Parece que foi ontem, mas há um ano, trabalhadores(as) da educação e de outras categorias comemoravam a vitória de uma batalha que parecia ser impossível de vencer: a retirada dos dois PLs que tramitavam na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), em regime de Comissão Geral.
Em novembro de 2014 educadores(as) na Assembleia Estadual da APP, em Apucarana, já previam o ano intenso que seria 2015, tanto pela reeleição do governador Beto Richa (PSDB) quanto pelas medidas de austeridade que ele já vinha promovendo no estado para cima da população e dos(as) servidores(as) públicos. Uma nova Assembleia ficou marcada para fevereiro com o objetivo de instalação de uma greve geral por tempo indeterminado.
No dia 07 de fevereiro de 2015 uma grande marcha tomou as ruas de Guarapuava, eram os(as) professores(as) e funcionários(as) de escola, anunciando que a greve começaria no dia 09, com muito mais mobilizações e um acampamento no Centro Cívico em Curitiba, por tempo indeterminado. Daí para frente tudo aconteceu de forma muito rápida.
A categoria estava cansada das artimanhas do governo e exigia, além da rejeição ou retirada dos PLs 06/2015 e 60/2015, o pagamento imediato dos salários em atraso (PSS, 1/3 de férias, auxílio alimentação, conveniadas), a retomada das negociações sobre os temas educacionais, organização escolar e do Porte das Escolas.
No dia 10, uma terça-feira, as galerias da Alep estavam lotadas de servidores(as) e do lado de fora, milhares acompanhavam a votação. No momento em que os(as) deputados(as) aprovaram o requerimento que transformou a sessão em Comissão Geral, a indignação tomou conta e, sem alternativa, os(as) servidores(as) ocuparam a Assembleia e a sessão foi suspensa. Barracas foram instaladas na rampa, água e cobertores foram distribuídos para aqueles e aquelas que estavam no plenário e nos arredores. A ideia era continuar até o governo reabrir, de fato, as negociações e debater com os(as) servidores(as) essas medidas que seriam implementadas no Paraná.
Durante o dia 11 a ocupação foi mantida e não houve sessão. Na quarta-feira, 12 o desafio foi impedir que os(as) deputados(as) entrassem na Alep para dar continuidade a sessão. Muitos(as) madrugaram em frente aos portões, todo o esforço foi suficiente para que a votação não acontecesse naquele dia. Mas o inesperado aconteceu, os(as) deputados(as) tiveram a coragem de chegar ao Centro Cívico de camburão e com uma escolta armada, cortar as grades e entrar pelos fundos para, no restaurante da Assembleia, dar continuidade à votação.
“Eu não acreditava no que estava vivendo, foi um momento que eu chorei um monte, porque eu olhava para aquele BOPE ali eu falava: gente, eu não acredito, é isso? Eles cortaram a grade não tinha entrada. Eu via nossa vitória porque nós realmente conseguimos fechar tudo e eles não tinham como entrar. Então por esse motivo, eles tiveram que fazer um jogo mais uma vez absurdo e imundo”, conta Simone Cardoso de Moraes, professora e dirigente do NS Metronorte.
Acuados(as), 44 deputados(as) deram início a sessão, enquanto lá em baixo, manifestantes atravessaram os portões da Casa do Povo entoando o hino nacional. A mando do secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Francischini, a Tropa de Choque da Polícia entrou em ação. Balas de borracha e bombas de efeito moral foram jogadas em meio aos(as) servidores(as). “Nós estávamos lá, no grito, eles vieram na porrada”, conta Valderes Aparecida Bueno, professora aposentada do NS Francisco Beltrão. Parecia o fim, mais de 50 mil trabalhadores(as), revoltados(as) gritavam em coro: Sem violência!
A situação ficou tão caótica que os(as) deputados(as) viram-se obrigados(as) a suspender a sessão e o governo foi forçado a pedir a retirada do “Pacotaço”. Lá fora, a chuva caia e lavava as lágrimas de fracasso que se transformaram em sorrisos de vitória. “Mesmo com todas as dificuldades nós somos absolutamente vencedores. Nós vencemos uma batalha absurda contra a pretensão do governo todo poderoso, contra a prepotência, contra o neoliberalismo e a meritocracia. Eles disseram para nós que as salas de aula com 55 alunos é importante porque até o final do ano trinta desistem. Mas eles apostam no fracasso enquanto nós apostamos na vitória”, diz Valderes indignada.
Os PLs retornaram à Casa Civil e viriam ainda gerar muita polêmica. Esta foi apenas a primeira semana de uma greve que duraria 29 dias e que retornaria em abril, com um massacre do governo ainda mais truculento para cima dos(as) servidores(as) públicos.
:: Assista aqui ao documentário “Luto pela Educação” que conta toda a luta travada pelos(as) educadores(as) paranaenses em 2015.
Coletiva de Imprensa – A APP-Sindicato, em parceria com o Sindijor PR, fará amanhã (12), uma coletiva de imprensa com o presidente da entidade, professor Hermes Silva Leão para relembrar um ano da ocupação da Alep. Hermes vai falar sobre alguns pontos conquistados graças à mobilização de milhares de educadores e servidores públicos que estavam na ocupação.
Além disso, serão abordados temas que envolvem a categoria, como a conquista judicial da APP na qual obriga o governo do Estado a divulgar os valores corretos dos salários dos(as) educadores(as), após ter dito que professores(as) ganham mais que prefeitos de 111 cidades no Paraná. O presidente da APP também falará sobre a Operação Quadro Negro, que investiga o suposto desvio de mais de 20 milhões de reais de obras em escolas por todo o Estado.
Serviço
Local: APP-Sindicato, Avenida Iguaçu – 880 – 4º andar
Horário: 14h
Data: 12 de fevereiro, sexta-feira