Para vender uma imagem de educação de ponta, o governo Ratinho Junior, junto do Secretário da Educação, Roni Miranda, acentuaram o processo de plataformização da educação pública, entregando boa parte do orçamento da educação para empresas que gerenciam plataformas e ferramentas digitais que se tornaram obrigatórias para educadores(as) e estudantes.
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Em artigo elaborado para o caderno de debates da Escola de Formação da APP-Sindicato, a professora do Departamento de Geografia da UFPR, Carolina Batista Israel, expôs o projeto político de Ratinho Jr. em entregar parte da educação às plataformas digitais. O curso segue com inscrições até o dia 16 de novembro.
Intitulado “Plataformização do ensino no Paraná: a privatização via neoliberalismo digital”, o texto aborda os contratos firmados entre a Secretaria de Estado da Educação (Seed) e empresas como a Microsoft e Google, que oferecem plataformas como Power BI e Classroom, que servem como ferramentas de monitoramento e controle pedagógico.
“Na medida que a Seed impõe todo um currículo, um cronograma de conteúdos que são trabalhados dia a dia na sala de aula, seja com slides prontos que eles colocaram no sistema RCO ou com as plataformas pagas, tudo isso é um processo de homogeneização que retira a possibilidade de professores trabalhem outros conteúdos que sejam demandas dos alunos, da comunidade escolar ou daquele bairro”, explica a educadora
A pesquisadora aponta que a escola é um ambiente para que estudantes possam também aprender sobre cidadania e não só apenas um conteúdo curricular. Outro ponto é a lei aprovada pela Seed que obriga as direções a utilizarem as plataformas digitais, sobre a pena de destituição caso não utilizem as ferramentas.
“A gente vê uma outra camada de controle social a partir dessa lei que regula a instituição das direções das escolas, tornando o uso dessas plataformas obrigatórias. Então não é mais opcional para os professores. Eles têm que, de fato, usar e hoje a Seed tem nas mãos uma plataforma chamada Power Bi que permite verificar se as escolas estão usando as plataformas. A Seed sabe se as escolas estão usando as plataformas e exige que os diretores controlem isso”, completa Carolina.
Carolina aponta que outro aspecto que preocupa é a perda da soberania de dados, uma vez que a maioria das plataformas são estrangeiras e realizam a coleta de informações sensíveis dos estudantes.
“Essas plataformas, quando os alunos utilizam, realizam a coleta de dados desses alunos, não só daquilo que eles fazem nas plataformas, o que já é bastante. Elas contém mecanismos que permitem rastrear os alunos continuamente na internet para além do momento que elas estão fazendo uso das plataformas e começam a seguir os alunos pela internet, como se tivesse navegando com alguém do seu lado, nos seus ombros”
Para finalizar, a professora ressalta que trabalhar o tema no curso de formação é fundamental para que os(as) educadores(as) possam resgatar qual é o sentido da educação que os(as) professores(as) querem.
“Quem constrói o conhecimento são as pessoas, os alunos, e não o professor. O professor vai estimular, ele é um mediador neste processo e para construção desse conhecimento, você precisa acionar os conhecimentos prévios dos alunos, aquilo que eles vivenciam no dia a dia, que chamamos de conceitos espontâneos. O professor, a partir do diálogo, vai descobrir e trazer esses conceitos e convergir com conceitos científicos e esse é o processo de construção do conhecimento”, finaliza.
>> Confira o artigo na íntegra no caderno de debates!
Escola de formação da APP
Neste segundo semestre, o programa de formação terá como tema central a “Política educacional paranaense: a transformação da escola pública em mercadoria”, o qual dialoga com a luta da APP contra a privatização das escolas paranaenses, a partir do movimento “Não Venda a Minha Escola”.
O curso é gratuito e não há um limite pré-estabelecido de vagas para a formação dos grupos de estudos locais, que poderão ser organizados por município, bairro ou escola. Os núcleos sindicais ficam também responsáveis pela organização da atividade, conforme suas possibilidades e condições.
A orientação é fazer a inscrição pelo sistema Minha Sindicalização, no site da APP, e entrar em contato com o núcleo sindical mais próximo para acompanhar o cronograma das atividades ofertadas pelo grupo de estudo.