Uma história de 32 anos de bons serviços prestados à educação do Paraná se encerra em 2023, com o fechamento do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba. O “presente de Natal” do governador Ratinho Jr aos 180 estudantes matriculados(as) deve impedir que a maioria deles continue os estudos.
“Minha preocupação maior são os(as) alunos(as), pois acredito que haverá uma evasão enorme”, afirma Maria Perpétua dos Santos, diretora do CEEBJA Mandirituba. “Eles estão sendo empurrados para a desistência, infelizmente”, completa.
O fechamento do CEEBJA Mandirituba é mais um ataque de Ratinho Jr à Educação de Jovens e Adultos, que ameaça outros colégios, como o João Paulo II, Padre João Wislinski, Máximo Atílio Asinelli, Maria Balbina Costa Dias, Euzébio da Mota, Júlio Mesquita, Isolda Schmid, Manoel Ribas e Isabel Lopes Santos Souza – todos esses apenas em Curitiba.
Os(as) estudantes matriculados já foram comunicados do fechamento e serão encaminhados para o Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco, que fica próximo e ainda não oferece EJA. Segundo Maria Perpétua, esse colégio tem salas de aula disponíveis no período noturno, mas não tem espaço para a guarda de documentos, por exemplo. “Eles nunca trabalharam com EJA lá e isso talvez cause um pouco de transtorno”, afirma.
A troca de escola não está sendo bem aceita pelos estudantes, relata Maria. “Alguns, senhores e senhoras com mais de 50 anos de idade, sentem que o ambiente compartilhado com jovens de idade adequada ao ensino regular não será confortável a eles”, conta.
Além dos(as) alunos(as), o fechamento da escola prejudica também os(as) educadores(as). Os(as) professores(as) PSS terão mais dificuldade de fechar a grade no ano que vem, pois haverá menos aulas disponíveis. Os QFEBs e os(as) pedagogos(as) QPM tiveram que pedir remoção.
“No caso dos QFEBs, os agentes 1 pediram remoção para o Colégio Joaquim. Eu pedi pra Fazenda Rio Grande, pois não tinha vaga no Joaquim, e a secretária está aguardando ordem de serviço pois teve a remoção indeferida”, relata Maria.
O CEEBJA Mandirituba funciona em dualidade com a Escola Municipal Bom Jesus. A prefeitura vai usar todo o espaço para ampliar a escola e abrir período integral. “Desta forma, a chefia do NRE pediu que entrássemos com o pedido de cessação definitiva e nossos alunos serão remanejados”, diz Maria.
Em 32 anos de história, o CEEBJA Mandirituba formou cerca de 7 mil estudantes, inclusive de municípios vizinhos. como Fazenda Rio Grande, Agudos do Sul e Quitandinha. “Somos um dos CEEBJAs pilotos da região e infelizmente hoje está sendo fechado”, lamenta Maria.
Política da tesoura
Essa imposição do governo faz parte de uma escolha política da gestão Ratinho Jr. que, ao invés criar ações para incentivar jovens e adultos que não concluíram os estudos a retornarem para a escola, têm criado dificuldades para que essa população acesse o direito à educação assegurado na Constituição.
Dados do Ministério da Educação analisados pela APP-Sindicato confirmam que as ações tomadas pela gestão de Ratinho Jr. têm destruído a educação de jovens e adultos no Paraná. O estado lidera o ranking de analfabetismo na região sul do país. São mais de 365 mil (3,9%) paranaenses com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever.
Desde que assumiu, em 2019, até 2022, o atual governo já acabou com a oferta da EJA ensino médio em 27 escolas e da EJA ensino fundamental em 54 estabelecimentos. Em consequência do fechamento de escolas e do fim da oferta de ensino flexível, as matrículas caíram 59%, registrando uma queda brusca de 125.881 para apenas 51.726 alunos(as) em apenas quatro anos.
Defenda a sua escola
Educação é um direito da sociedade e um dever do Estado, que tem a obrigação constitucional de garantir o acesso e a permanência a todos(as). Por isso, a APP preparou algumas orientações para ajudar a comunidade escolar a se organizar e defender esse direito. Confira abaixo.
Se a sua escola está sob ataque, saiba como resistir:
- Organize a sua escola
Convoque toda a comunidade escolar, o grêmio estudantil e, se possível, lideranças e políticos(as) locais para uma reunião. Debata os prejuízos do fechamento e faça uma ata com a decisão da comunidade. Utilize dados e informações que justifiquem a permanência do período noturno. Colete a assinatura de todos(as) os presentes.
- Faça-se ouvir
Organize um abaixo-assinado a partir da ata para que todos(as) possam manifestar apoio. Organize uma comissão e leve o documento ao Núcleo Regional de Educação, Ministério Público, Prefeitura, Câmara, Conselho Tutelar e outros órgãos. Acione a imprensa local e faça barulho nas redes sociais.
- Conte com a APP
Procure o Núcleo Sindical da APP-Sindicato da sua região. Envie informações e a ata para APP estadual pelo e-mail [email protected]. Nas redes sociais, marque a gente: @appsindicato
Defenda a sua escola!