Hermes Leão: a marca da APP nestes 71 anos é a defesa da escola pública de qualidade

Hermes Leão: a marca da APP nestes 71 anos é a defesa da escola pública de qualidade


Foto: Luiz Damasceno

Nesta quinta-feira (26), a APP-Sindicato completa 71 anos de fundação, sempre em defesa da escola pública de qualidade e de uma sociedade igualitária. Marcando este dia de festa para todos(as) que construíram e fazem acontecer a história desta instituição forte e comprometida com a classe trabalhadora, o presidente da APP, Hermes Leão, concedeu uma entrevista onde fala sobre as lutas, conquistas e reivindicações da categoria, a conjuntura política do país, além do papel do Sindicato e da sociedade nesses cenários.

“A construção da luta para garantir o direito de acesso à educação do povo em geral, especialmente os mais pobres que precisam sobretudo e mais ainda da escola pública, essa é a marca da APP-Sindicato”, destacou ao comentar que desde a sua fundação, a APP cumpre um papel fundamental na defesa da educação pública no Paraná. Confira a entrevista na íntegra.

APP: Ao longo dos 70 anos de história, a APP-Sindicato consolidou uma história de lutas e conquistas e é hoje a quinta maior organização sindical do Brasil. Quais foram os principais desafios e também as conquistas ao longo desse período?
Hermes Leão: A APP-Sindicato, desde a sua fundação, há mais de 70 anos, cumpre um papel fundamental de defesa da educação pública no Paraná. Essa é a principal pauta, histórica e sempre permanente no nosso Estado. A construção da luta para garantir o direito de acesso à educação do povo em geral, especialmente os mais pobres que precisam sobretudo e mais ainda da escola pública, essa é a marca da APP-Sindicato. Vários governos, ao longo dessa história, precarizaram a educação, inclusive este último. Então, dos desafios mais presentes, é exatamente o Sindicato cumprir o papel de defesa dos direitos de professores, professoras e funcionários e funcionárias de escola para que, a partir dessa premissa, a gente possa construir uma escola pública que esteja aberta, em funcionamento, e buscando a qualidade que ainda não atingimos. Precisamos de mais qualidade na educação, na oferta de ensino, na aprendizagem, e isso é uma tarefa que a gente tem a compreensão de que o papel sindical é fundamental.

APP-Sindicato: Quais são, hoje, as reivindicações emergenciais dos(as) professores(as) e funcionários(as) de escola?
Hermes Leão: As principais reivindicações nos dias de hoje estão relacionadas aos blocos de intervenção e que estão aprovadas nas nossas últimas assembleias estaduais. O primeiro deles é na questão salarial. Estamos há mais de dois anos com inflação acumulada, sem correção salarial. Então essa é a primeira pauta, porque envolve todos os servidores e servidoras, todos os trabalhadores e trabalhadoras em educação. Corrigir o salário dos professores  PSS, manter os direitos de carreira e ampliar a pauta, que é extensa. Numa questão mais educacional e organizativa nós estamos lutando contra um movimento de redução de turmas, de fechamento de escolas no estado.

É a redução, portanto, tanto da oferta de escolas próximas dos locais de moradia da população, mas também uma redução significativa de locais e postos de trabalho para os professores que estão atuando e para os jovens que estão se formando e almejam ser professores públicos no estado Paraná. Além disso, nós temos um debate muito importante sobre o alto índice de abandono e evasão nas escolas. Esse é um desafio que é de conjunto de toda a sociedade. Além da formação continuada de professores e a pauta organizativa, como a jornada de trabalho em hora-atividade, que está ilegalmente reduzida por ação do ex-governador Beto Richa e sua equipe.

Um terceiro ponto importante é um movimento de denúncia e cobrança do atual governo do estado do Paraná pela anistia de processos administrativos e condenações e retirada de faltas de professores e funcionários decorrentes de participação em greves ou movimentos, como foi o caso das ocupações de escolas por parte dos estudantes em 2016. Essa é uma pauta muito importante também porque ela se combina com a prática autoritária desse atual período, tanto no governo estadual quanto de muitos prefeitos e do governo federal ilegítimo do Michel Temer, de perseguição ao direito de livre docência. Neste conjunto de medidas, o movimento que nós temos feito contra a aprovação da lei da escola sem partido, que a gente chama popularmente de lei da mordaça, que nada mais é do que um programa de movimento muito autoritário, antidemocrático e apoiado por governantes de um perfil reacionário, que vêem na escola pública um espaço onde a população pode começar a fazer questionamentos dos seus direitos. Essa elite política do nosso país não deseja um povo crítico e capaz de lutar mais qualitativamente e coletivamente pelos seus direitos. É uma luta intensa que a gente vem travando e precisamos continuar realizando na trajetória histórica da APP-Sindicato.

APP-Sindicato: Neste ano eleitoral, quando a população elegerá o presidente, governador, senadores e deputados, o que a categoria precisa ter em mente, na hora de escolher seus(as) representantes(as)?
Hermes Leão: Além de olhar as pessoas que são candidatas, seja de quais partidos políticos forem, é importante estudar a trajetória dos movimentos que essas lideranças representam e, além disso, um cuidado central com o programa que vai ser apresentado como proposta de trabalho dessas candidaturas. Nós temos vivido um período longo de negação do debate político e de condenação da atividade política, especialmente a política partidária que, de fato, tem dado motivos para o povo brasileiro desacreditar desse espaço de intervenção pública, que é o fazer político. Nós consideramos importante a participação. Iremos dialogar com a nossa categoria sobre esse debate.

