Governo Ratinho Jr. quer fechar Ceebja que atende quase 200 trabalhadores(as) em Goioerê

Governo Ratinho Jr. quer fechar Ceebja que atende quase 200 trabalhadores(as) em Goioerê

Comunidade está mobilizada para impedir mais esse ataque contra o direito à educação de jovens e adultos que não concluíram os estudos

Estudantes, professores(as) e funcionários(as) do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) Maria Antonieta Scarpari, de Goioerê, distante 130 quilômetros de Cascavel, foram surpreendidos por ações do governo Ratinho Jr. para fechar a escola às escondidas, sem diálogo com  a comunidade.

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Conforme apuração da APP-Sindicato, a imposição só veio à tona após a informação ser repassada por docentes de outra escola, o Colégio Estadual Duque de Caxias, para onde a Secretaria da Educação (Seed) quer transferir as matrículas, só que no formato de ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O Ceebja de Goioerê é o único da região e atende atualmente 183 estudantes. São jovens e adultos, a maioria trabalhadores(as), que não concluíram os estudos na idade certa, geralmente por questões sociais ou pela necessidade de trabalhar durante o dia. 

Diferente da EJA, o Ceebeja oferece ensino com condições e horários flexíveis para se adequar a necessidades específicas desse público. Caso a decisão do governo seja mantida, alunos(as) que não têm condições de se adaptar ao sistema da EJA devem desistir dos estudos.

Governador Ratinho Jr. e o prefeito de Goioerê, Betinho Lima, são do mesmo partido, o PSD – Foto: Betinho Lima no Facebook / reprodução

Segundo as informações, o plano para fechar o Ceebja Scarpari ainda incluiria um pedido do prefeito da cidade para que o prédio fosse doado ao município. Roberto dos Reis de Lima, o Betinho Lima, é filiado ao PSD, mesmo partido do governador Ratinho Jr.

“A gente ficou sabendo que o prefeito queria transformar o prédio do Ceebja em uma escola de ensino infantil em tempo integral. Mas depois de ser questionado, ele admitiu que não sabia a diferença entre Ceebja e EJA, afirmou que não tinha interesse em prejudicar ninguém e colocou a culpa no governo estadual”, disse uma fonte ouvida pela APP que pediu para não ser identificada.

Após reuniões dos(as) educadores(as) e questionamentos ao Núcleo Regional de Educação (NRE), no final da tarde de ontem (31) o corpo docente e funcionários(as) foram comunicados sobre a determinação do governo para não aceitarem novas matrículas, porque a escola será fechada em dezembro deste ano.

“Não vamos aceitar que fechem a nossa escola. Estamos coletando apoio em um abaixo-assinado e vamos fazer a denúncia no Ministério Público. O barulho vai ser grande e vai movimentar essa cidade. É a escola mais antiga de Goioerê e a população tem muito carinho por ela”, disse a fonte.

Desmonte

O fechamento do Ceebja de Goioerê faz parte de um plano do governo Ratinho Jr. para fechar escolas em todo o estado. Municípios como Lapa, Rio Negro e Mandirituba, por exemplo, também enfrentam a mesma situação.

Em Cambé, no norte pioneiro, após grande mobilização da comunidade escolar, o governo recuou da decisão de fechar, neste ano, o único Ceebja da cidade. Apesar da vitória, em comunicado recebido pela escola, a Seed mantém a ameaça de encerrar as atividades da escola em 2024.

Essa imposição do governo faz parte de uma escolha política da gestão Ratinho Jr. que, ao invés criar ações para incentivar jovens e adultos que não concluíram os estudos a retornarem para a escola, têm criado dificuldades para que essa população acesse o direito à educação assegurado na Constituição.

Dados do Ministério da Educação analisados pela APP-Sindicato confirmam que as ações tomadas pela gestão de Ratinho Jr. têm destruído a educação de jovens e adultos no Paraná. O estado lidera o ranking de analfabetismo na região sul do país. São mais de 365 mil (3,9%) paranaenses com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever. 

Desde que assumiu, em 2019, até 2022, o atual governo já acabou com a oferta da EJA ensino médio em 27 escolas e da EJA ensino fundamental em 54 estabelecimentos. Em consequência do fechamento de escolas e do fim da oferta de ensino flexível, as matrículas caíram 59%, registrando uma queda brusca de 125.881 para apenas 51.726 alunos(as) em apenas quatro anos.

Foto: Ceebja Maria Bocati no Facebook

Para a secretária executiva Educacional da APP-Sindicato, Margleyse Adriana dos Santos, as medidas adotadas pelo governo Ratinho Jr. revelam uma grande falta de responsabilidade e uma intenção de negar o direito à educação para a população que mais precisa. 

“Fechar escolas é inaceitável. Vamos continuar na luta e fazendo a resistência contra esse retrocesso”, afirma, explicando que a proposta de acabar com os Ceebjas e transferir as matrículas para modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) em outras escolas, aprofunda ainda mais o retrocesso provocado pela atual gestão nesta modalidade de ensino.

Defenda a sua escola

A APP-Sindicato também tem recebido relatos sobre o encerramento de turmas do ensino noturno, fato que pode atingir os(as) estudantes que mais precisam da escola pública; aqueles(as) que trabalham durante o dia e não têm condições de frequentar outro turno.

Educação é um direito da sociedade e um dever do Estado, que tem a obrigação constitucional de garantir o acesso e a permanência a todos(as). Por isso, a APP preparou algumas orientações para ajudar a comunidade escolar a se organizar e defender esse direito. Confira abaixo.

Se a sua escola está sob ataque, saiba como resistir:

  1. Organize a sua escola

Convoque toda a comunidade escolar, o grêmio estudantil e, se possível, lideranças e políticos(as) locais para uma reunião. Debata os prejuízos do fechamento e faça uma ata com a decisão da comunidade. Utilize dados e informações que justifiquem a permanência do período noturno. Colete a assinatura de todos(as) os presentes.

  1. Faça-se ouvir

Organize um abaixo-assinado a partir da ata para que todos(as) possam manifestar apoio. Organize uma comissão e leve o documento ao Núcleo Regional de Educação, Ministério Público, Prefeitura, Câmara, Conselho Tutelar e outros órgãos. Acione a imprensa local e faça barulho nas redes sociais.

  1. Conte com a APP

Procure o Núcleo Sindical da APP-Sindicato da sua região. Envie informações e a ata para APP estadual pelo e-mail [email protected]. Nas redes sociais, marque a gente: @appsindicato

Defenda a sua escola!


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