Viralizou nas redes sociais um vídeo que chocou os(as) educadores(as) paranaenses. Na última terça-feira (14), um homem invadiu uma escola estadual de Almirante Tamandaré e agrediu estudantes e profissionais da educação. O ato violento foi registrado pelas câmeras de segurança do local.
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Segundo apuração de um meio de comunicação local, o ato de violência ocorreu no Colégio Cívico-Militar Professora Rosa Frederica Johnson, localizado na Vila Prosdócimo, e o homem acessou a escola para agredir um adolescente que, um dia antes, teria praticado bullying contra o filho dele.
Vale ressaltar que a unidade foi militarizada no ano passado e, no momento da agressão, os monitores militares não estavam presentes.
A APP realizou na última quinta-feira (16), uma visita à unidade para prestar auxílio aos(às) profissionais que sofreram a violência. Dirigentes da APP estadual e do Núcleo Sindical Metronorte escutaram educadores(as).
“Acompanharemos esse caso e os encaminhamentos dados ao tema com bastante atenção, pois os trabalhadores dessa escola precisam ter a garantia, do Estado e da Secretaria de Educação – SEED, que poderão desenvolver seu trabalho de maneira segura e com condições de trabalho”, explica o presidente do Núcleo Sindical Metronorte, Vandré Alexandre Benedito da Silva.
O educador aponta ainda que o caso comprova que militares na escola não resolvem o problema na escola, mas sim políticas educacionais construídas a partir de um modelo humanizado.
“Esse caso mostra mais uma vez que combater a violência está além do uso da força policial, principalmente na escola. O investimento em políticas educacionais inclusivas e de valorização da educação e dos trabalhadores/as em educação é necessário e urgente, porém, depende de condições de trabalho dignas e que se respeite a autonomia das escolas no desenvolvimento de um Projeto Político-pedagógico que conhece a realidade de sua comunidade”, finaliza Vandré.
A secretária de Assuntos Educacionais da APP, Vanda Santana, reforça que é necessário construir uma educação pautada na diversidade e tolerância, garantindo uma escola democrática e livre de violência.
“Esse tipo de comportamento do pai do estudante reforça a importância da educação humanizadora para construir outras relações sociais em que os conflitos, mesmo que não deixem de existir, possam ser resolvidos por meio do diálogo, da escuta, da empatia. Cabe à escola dar a estes acontecimentos um tratamento pedagógico, além dos cuidados com a segurança do ambiente escolar”, aponta Vanda.
Outros casos de violência em colégios militarizados
O caso de agressão ocorrido no Colégio Cívico-Militar Professora Rosa Frederica Johnson não é um caso isolado. Em fevereiro deste ano outros casos de violência e cerceamento de direitos eclodiram em colégios cívico-militares do Paraná, demonstrando a fragilidade do modelo para cumprir a promessa de “segurança” e “disciplina”.
Pelo contrário, além da inação dos(as) monitores(as) militares para conter brigas, em dois casos eles(as) participaram – ativa ou passivamente – das agressões.
No dia 20 de fevereiro, no Colégio Jayme Canet, de Curitiba, um homem não identificado e de grande estatura agrediu dois estudantes menores de idade em frente à escola com socos e empurrões. A gravação mostra que o agressor agiu com violência, intimidando e ameaçando outros(as) alunos(as).
O monitor militar da escola não apenas não interveio como teria dito que “faria o mesmo”, de acordo com relatos de diversos estudantes que contataram a APP.
“Quando fomos tirar satisfação com o monitor policial (subtenente), ele disse que isso que estava acontecendo ali era consequência das nossas ações, porque fizeram algo para o filho dele (o agressor). E que ele, o subtenente, faria o mesmo”, conta um dos(as) alunos(as).
Na época, a escola fez uma declaração afirmando que tomaria medidas cabíveis, porém até hoje não se teve notícia da ação tomada.
Inação em Cambé
Já em Cambé, cidade que vive o trauma do ataque que tirou a vida de uma estudante do Colégio Estadual Professora Helena Kolody, uma briga generalizada em frente à escola Maestro Andrea Nuzzi culminou em um tiro de arma de fogo disparado para o alto, de autoria desconhecida.
O episódio ocorreu no dia 22 de fevereiro. Em nenhum momento os monitores militares tentaram impedir a briga.
De acordo com relatos da imprensa local, os pais não se sentem seguros com os(as) filhos(as) na escola e se dizem frustrados com o modelo cívico-militar. “Na hora da saída não havia nem uma viatura. Se tivesse uma viatura, essa situação não teria acontecido”, lamentou um pai.
Casos escancaram falácia do modelo cívico-militar
Vendido à sociedade como uma solução mágica para os problemas da escola pública, o modelo cívico-militar tem se mostrado incapaz de cumprir as promessas da propaganda governamental.
“Ter um militar lá dentro não resolve nada. Pelo contrário, a inação aumenta a sensação de insegurança”, avalia Walkiria Mazeto, presidenta da APP-Sindicato.
“A violência não é um problema que vem da escola. A escola reflete a violência existente na sociedade, que precisa de políticas públicas sérias, e não de soluções mágicas. E de policiais nas ruas, no entorno das escolas, não dentro delas”, complementa Walkiria.
Paraná militarizado
O programa foi adotado em cerca de 200 escolas estaduais no primeiro mandato do governo Ratinho Jr. Até hoje, não há notícia de resultados positivos, mas o estado já conta com 312 estabelecimentos nesta modalidade.
A ampliação se deu em 2023, em um processo de consulta marcado pela condução autoritária do governo, sem prazo para o debate nem espaço para o contraditório, escandaloso uso da máquina pública, episódios de coação e censura a educadores(as) e estudantes, restrição ao voto de alunos(as), entre outras irregularidades que põem em xeque sua legitimidade.
Tais fatos foram amplamente documentados pela APP, que esteve presente nas escolas ao longo de toda a consulta, apesar das práticas antissindicais do governo condenadas pelo Ministério Público do Trabalho.
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