“No Brasil, a Polícia é inocentada de graves crimes que comete”, afirma o presidente da APP-Sindicato durante entrevista após tomar conhecimento da decisão do juiz Davi Pinto de Almeida, da Vara da Justiça Militar do Paraná, que determinou o arquivamento do inquérito contra os(as) policiais envolvidos na ação policial no dia 29 de abril de 2015.
O juiz alega que não houve excesso na conduta dos(as) policiais e no uso de cassetetes, balas de borracha, sprays de pimenta e helicóptero disparando bombas. Para quem estava lá, a realidade não condiz com as justificativas do magistrado militar. “Os tiros e bombas eram jogados direto no rosto das pessoas. É inadmissível uma atitude dessas. Algumas pessoas perderam a visão e audição e isso consta nos autos dos processos”, afirma o professor Hermes Silva Leão, presidente da APP-Sindicato.
No massacre, mais de 1.682 PMs investiram contra os(as) manifestantes deixando quase 400 feridos. A fotógrafa Larissa da Silveira passou pela Praça Nossa Senhora da Salete na tarde de 29 de abril de 2015 e conta sobre como foi a ação. “Eu estava lá, voltei pra casa com os olhos ardendo sem nem ter chego perto de policial algum. Era tanta bomba jogada de helicóptero que mesmo na quadra de baixo ainda era impossível respirar. Policial pintado de canetinha cor de rosa pra fingir que era sangue e justificar as ‘nossas agressões’, quem lembra? Lembro dos vídeos gravados de dentro da Alep, do pessoal rindo a cada bomba disparada, a cada manifestante machucado. Na época houve números inclusive, algo como 20 bombas por minuto, jogadas de forma ininterrupta por mais de 4h. Senhoras professoras aposentadas, professores meus da faculdade e até mesmo do colégio.” A fotógrafa não empunhava nenhuma das bandeiras de luta dos(as) servidores(as), mas viu de perto a violência por parte da conduta policial.
Para a APP a decisão é uma prova de desrespeito aos(às) servidores(as) e aos(às) paranaenses. “Essa prática da Justiça, de varrer para debaixo do tapete a responsabilização dos autores da violência, quanto estes são autoridades, não é novidade. Infelizmente, é cada vez mais comum responsabilizar as vítimas quando o uso da violência parte do Estado”, argumenta Hermes. “Já tivemos provas, em fevereiro, da intenção do governo em criminalizar os(as) trabalhadores(as) quando Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual pediu o arquivamento do inquérito. Ali, naquele momento, jogaram uma outra bomba sobre nós”, considera o professor.
A APP-Sindicato considera a decisão uma afronta aos(as) educadores(as) e a população em geral e reafirma que não deixará os acontecimentos deste dia caírem no esquecimento, mesmo que bombas continuem sendo atiradas no moral da categoria.
O arquivamento do processo na Justiça Militar não significa o encerramento do caso. Ainda não foi julgada a ação civil pública, movida pelo Ministério Público do Paraná, por ato de improbidade administrativa contra o governador do Estado, Carlos Alberto Richa, o ex-secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Fernando Francischini, e o ex-comandante da Polícia Militar, César Vinícius Kogut. Também ainda corre na Justiça a ação civil pública, da Defensoria Pública estadual, proposta no final de maio, que cobra uma indenização do governo estadual por danos morais (revertidos para o Fundo Estadual de Defesa de Interesses Difusos do Estado do Paraná), e que também obriga o Executivo a formular uma série de regras envolvendo a atuação da Polícia Militar do Paraná em manifestações públicas.