A Secretaria da Educação deu início, neste ano, ao projeto Escola Escuta, voltado ao cuidado com a saúde socioemocional dos(as) estudantes. Trata-se de uma ideia bem intencionada, em especial diante do cenário de temor gerado por atentados e ameaças, que exige atenção redobrada à saúde mental da comunidade escolar. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo da execução.
Na prática, professores(as) e funcionários(as) sobrecarregados(as) têm assumido uma nova responsabilidade – para a qual não têm formação – já que o projeto prevê que a escola deve dispor de profissionais do próprio quadro para realizar a escuta.
Os NREs têm cobrado sistematicamente das escolas o registro de ações do projeto. Fotos comprovando a tentativa têm circulado diariamente nas redes, incluindo réplicas de consultórios psicológicos ou terapêuticos onde o(a) profissional da educação se dispõe a ouvir as mais variadas experiências que afligem os(as) estudantes.
A APP-Sindicato alerta que, embora a primeira escuta seja muitas vezes indissociável da rotina dos(as) educadores(as), a abordagem especializada neste âmbito deve ser feita por profissionais formados(as) nas áreas da saúde ou assistência social. Encaminhamentos e aconselhamentos sem a devida formação podem ter consequências catastróficas e resultar na responsabilidade administrativa e até mesmo criminal dos(as) envolvidos(as).
Defendemos que o poder público proporcione à rede ferramentas ágeis e menos burocratizadas para a rápida notificação dos casos que necessitam de atenção à saúde mental, psicológica e emocional dos(as) estudantes, de forma integrada ao SUS. Frisamos, ainda, que também é necessário escutar os(as) educadores(as). A implementação de novos projetos deve ser precedida pelo diálogo com a representação da categoria, e não partir de cima para baixo sem respeitar as diferentes realidades da rede.
Outra iniciativa, mais feliz em sua execução, demonstra haver caminhos para realizar o atendimento sem responsabilizar a categoria. Lançado em junho de 2022 em parceria da Seed com a UEL, o aplicativo Bem Cuidar é uma plataforma de telessaúde que permite o agendamento e consulta gratuita com psicólogos para os(as) educadores(as). Saudamos o anúncio, em abril neste ano, de que o serviço seria ampliado para estudantes, o que ainda não ocorreu de fato.
Por fim, qualquer iniciativa que eleve a sobrecarga dos(as) trabalhadores(as) nas escolas precisa ser acompanhada pela ampliação do quadro de profissionais. Estamos no limite e não podemos nos responsabilizar por um desvio de função temerário, sob pena de agravar os problemas que buscamos resolver, deteriorando a saúde da categoria.
A APP-Sindicato se coloca à disposição para discutir o projeto com a Secretaria da Educação, bem como outras iniciativas voltadas à saúde emocional e psicológica do conjunto das comunidades escolares.