Lamentavelmente, sr. Cláudio de Moura Castro, professor(a) no Brasil ganha mal!

Lamentavelmente, sr. Cláudio de Moura Castro, professor(a) no Brasil ganha mal!


Em artigo deplorável numa das mais abjetas publicações semanais de nossa imprensa golpista – primeira aliada das elites econômico-política e da retomada do projeto neoliberal no Brasil –, o sr. Cláudio de Moura Castro tece longo ataque à remuneração e à organização do trabalho dos/as professores/as da educação básica no país, numa indisfarçável propaganda contra a escola pública e seus profissionais, e, consequentemente, a favor das parcerias público-privadas que, muito provavelmente, poderá lhe render vultosas remunerações, lucros e dividendos na condição de associado do projeto de mercantilização da educação.

A base teórica do artigo inexiste, embora muitas considerações sejam feitas em referência a supostas pesquisas ou estudos acadêmicos, sem quaisquer citações de fontes. Verdadeira fraude! Aliás, fraudar a opinião pública virou moda no Brasil, onde reina a impunidade para esse crime. Que o diga a última pesquisa Datafolha/Folha de São Paulo a respeito da manutenção do governo interino de Michel Temer!

Voltando ao sr. Castro, ele considera que os/as professores/as brasileiros possuem salários competitivos, quando analisados por hora de trabalho, inclusive em relação à média internacional. Desconsidera, por exemplo, a recente pesquisa da rede em que é apoiador, Todos pela Educação, que no último mês divulgou dados extraídos da Pnad-IBGE revelando que a remuneração média do magistério com formação em nível superior, no Brasil, equivale à metade da dos demais profissionais com mesmo nível de escolaridade.

Em nível internacional, o diagnóstico da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), denominado Education at a Glance 2014, ao qual o sr. Castro certamente teve acesso, mas não o considerou em seu artigo, mostrou que o Brasil possui o penúltimo salário em comparação a 38 países. O estudo ainda apontou que o Brasil tem a maior relação de estudantes por sala de aula (29 na média) e a maior jornada efetiva de trabalho de professores em sala de aula (19 horas semanais, em média) – ver tabela remuneratória ao final, ironicamente disponível no site de Veja.com.

Por outro lado, o artigo de Castro, em Veja de 27/7/16, possui contradições e ilações pejorativas sobre o trabalho do/a professor/a brasileiro/a, que exigem certas ponderações e comparações para fins de melhor entendimento.

O articulista defende a meritocracia salarial, pois, segundo ele, o Estado despende muitos recursos para os salários do magistério onde a “produtividade é baixa”. Ora, mesmo sendo a educação um direito universal e sabendo que as condições de trabalho dos profissionais interferem na qualidade do aprendizado – sem falar que a maioria dos gestores resiste em investir na formação continuada e nas carreiras do magistério e dos demais trabalhadores da educação –, não seria o caso de questionarmos as despesas per capita do Estado com o judiciário, com os parlamentos das três esferas e com as demais áreas públicas em relação às suas respectivas produtividades? E os gastos com publicidade governamental nos veículos de comunicação privados, quanto custa e o que agrega em produtividade? Por que então o foco na educação? A resposta é simples: o sr. Castro defende a privatização da área, pois os fundos públicos educacionais correspondem a bilhões de reais.

A recente decisão do STF, permitindo parcerias público-privadas na educação, tem mobilizado o empresariado a disputar os recursos públicos. E o “lobby” privado será cada vez maior para substituir professores e demais profissionais concursados das escolas públicas, por trabalhadores vinculados à CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) ou mesmo terceirizados, na perspectiva do PL 4.330, da pejotização. Com relação aos profissionais efetivos, a pressão será por rebaixamento salarial, maior tempo de contribuição para a aposentadoria e redução dos proventos previdenciários (tal como escreveu literalmente o sr. Castro), a fim de sobrar mais recursos para as empresas. Essas demandas privatistas dialogam com o PLP 257, que visa congelar salários e concursos públicos nos estados, e com a PEC 241, que pretende suspender por duas décadas as vinculações constitucionais de impostos para a educação (e a saúde). Trata-se, como dito, de briga por fundos públicos!

Neste sentido, a principal mensagem do artigo de Castro indica a precarização (ainda mais!) do trabalho do/a professor/a como política para o problema do financiamento da educação e da melhoria da aprendizagem, devendo-se, ainda, conceder a gerência dos sistemas escolares para a iniciativa privada, sobretudo para organizar o corpo docente. Um poço de contradição e pretensão desvairada!

Em fevereiro de 2015, o Jornal Nacional, que dispensa comentários sobre sua opção política, divulgou uma série de reportagens sobre a escola pública e seus profissionais. Nas matérias de Graziela Azevedo e Ronaldo de Sousa constatou-se que grande contingente de professores têm abandonado o magistério e que os jovens não se sentem atraídos pela profissão. Motivos: baixos salários, péssimas condições de trabalho e violência no ambiente escolar.

Já a pesquisa do instituto Data Popular, realizada em 2015, revelou que 85% da população considera o magistério uma profissão mal remunerada, indo ao encontro das pesquisas da Pnad-IBGE e da OCDE.

Diferente das pseudo teses alardeadas pelo articulista de Veja, esses são exemplos reais da percepção de nossa gente sobre a educação e seus profissionais. E é sobre esses problemas que o Plano Nacional de Educação construiu suas metas visando garantir o acesso de todos/as à educação pública, gratuita, laica, democrática e de qualidade socialmente referenciada. E a CNTE mantém seu compromisso em cobrar o cumprimento integral do PNE, sobretudo em relação às políticas de valorização dos profissionais da educação e de maior investimento público na educação pública tendo como referência 10% do PIB.

A CNTE e seus sindicatos filiados estão atentos às ofensivas do capital sobre os recursos públicos da educação, ao mesmo tempo em que mantêm a luta pela valorização da escola pública e de seus profissionais, tendo como bandeiras de luta o aumento do valor e a extensão do piso salarial nacional para os funcionários da educação e a implementação de diretrizes nacionais para os planos de carreira da categoria.

Nossa luta contrapõe o desejo privatista instalado no país em torno da educação pública e procura atender aos anseios dos/as trabalhadores/as escolares.

Vamos resistir e avançar na luta!

Salário dos professores brasileiros está entre os piores do mundo (Fonte: Veja)

Valores em dólares, anuais, para professor em início de carreira no ensino fundamental e para jornada de 40 horas semanais (ano 2014):

$ 66.085 Luxemburgo
$ 50.007 Alemanha
$ 48.904 Suíça
$ 44.131 Dinamarca
$ 37.221 Austrália
$ 37.145 Canadá
$ 37.104 Holanda
$ 36.333 Estados Unidos
$ 36.268 Espanha
$ 34.484 Noruega
$ 33.667 Bélgica
$ 33.602 Irlanda
$ 32.587 Áustria
$ 32.148 Finlândia
$ 30.695 Suécia
$ 29.411 Média da OCDE
$ 29.151 Portugal
$ 28.961 Nova Zelândia
$ 28.591 Coréia do Sul
$ 28.321 Inglaterra
$ 28.124 Escócia
$ 27.786 Itália
$ 27.067 Japão
$ 27.006 Eslovênia
$ 26.247 França
$ 25.672 Islândia
$ 24.834 Turquia
$ 19.680 Israel
$ 18.718 Grécia
$ 17.770 Chile
$ 16.986 República Tcheca
$ 15.556 México
$ 11.828 Estônia
$ 11.388 Polônia
$ 10.644 Eslováquia
$ 10.375 Brasil
$ 1.560 Indonésia

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