Estudante da rede estadual publica livro de ficção com temática LGBTI+ APP-Sindicato

Estudante da rede estadual publica livro de ficção com temática LGBTI+

“New World: um mundo de fadas”, escrito por Lucas Machado, foi produzido durante a pandemia e lançado em junho, mês do orgulho LGBTI+

Ao entrar na casa dos 20 anos, os(as) jovens passam por inúmeras mudanças, sejam elas relacionadas ao mercado de trabalho ou ao ingresso na faculdade. Chadwick Ivan, diferente do padrão esperado, precisa se adaptar a uma nova realidade: agora é um jovem que possui super poderes. Em meio a todas as descobertas deste “novo mundo”, ele conta com a ajuda do namorado Félix, que embarca nas suas aventuras.

Esse é o início da história de “New World: um mundo de fadas”, livro de temática LGBTI+ escrito por Lucas Machado Rosa, de 16 anos, estudante do 3° ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Anita Canet, da Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba. A obra foi publicada pela editora virtual Uiclap e a edição impressa está disponível para venda neste link.


Desde a infância, Lucas nutria interesse pela escrita, aguçado pelas lições de casa passadas pelos(as) professores(as). Mas o desejo de publicar evoluiu durante a pandemia, impulsionado por episódios de ansiedade e as dificuldades do período. “Eu comecei a assistir alguns filmes e séries que desencadearam a vontade de criar meus próprios personagens, cenários e situações. Sempre gostei de me expressar bastante nos parágrafos, nas falas dos personagens, e eu acho que a principal coisa que eu faço nos meus livros é me expressar”.

Durante o isolamento, o autor começou a escrever trechos de histórias e contos. Transformar os materiais em um livro não estava nos planos originais, mas a ideia ganhou corpo e, em maio de 2022, Lucas iniciou o processo de edição. “Só depois de muito tempo eu comecei a criar algumas ilustrações para o livro. Nesse momento eu passei a editar a história, porque a minha escrita evoluiu muito com a prática na pandemia”. 

Nesse processo para transformar os contos isolados em uma obra completa, ele contou com a ajuda da sua professora de Língua Portuguesa Lucélia Fátima Pinto. “Eu conheci o Lucas ano passado, quando vim morar na Fazenda Rio Grande. Logo na primeira turma tive a sorte de tê-lo como meu aluno. Na época, ele estava no segundo ano e, desde então, começamos a falar sobre sua vocação, talento para escrever, criar e se expressar”, relata a professora.


Com orgulho, Lucélia lembra que é papel do(a) professor(a) incentivar o(a) aluno(a) a escrever, incluindo a recomendação de obras que podem motivá-lo(a). Para ela, é preciso ir além dos clássicos, como Iracema e Dom Casmurro. No início, o importante é capturar a atenção pelo encantamento, valorizando a liberdade de escolha.

Pseudônimo e pautas LGBTI+

Ao assinar o livro, o autor usa um pseudônimo: PietroHDM. Segundo Lucas, “Pietro vem de Pedro, que foi uma das primeiras ideias de nome para mim, quando eu nasci. Pietro também foi um personagem memorável de uma história que li, por isso o nome é uma metáfora sobre quem somos e quem poderíamos ser diante dos olhos dos outros”. 

Apesar do pseudônimo, em New World Lucas insere um pouco da sua história e da sua personalidade na composição dos personagens. “No livro há um pouquinho dos meus sentimentos privados”. Sale, o portal que atravessa o mundo real para o mundo de fadas, é uma metáfora para levar o leitor aos seus pensamentos mais íntimos. “Sinto que tenho sentimentos maravilhosos, mas eu não os exponho tanto, por medo de ser machucado, por exemplo”. 

O livro oportunizou ao estudante relacionar dois de seus grandes interesses: a escrita e as pautas da comunidade LGBTI+. “Eu gosto muito de abordar a temática por causa da minha própria sexualidade e também porque é muito importante inserir esse tema em todos os espaços. Infelizmente ainda ocorrem casos de preconceito, discriminação e violência contra gays, lésbicas, transexuais e o restante da comunidade”, comenta o autor.  

Apesar das lutas, Lucas vê o futuro com otimismo: “A gente está conquistando muitas coisas, como algumas leis e, principalmente, estamos conquistando mais local de fala na literatura”, completa.

Clau Lopes, secretário-executivo dos Direitos LGBTI+ da APP-Sindicato, celebra o feito de Lucas, contrastando a conquista do estudante com os retrocessos registrados nos últimos quatro anos com o governo Bolsonaro. “Apesar de tantos ataques que sofremos, ver um estudante LGBTI+ do ensino público já escrevendo sua obra é muito gratificante para nós enquanto professores. Isso é sinal de que nós estamos no caminho certo, na luta por uma educação pública gratuita, laica e livre de todas as formas de preconceito e discriminação”.

“A vida escolar passa, mas as marcas ficam. Enquanto professor gay, sei o quanto eu sofri dentro da escola, mas graças aos professores, minha trajetória foi um pouco mais leve”, complementa Clau.

Mês do Orgulho

De um confronto entre policiais e manifestantes nos Estados Unidos, em 28 de junho de 1969, surgiu a data em que se comemora o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+. O protesto acontecia em defesa do clube gay Stonewall Inn, aberto em 1967, no coração do boêmio bairro de Greenwich Village, em Nova York.

Embora as batidas policiais fossem relativamente comuns no estabelecimento, uma investida surpresa tomou rumos inesperados, resultando no que ficou conhecido como “Rebelião de Stonewall” – um levante de seis dias em defesa dos direitos da população e da diversidade.

No ano seguinte, na mesma data, milhares de pessoas voltaram à Greenwich Village para a primeira marcha do Dia da Libertação da Rua Christopher. Era o início do evento anual que evoluiu para a popular Parada LGBTI+.

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