Na sequência da agenda de lançamentos do livro “A Resistência ao Golpe de 2016” foi a vez de Curitiba receber um evento para a divulgação da obra. Ele aconteceu durante o 3º ato dos Advogados pela Democracia, na noite desta terça-feira (14), na APP-Sindicato, em Curitiba. Centenas de pessoas acompanharam o lançamento da obra.
“O livro foi concebido por quatro professores universitários imaginando que a resistência ao golpe deve ser eternizada. Muita gente fez postagens na internet criticando a atitude golpista do executivo, por intermédio do seu vice-presidente e por parte da quadrilha que está no congresso nacional e parte do judiciário que poderia ter impedido o golpe e não o fez. Mas essas coisas de internet são fugazes, podem desaparecer muito rapidamente. Daqui dois anos ninguém mais se lembraria qual era a crítica, quem aderiu ao golpe e quem posicionou-se contra. Para gravar isso em papel, em letras de forma, concebemos a publicação deste livro”, explicou a advogado e professor da UFPR, Wilson Ramos Filho, o Xixo, um dos organizadores da obra.
A professora Cláudia Barbosa, que assina um dos artigos que compõem o livro, criticou a judicialização da política. Para ela, esse é um sintoma de uma sociedade doente. Neste cenário, para ela, é preciso uma reinvenção do sistema político, o que inclui todos os seus atores. “ A democracia representativa está em choque e em xeque no mundo todo. Não encontramos canais diferentes ou coisas melhores. A participação, canais mais diretos, como de comunicação tem aparecido. Devemos brigar por mecanismos de participação popular”, disse.
O ex-presidente do Conselho Federal da OAB, Cezar Britto, participou do ato do lançamento do livro. O jurista destacou a necessidade de resistência diante do cenário político que inclui retrocessos sociais. “Não é mais tempo de acomodação ou covardia. É tempo de enfrentamento e de exposição, como estamos fazendo aqui”, sentenciou.
Britto utilizou-se do exemplo da luta das mulheres para falar dos avanços obtidos e da resistência. Entre vários exemplos, ele citou Maria da Penha, agredida pelo marido e que lutou pela igualdade de gênero. “Hoje tapa de amor dói e dá cadeia. Maria da Penha, contra tudo e contra todos, resolveu fazer o enfrentamento e ele resultou numa legislação”, recordou.
Também presente no evento, o presidente da Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho (ALJT), Hugo Melo Filho, criticou a forma pouco democrática como as decisões são tomadas no poder judiciário. Ele lembro que é a única instituição que não escolhe seus administradores, além da ausência de discussões sobre outros temas relevantes, como o planejamento estratégico, definição de metas, por exemplo. “O poder judiciário é um ilustre desconhecido (da população). As pessoas não respeitam o judiciário, elas temem pelo mal que ele pode causar e não respeitam pelo bem que ele pode fazer”, analisou.
Frente Brasil de Juristas Pela Democracia – Cezar Britto ainda falou sobre a criação da Frente Brasil de Juristas Pela Democracia, criada com o objetivo de aglutinar diversos movimentos e coletivos que se organizaram, de forma autônoma e independente, por todo o País. Contudo, faltava uma articulação nacional que pudesse unir essas pessoas em rede.
Nos próximos dias 4, 5 e 6 de julho será realizado o primeiro encontro da Frente, em Brasília. “Não era mais fácil se acomodar? Não porque todo mundo percebeu que era preciso fazer o enfrentamento. Nada como uma ideia cujo o tempo chegou. É um grupo horizontal que vai interligar essas lutas que já estão acontecendo no Brasil”, relatou Britto.
Ainda participaram do evento representantes dos estudantes que falaram de suas lutas na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) pela manutenção dos cursos técnicos, representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto que relataram as dificuldades na Ocupação Tiradentes e os jornalistas Chico Marés e Euclides Garcia. Ambos trabalham na Gazeta do Povo e enfrentam uma maratona de viagens para responder a processos judiciais em virtude de uma matéria que falava sobre o teto salarial e os “penduricalhos”, como definiram, que elevavam os vencimentos de alguns magistrados.
Também participaram do evento a advogada e vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves, a vereadora Professora Josete, o deputado estadual Tadeu Veneri e advogada Ivete Caribé.