Mesmo com as aulas presenciais suspensas, devido a pandemia do novo coronavírus, o governo do Paraná tem mantido expediente e atendimento ao público nas escolas estaduais. Servidores(as) que trabalham nessas unidades têm procurado a APP-Sindicato para denunciar desde a falta de orientações e equipamentos de proteção individual até a ocorrência de aglomerações. Os(as) trabalhadores(as) relatam que o medo de serem infectados pela covid-19 é constante.
A funcionária de um colégio estadual de Maringá, Carolina Maria de Deus*, conta que, a cada 15 dias, nas terças e quintas-feiras, todos os setores da escola ficam abertos para atender a comunidade, inclusive com orientações individuais, além do recebimento e entrega de atividades impressas aos(às) estudantes que não conseguem acompanhar as aulas pela internet.
“Eu tenho muito medo de ser infectada. Nestes dias (de atendimento ao público) há uma certa aglomeração e é preciso manusear os papéis que as pessoas trazem de casa, que a gente não sabe por onde passou. O governo não deu luvas pra gente. Eu acho muito arriscado”, conta a trabalhadora.
Segundo Carolina, ela e os(as) colegas usam álcool em gel e máscaras de tecido que eles(as) próprios(as) compraram, porque o governo só teria enviado uma unidade de máscara e apenas uma remessa de álcool para desinfetar sacolas com alimentos entregues à famílias carentes. “A obrigação do governo de nos dar apoio, orientações e equipamentos de proteção não está sendo cumprida”, disse.
Da região noroeste para o sul estado, o problema se repete. “Não recebemos nenhum equipamento de segurança. Só dois litros de álcool 70⁰, recebidos no início de abril” denuncia a funcionária de um colégio estadual de União da Vitória, Dandara Palmares de Souza*. Na escola dela, “nos dias que têm entrega de materiais impressos para os alunos, todas as funcionárias, direção, pedagoga e professores voluntários” são envolvidos na tarefa.
Em Francisco Beltrão, na região sudoeste, a servidora Laudelina Campos dos Reis* também relata falhas na proteção dos(as) trabalhadores(as) e da comunidade. “Estou com medo. Tenho 57 anos e me cuido muito, pois além da idade,tenho um neto que tem problema respiratório. A máscara comprada pelo governo é muito ruim. Nos dias que tem atendimento ao público, não tem como não aglomerar. Os pais não respeitam a fila, nem distanciamento,” disse.
De acordo com os(as) servidores(as) ouvidos pela reportagem, o expediente interno e o atendimento ao público nas escolas estaduais tem sido organizado através de escalas. Serviços gerais, administrativos, técnicos(as), pedagogas(os) e professoras(es) são convocados pelos(as) diretores(as) por força de resoluções publicadas pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed). Os documentos determinam, entre outras questões, a abertura da escola para a entrega de alimentos às famílias em situação de vulnerabilidade social.
Governo descumpre o próprio decreto
Na avaliação da secretaria de Funcionários de Escola da APP-Sindicato, Nádia Brixer, o governador Ratinho Junior não está respeitando o próprio decreto estadual que determina o fechamento das atividades não essenciais.
Segundo Nádia, as aglomerações que estão acontecendo nas escolas são provocadas pelas falhas do modelo de aulas não presenciais imposto pelo governo sem diálogo com as mães, pais, professores(as) e estudantes.
“O governo diz que esse modelo é um sucesso. Mentira! Isso é propaganda. Apesar de todo o esforço dos nossos professores e funcionários, o que eles relatam é exatamente o contrário. Nem todos têm internet ou celular e as aulas da TV não chegam em 114 municípios do estado”, comenta Nádia.
Para a dirigente, o chefe do Executivo estadual e o empresário Renato Feder, secretário da Educação, estão sendo irresponsáveis ao criar condições que obrigam servidores(as) e a comunidade a descumprir o isolamento social necessário para reduzir o número de infecções e mortes pelo novo coronavírus.
Em resposta aos problemas relatados pela categoria, a APP-Sindicato tem cobrado do governo o cumprimento do decreto estadual que determina o fechamento das escolas públicas e privadas, testagem de covid-19 gratuita para todos(as) os trabalhadores(as) da educação, equipamentos de proteção individual e a publicação de um protocolo para os casos em que há infecção pelo vírus no ambiente escolar.
*Os nomes verdadeiros dos(as) entrevistados(as) foram trocados por nomes fictícios, a pedido deles(as), por temerem represálias.
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