uso das máscaras, pontos que são fundamentais. Porém, não se pode deixar de lado a natureza, pois o vírus veio dela.

ONU declara o dia 22 de abril como Dia Internacional da Mãe Terra – “Sustento uma tese com dois lados, a natureza e a terra são vivas. A terra é pequena e tem bens e serviços limitados. Como humanidade também somos vivos e fomos nós que agredimos durante séculos a terra e a natureza. Quebramos o pacto natural de tudo o que precisamos para viver. No pacto de mutualidade, ela nos dá tudo e nós deveríamos dar cuidado, mas não fizemos e a agredimos. Chegou um ponto de reação, da sobrecarga da terra. A terra entrou no sinal vermelho – o coronavírus, que é uma arma invisível. Só sairemos bem dessa crise se renovarmos o pacto natural terra e humanidade.

Somos seres de solidariedade, colocar-se no lugar do outro. A grande crise hoje não é econômica, política, ideológica e religiosa, é a absoluta ausência de solidariedade com os seres humanos. A solidariedade hoje se exilou da cidade e foi morar na periferia. Temos que incorporar a solidariedade não como um ato pontual, mas como uma atitude contínua. Isso nos faz humanos e nos aproxima dos outros”.

APP-Sindicato: Como relacionar a escola e a educação nesse cenário?

LB: A educação se dá pela vida afora, vivendo e trocando. Mas a escola tem uma função importante, cria a arquitetônica do saber – aprender a conhecer aquilo que a humanidade acumulou, aprender a pensar, pois não basta só conhecer. É importante que as pessoas sejam diferentes, assim como a natureza, mas temos que aprender o cuidado. Na educação deve entrar esse cuidado com a natureza e junto com a solidariedade uma ética em cada ser. Junto com a inteligência intelectual que a escola tanto aprofunda, temos que incorporar a inteligência cordial, sensível e do coração.

APP-Sindicato: Por uma educação humanizadora e em defesa da vida é o nosso manifesto. 

LB: O centro de tudo não é o lucro, é a vida. A vida em sua imensa biodiversidade. Temos que incorporar uma responsabilidade socioecológica. A próxima civilização deve ser biocentrada, que aprofunda o viver em harmonia com a natureza.

APP-Sindicato: O desafio de construir uma sociedade solidária como fica?

LB: Nós somos vítimas da cultura do capital e em contraposição a tudo isso temos a cultura da solidariedade, do cuidar. Vamos ter que aprender a solidariedade porque seremos colocados em tal situação que teremos que repartir por matemática. Temos que tirar a lição de defender a centralidade da vida, com corresponsabilidade. Toda passagem de uma cultura a outra é demorada, mas, podemos começar com as crianças.

Para refletir com Leonardo Boff:

– O que conta agora não é o lucro; é a vida. O que vale mesmo não é a competição; é a solidariedade. É a interdependência de todos com todos. Os cuidados que devemos ter uns com os outros. São esses os valores que estão salvando as vidas.

– Qual é a nossa relação com a natureza agora que estamos num retiro forçado? Pela primeira vez toda a humanidade foi afetada. É hora de mudar de comportamento. Para isso, temos que ter solidariedade, em primeiro lugar com a mãe terra.

 

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