IDEB 2021: compreendendo os resultados do Paraná na perspectiva dos(as) educadores(as) APP-Sindicato

IDEB 2021: compreendendo os resultados do Paraná na perspectiva dos(as) educadores(as)

Esperamos que o discurso meritocrático não seja utilizado apenas para assediar a categoria em busca de manchetes no período eleitoral.

O resultado do IDEB de 2021 tem sido fartamente comemorado pela Seed e pelo governo Ratinho Jr (PSD). Mas, se há algo a comemorar, é o esforço dos(as) educadores(as) que, a despeito de toda coerção e desvalorização comuns a este governo, empenharam-se no período da pandemia para fazer a educação acontecer.

A atual gestão tem, desde que assumiu, o objetivo central de alcançar os primeiros resultados no IDEB. Para cumprir com esse objetivo, criou um conjunto de programas cuja centralidade é a Prova Paraná.

Programas como o “Se Liga”, “Presente Paraná”, e as tutorias, entre outros, pressionam as escolas a aumentarem as taxas de aprovação. Já a Prova Paraná nada mais é do que um treino para as provas do SAEB. Criou-se também um sistema de gratificações para as escolas que atingem os melhores indicadores de presença e nota.

São políticas centradas nos resultados, mas que levaram à falta de autonomia das escolas e ao adoecimento da categoria. 

Além da situação da pandemia, considerada até na nota técnica do INEP, há outros elementos que gostaríamos de demonstrar quando estabelecemos uma linha histórica dos IDEBs de 2015 a 2021.

Fonte: MEC/Inep. 
Obs: Os dados referem-se apenas às redes públicas estaduais.

Decorre que:

  1. As taxas de aprovação no Paraná são superiores à média nacional, que também experimentaram um incremento expressivo no período, muito pela recomendação do CNE de se evitar a reprovação dos(as) estudantes no período de pandemia. Salta os olhos a taxa de aprovação do Ensino Médio no Paraná em 2021, 6 pp. superior à média nacional, muito próximo aos 96%. Essa taxa é 8.3 pp. superior a média obtida no Paraná em 2019. Sabemos que, além da recomendação do CNE, a Seed fez de tudo para incidir nestas taxas.
  2. Em relação ao SAEB, os índices demonstram que houve uma queda nas notas obtidas em Português e Matemática em todo o Brasil, inclusive no Paraná, evidentemente produto da pandemia. Nos anos apresentados na tabela, o Paraná teve média superior à média nacional. No ensino médio essa diferença tem aumentado progressivamente desde 2015.
  3. As taxas de aprovação obtidas no Paraná impactaram para o bom resultado do IDEB, principalmente no Ensino Médio, que elevou o estado do Paraná à primeira posição dentre todos os outros estados do Brasil e fez o secretário  alardear o resultado. Enquanto no Ensino Médio não houve aumento na média nacional do IDEB de 2019 para 2021, o Paraná obteve 5% de aumento, resultado da alta taxa de aprovação. Entre 2015 e 2019 nenhuma das taxas de aprovação no Paraná e no Brasil havia superado a casa dos 90%.
  4. A Nota Técnica Informativa do IDEB 2021 (MEC/INEP, 2022) publicada pelo INEP chama atenção para o cuidado com que os números obtidos em 2021 precisam ser vistos. Isso em função da pandemia; em que os processos escolares foram diretamente impactados pelas aulas não presenciais: … a interpretação do Ideb, em especial, a oscilação nos valores das suas componentes, precisa ser realizada com cautela. A mudança brusca observada nas taxas de aprovação faz com que a interpretação do Ideb 2021 esteja dissociada da série histórica do rendimento e seja entendida sob a ótica das mudanças sociais, psicológicas e econômicas derivadas da pandemia de Covid-19 (MEC/INEP, 2022). 

Há quatro anos só se fala em IDEB no Paraná. Os estudantes têm sido exaustivamente treinados com conteúdos específicos da Prova Brasil e o trabalho dos(as) professores(as) têm sido direcionado para obter resultados positivos em testes padronizados. A pressão e a cobrança, bem como as políticas implementadas para atender aos critérios do Saeb, têm cobrado a fatura na saúde dos(as) nossos(as) trabalhadores(as). 

Por fim, é preciso apontar o equívoco do secretário da Educação, que insiste em comparar o desempenho da escola pública ao da rede privada. Não somos e não seremos iguais. Trabalhamos em condições adversas, com estudantes cujas diferenças econômicas, sociais e culturais impõem desafios muito maiores à aprendizagem e ao trabalho diário. Mirar a qualidade da rede privada é ignorar a realidade.

Esperamos que o discurso meritocrático da gestão Feder e Ratinho não seja utilizado apenas para assediar a categoria em busca de manchetes no período eleitoral. Nós também queremos resultados na aprendizagem dos(as) estudantes e na valorização profissional: fim da terceirização dos(as) funcionários(as) e dos calotes, respeito, melhores condições de trabalho e salário digno.

 

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