Franscischini e Richa, esses, sim, uma mistura explosiva

Franscischini e Richa, esses, sim, uma mistura explosiva


Leite de magnésia misturado com água virou, na versão do secretário de Segurança Pública Fernando Francischini, um tipo de bomba caseira, que estaria sendo preparada, em plena rua, por “radicais” e “black blocs”. Essa ‘mistura explosiva’, na realidade, estava sendo produzida por estudantes de Enfermagem e professores, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), para reduzir os efeitos do gás lacrimogêneo e do spray de pimenta lançado pela polícia nos(as) educadores(as) e servidores(as) públicos que protestavam, último dia 29, na Praça Nossa Senhora de Salete, em Curitiba. Uma medida humanitária, muito distante de qualquer ato terrorista.

Indignada com a acusação, a reitora da Universidade, Berenice Quinzani Jordão, foi a público repudiar a fala do secretário. “Não vamos admitir que as imagens de estudantes e docentes da universidade sejam veiculadas de maneira imprópria associando-os a grupos radicais como se eles estivessem de alguma maneira armados com equipamentos, instrumentos ou produtos que viessem a levá-los a qualquer responsabilização sobre os atos de violência praticados e vistos por todo o País”, protestou.

E esta foi apenas uma das ‘trapalhadas’ perpetradas pelo secretário nos últimos dias. Logo após o massacre, tanto ele, como o governador, foram a público afirmar que os excessos cometidos pela polícia tinha sido uma resposta ao ataque de black blocs. Afirmou, também, que 20 policiais saíram feridos (nenhum foi apresentado, apenas a foto do célebre ‘Soldado Groselha’), que um carrinho cheio de pamonha era um depósito ambulante de bombas, que 14 black blocs foram presos (fato desmentido pela OAB e pela Defensoria Pública do Estado), e que, por fim, a culpa era da polícia, suposta responsável pelo planejamento da ação.

Responsabilidade – Diante da mudança no discurso do secretário, quando se viu como alvo da ‘culpa’ pelos fatos do dia 29, o alto comando da Polícia Militar se revoltou. Juntamente com outros 15 coronéis (só três não assinaram a carta), o comandante-geral da Polícia, César Kogut, publicou um manifesto afirmando que o secretário não só sabia de toda a ação que estava se desenrolando em plena rua, como também ajudou a planejar a ação e que foi alertado sobre o risco de haver feridos no dia do massacre. E mais: que o próprio secretário deu ordens no momento dos ataques.

Outras duas notas – uma da Associação dos Oficiais Policiais e Bombeiros do Paraná (Assofepar) e outra da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares Ativos, Inativos e Pensionistas (Amai) – também repudiaram publicamente as ações e posicionamentos do secretário Francischini nos últimos dias. Na nota da Assofepar, o texto é concluído de forma enfática: “Conclui-se que se a casa está torta, é provável que a responsabilidade do pedreiro e do engenheiro sejam maiores que da própria ferramenta. Superior não é proprietário, subordinado não é escravo e obediência não se confunde com subserviência”, diz.

Durante a assembleia da nossa categoria, no último 5, o presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão, falou sobre as medidas que a entidade estaria tomando com relação ao massacre e avaliou a atitude do governador e do secretário. “Não aceitaremos o discurso que surgiu hoje de punir os soldados que estavam na linha de frente. Eles cumpriram ordem das autoridades do governo do Estado. Não aceitaremos esse novo discurso do governador Beto Richa e do secretário da Segurança Publica que, de forma covarde, recuou do balanço que tinha feito nos acusando de ter provocado toda aquela violência”, criticou Hermes.

Nem Richa e muito menos Francischini compareceram à audiência pública realizada ontem, dia 6, no Senado Federal, para tratar do tema. Na mesa de debates, coube ao assessor especial de Políticas Públicas para a Juventude, Edson Lau Filho, falar em nome do governo do Paraná. E ele não poupou acusações. Segundo ele, os sindicatos seriam mestres na arte da “vitimização e do drama”. Já o presidente da Comissão, senador Paulo Paim, o fato de nem o secretário de Segurança Pública comparecer ao debate foi algo a se lamentar. “É uma pena que o governo do Paraná não tenha comparecido para apresentar explicações”.

Após todo esse drama fica a dúvida, não seria o governador Richa e o seu secretário, Fernando Francischini, a verdadeira mistura explosiva?

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