O 14º Congresso Estadual da APP-Sindicato começou, na quinta-feira (11), com o tema “Outra Educação É Possível: Democracia, Direitos e Inclusão Social”. O evento, que acontece até sábado (13), tem emocionado os(as) participantes, que relembram a luta diária dos(as) educadores(as) através de discussões e uma experiência imersiva que destaca os 77 anos de história da APP.
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O espaço “Silvana Prestes – Cultura e Imersão” homenageia Silvana Prestes Rodacowiski, ex-dirigente da APP-Sindicato falecida em 2023 e uma presença forte no movimento sindical. “Se ela estivesse aqui hoje, estaria participando de maneira muito ativa e coordenando todo o processo”, comenta Cláudia Gruber, secretária executiva de Comunicação da APP.
Muitos(as) profissionais contribuíram para a criação do espaço, desde a concepção inicial da ideia até a produção e montagem do cenário. Ocupando uma área de 288 metros quadrados, a experiência é dividida em quatro momentos: Memória Viva, Carolina de Jesus, Outra Educação é Possível e Futuro da APP.
Carolina de Jesus
Na entrada, a escritora, poetisa e compositora brasileira Carolina de Jesus é homenageada. De origem humilde e filha de pais analfabetos, Carolina estudou até a segunda série do antigo ginasial. Essa área da exposição apresenta registros fotográficos da autodidata, que aos 44 anos publicou seu primeiro livro, tornando-se um importante instrumento de denúncia social. O diário de Carolina de Jesus, publicado em 1960 com o título “Quarto de Despejo”, retrata um Brasil marcado pela fome e pela discriminação contra mulheres, negras, mães solo e pobres.
Jane Márcia Madureira Arruda, professora do Colégio Estadual Cecília Meireles, em Curitiba, trabalha com a literatura de Carolina em sala de aula e se sente representada com a escritora em destaque logo no início da experiência imersiva. “Eu sou uma mulher negra também e ver Carolina de Jesus sendo homenageada aqui foi emocionante. Me identifiquei profundamente”, comenta.
Jane destaca que ter a escritora como figura central é um símbolo de luta pela educação. “Carolina de Jesus é um baluarte. Ela desafiou as adversidades de sua época e conseguiu se destacar, mesmo sendo uma mulher negra e semi-analfabeta”, complementa.
Memória Viva
No espaço Memória Viva, os(as) educadores(as) têm a oportunidade de reviver momentos marcantes da história da APP através de uma instalação cuidadosamente elaborada. Cem monóculos suspensos no teto permitem que os(as) visitantes mergulhem em registros históricos, enquanto um ambiente de imersão sonora e visual amplia a experiência. Em oito televisores, imagens de eventos significativos são transmitidas, recontando os 77 anos de lutas e conquistas da APP.
Entre os marcos apresentados estão as manifestações de 30 de agosto de 1988 e os ataques aos educadores em 29 de abril de 2015. Além disso, 19 camisetas temáticas de campanhas da APP estão expostas, simbolizando as diversas fases e causas defendidas pelo sindicato ao longo dos anos.
Paulo Roberto é um dos que se emocionam. Enquanto acompanha a narração da 3ª Marcha Estadual de 2006, ele se lembra da professora que lhe deu aula na terceira série do ensino fundamental, a já aposentada Maria de Lourdes da Silva Prestes, de 72 anos.
Mais uma vez, os dois, sindicalizados do núcleo de Londrina, se reencontram em um congresso da APP e não deixaram de trocar afeto e relembrar os momentos em que Paulo ainda era um aluno de Maria de Lourdes. “Quando cheguei na APP-Sindicato, em 2006, logo encontrei a professora. Eu olhei e falei: eu conheço essa mulher!”, conta Paulo.
Maria de Lourdes não esquece de nenhum dos rostos dos(as) alunos(as) que passaram por suas salas de aula e sempre se emociona ao encontrar algum(a) deles(as) em eventos voltados para a educação. “Nos encontramos em todas as assembleias, e fico orgulhosa de ver o Paulo fazendo parte da APP. Além dele, outro ex-aluno meu também está aqui”, comenta.
Outra Educação é Possível
O movimento “Não Venda a Minha Escola”, que busca engajar a comunidade escolar, lideranças e autoridades para derrotar o projeto Parceiro da Escola, ganha destaque no espaço Silvana Prestes. A campanha é uma resposta ao projeto de privatização das escolas públicas promovido por Ratinho Jr. A medida prevê a entrega de 204 escolas à iniciativa privada, deturpando a proposta de educação pública e repassando verbas públicas para empresas privadas.
Márcio Alves Lopes, agente educacional do Colégio Estadual Professor Paulo Alberto Tomazinho, em Curitiba, destaca a importância de participar do congresso em defesa da educação pública. “Acho importante estarmos aqui para termos argumentos e transmitir isso à população. Além de nós, que trabalhamos nas escolas, os pais e a comunidade poderão entender mais sobre esse projeto de privatização da escola e ver o quanto isso é prejudicial aos(às) alunos(as)”, comenta.
Futuro da APP
“Continuar a luta e a conscientização da sociedade” e “Escola pública não se vende” são algumas das mensagens deixadas na árvore dos desejos, espaço criado para refletir as aspirações e preocupações dos educadores no contexto do Futuro da APP e da educação. Ao compartilhar suas esperanças, os(as) educadores(as) se unem em um propósito comum: garantir que a educação pública permaneça como um pilar da sociedade, resistindo às pressões de privatização e ao desmonte das políticas públicas.
Para a pedagoga Vilma Santos Costa, o momento é fundamental para fortalecer a defesa da educação pública do Paraná. “Esse congresso é importante para que a categoria retorne às escolas e dialogue com os(as) colegas que não puderam estar presentes, atualizando à todos(as) sobre os planos e políticas educacionais e sociais vigentes no Brasil, para termos noção do que enfrentaremos no futuro”, destaca.
Engajamento
Claudia Gruber destaca que a intenção por trás do espaço Silvana Prestes é proporcionar aos delegados uma vivência diferenciada da rica história do sindicato. “Esse espaço imersivo busca engajar os(as) educadores(as) de maneira ativa, permitindo que eles(as) participem dos diversos momentos que marcaram nossa trajetória, como as diversas greves e as conquistas que obtivemos ao longo dos anos. Também é uma oportunidade para conhecer melhor tudo o que foi produzido em termos de conteúdo e iniciativas por parte do sindicato”, finaliza.
Ao criar um ambiente que estimula a reflexão e a participação, a APP busca fortalecer o compromisso de seus membros com a defesa da educação pública. A experiência imersiva estará disponível até o sábado (13), dia de encerramento do 14º Congresso da APP-Sindicato.
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