Na assembleia aprovada neste 21 de abril, aprovamos um calendário de atualização da nossa pauta salarial, educacional, para que a gente produza um programa que seja apresentado e debatido com todos os candidatos ao governo do Paraná. Indistintamente, vamos realizar este debate, reforçando a defesa da escola pública como espaço central de desenvolvimento do nosso estado, mas também procurando ouvir dos candidatos qual é a sua perspectiva, o seu programa, a sua proposta para a educação pública do nosso estado, tanto da educação básica, quanto da educação de um modo geral, porque o governador tem muita responsabilidade mais diretamente das séries finais do ensino fundamental e do ensino médio e do ensino superior, das universidades públicas estaduais, mas também de uma política de valorização da educação infantil, junto aos municípios do estado. Vamos fazer este debate entendendo que a luta política pressupõe a participação coletiva da sociedade e dos educadores e educadoras que são trabalhadores(as) de uma categoria que lida com o processo de construção do conhecimento e não pode deixar de participar desse movimento importante.

APP-Sindicato: A luta por uma educação pública de qualidade passa pelo direito à liberdade de expressão e pela defesa da democracia. Como é hoje, fazer esta defesa, diante da atual conjuntura política que o país vive?
Hermes Leão: Num período recente de muita divisão do país, nós viemos lutando com dificuldades para fazer o debate sobre esse processo da democracia no nosso país. Nas últimas assembleias, aprovamos o convite à participação da nossa categoria, de conjunto e também de estudante, a partir dos seus movimentos e das suas entidades estudantis, nos comitês em defesa da democracia no Brasil. Reconhecemos já de um largo período que o Brasil estava vivendo um movimento de golpes sobre o processo de democracia. Entendemos que esse golpe está praticamente consolidado diante, inclusive, da aplicação do programa de retirada de direitos, das reformas do governo do Michel Temer, que nós consideramos um governo golpista. Esse período difícil não nos impede de estar indo às ruas para fazer essa defesa da democracia no Brasil, que está de fato atacada. Mundialmente já tem muitas lideranças que reconhecem que houve um golpe sobre o povo brasileiro e nós, como dirigentes de classe, continuaremos essa defesa e reforçando o convite para que a nossa categoria reforce a participação nos comitês em defesa da democracia, bem como do Congresso do Povo, que é um espaço de debates sobre um programa de desenvolvimento para a maioria do povo brasileiro, que está já em curso no Brasil, tanto pelo movimento sindical, como pelos movimentos populares. Então é um período importante, um período de luta intensa, inclusive um período em que nós estamos debatendo sobre a prisão do ex-presidente Lula, que foi preso sem nenhuma prova material. Este motivo também independente de apoio ou não apoio ao ex-presidente. Ele é de fato um preso político do país e essa denúncia é importante que seja feita, não apenas em torno da figura do ex-presidente, mas pelo processo de aprofundamento de uma crise do processo democrático brasileiro e cujo principal efeito sobre a maioria do povo é a retirada dos direitos sociais previstos na Constituição de 30 anos atrás, nossa Constituição de 88, que vai sendo reduzida, vai sendo rasgada a cada momento neste último período. Então isso impõe um compromisso de que todos nós façamos essa luta em defesa da democracia no Brasil.

APP-Sindicato: Qual é a educação pública que queremos e qual o papel da APP nesta defesa?
Hermes Leão: Uma educação pública que possa garantir para a criança, desde o primeiro contato dela com a educação infantil até a universidade, tanto acesso ao conhecimento científico acumulado pela humanidade, quanto uma educação que seja emancipatória para a cidadania das pessoas. Formar homens e mulheres que sejam capazes de olhar o mundo com olhos críticos e que queiram de fato contribuir para que a gente possa superar as mazelas das desigualdades, das extremas violências que a gente ainda tem. Isso é de fato um trabalho coletivo. A gente entende que a educação tem um papel central na superação dessas desigualdades, dessas mazelas sociais do nosso país.

APP-Sindicato: Como os(as) professores(as), funcionários(as), pais, mães e estudantes podem contribuir para melhoras efetivas na qualidade do ensino ofertado e, também, em uma sociedade mais justa?
Hermes Leão: Temos insistido que pais, mães ou responsáveis pelos estudantes participem da vida escolar, construam o projeto político-pedagógico da escola. A escola é também um centro de debates da vida da comunidade e deve ser muito participativa. Defender a escola, participar com professores e professoras, com diretores e diretoras de escola é um direito de pais e mães, mas é sobretudo um dever. Nós temos ainda uma baixa participação das famílias na vida escolar dos seus filhos. A escola pública deve uma defesa de conjunto da sociedade, não apenas de professores e funcionários e escola ou dos próprios estudantes que lá estão. Aqueles que estão nas comunidades, que por ventura não têm uma ligação direta com os que estão na escola, seja trabalhando ou estudando, devem dela participar. Nós defendemos uma escola muito participativa, uma escola plural, uma escola muito democrática. Que a gente possa, de fato, ter um projeto de superação das dificuldades dos locais dos territórios onde as escolas estão localizadas.

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