Estudantes do ensino médio na rede pública são selecionados(as) para participar de evento científico antirracista na UFPR

Estudantes do ensino médio na rede pública são selecionados(as) para participar de evento científico antirracista na UFPR

“A seleção desses projetos atesta a qualidade da educação oferecida na escola pública”, diz Maritana Drescher da Cruz, professora do Colégio Estadual Abraham Lincoln, em Colombo 

Criar conhecimento e estimular o pensamento crítico é uma das marcas do Colégio Estadual Presidente Abraham Lincoln, em Colombo. A luta diária para construir uma educação antirracista terá um momento especial na quinta-feira (17), quando quatro trabalhos de estudantes do colégio serão apresentados no V Seminário ErêYá – Intelectualidades Negras, que acontecerá na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

“A seleção desses projetos atesta a qualidade da educação oferecida na escola pública. Meus alunos e alunas são frutos de uma educação pública que, mesmo diante de desafios, promove um ensino de excelência”, diz Maritana Drescher da Cruz, professora de História que coordena os sete estudantes que vão apresentar os quatro trabalhos.

Mesmo com a tentativa do governo Ratinho Jr de acabar com a escola pública, gratuita, inclusiva e de qualidade, as comunidades escolares resistem e mostram sua força. “Temos nas escolas públicas ótimos profissionais, que acreditam no que fazem, apesar da falta de valorização e das ameaças de desmonte da escola pública, com privatização e militarização”, diz Celina Wotcoski, secretária de Promoção de Igualdade Racial e Combate ao Racismo da APP.

Além dos estudantes, Maritana e mais quatro professoras do Abraham Lincoln submeteram artigos ao Congresso. “A qualificação dos professores que atuam no nosso colégio é muito boa”, diz a educadora.

Comprometida com a formação crítica e cidadã dos(as) jovens, Maritana procura desconstruir estereótipos e promover a inclusão, tratando com os alunos(as) de temas como direitos dos povos indígenas, religiões de matrizes africanas e lutas das populações marginalizadas.

A professora ressalta que a competência demonstrada pelos(as) estudantes ao participar de eventos científicos reflete o preparo e o estímulo que recebem em sala de aula. “Essa participação não é apenas um reconhecimento de suas capacidades, mas também uma evidência de que a educação pública pode e deve ser um espaço de oportunidades e de construção de saberes significativos”, observa Maritânia.

Oportunidades

Desde 2022, a professora doutora Maritana Drescher da Cruz supervisiona estudantes do ensino médio no projeto PIBIC Júnior, uma parceria de iniciação científica que oferece aos jovens a oportunidade de se engajar em práticas acadêmicas durante a educação básica.

Em 2023, uma aluna de Maritana apresentou um artigo científico no EDUCERE, importante evento acadêmico na área da educação. Neste ano, quatro trabalhos orientados por ela foram aceitos para o V Seminário ErêYá – Intelectualidades Negras e as Epistemologias, que acontecerá dias 16 e 17 de outubro na UFPR.

São exemplos concretos de que, mesmo com as dificuldades impostas ao sistema público, a educação oferecida nas escolas públicas pode ser democrática, inclusiva e de excelência. “Esse contexto reforça a importância de manter e fortalecer uma educação pública, gratuita e acessível a todos, em oposição aos projetos de privatização e militarização das escolas, que ameaçam a pluralidade e a equidade”, afirma Maritana.

A militarização dos colégios e a privatização da educação, segundo a professora, são retrocessos que desviam o foco do que deve ser o verdadeiro objetivo da escola: formar cidadãos críticos e preparados para os desafios sociais, acadêmicos e profissionais.

O Seminário do ErêYá está na quinta edição e busca ser espaço para reflexão, divulgação e compartilhamento da produção de conhecimentos que envolvem a educação para as relações étnico-raciais, profissionais da educação básica, militantes do movimento negro, graduandos(as) da Pedagogia, mestrandos(as) e doutorandos(as) em Educação. O evento será presencial e não haverá transmissão online. As inscrições estão esgotadas.

Diversidade

Os trabalhos dos estudantes selecionados para o seminário tratam de questões raciais e culturais, a partir do que determinam as leis 10.639 /03 e 11.645/08, que estabelecem a obrigatoriedade do ensino de História e cultura africana, afro-brasileira e indígena em todas as etapas da educação básica.

“Como professora de História, me comprometo a integrar esses temas de forma contínua e intencional. Os trabalhos desenvolvidos com os estudantes surgem a partir do interesse nas temáticas de diversidade étnico-racial”, diz Maritana. “Essa abordagem não apenas contribui para o cumprimento da legislação, mas também fortalece a formação crítica dos estudantes, promovendo uma educação que valoriza a pluralidade cultural e a construção de uma sociedade mais inclusiva e justa”, completa.

Os trabalhos desenvolvidos valorizam a diversidade cultural e étnica. “A base comum é a construção de uma educação antirracista, que procura desconstruir estereótipos e promover a inclusão, abordando temas como direitos dos povos indígenas, quilombolas e de terreiro, e as lutas sociais e culturais das populações marginalizadas”, explica Maritana.

O que unifica esses trabalhos, segundo a professora, é o foco na inclusão e no respeito às culturas marginalizadas, enquanto suas particularidades residem nos diferentes enfoques – ora jurídico, ora pedagógico – e na forma como cada um enfrenta desafios específicos, seja na defesa de direitos territoriais e culturais indígenas, seja na desconstrução de preconceitos religiosos.

“Esse contato precoce com o ambiente acadêmico permite a eles desenvolver habilidades críticas e analíticas, além de perceberem que a ciência, a universidade e o conhecimento estão ao alcance de todos. Eles passam a entender que o conhecimento não é algo distante ou inacessível, mas algo que pode ser construído e transformado por suas próprias mãos”, constata Maritana.

 

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