Da mesma forma que a semente precisa de um conjunto de fatores para que ela germine, os(as) educadores(as) que trabalham no campo também necessitam de um terreno propício para semear e ver florescer o trabalho de formação intelectual e cidadã dos(as) estudantes campesinos(as). Foi com esse objetivo que a APP-Sindicato, junto com a Articulação Paranaense para uma educação no Campo, organizou um Seminário Estadual de dois dias, onde professores(as), pesquisadores(as), funcionários(as) de escola e trabalhadores(as) rurais analisam e debatem a situação das escolas do campo de todo Paraná.
O evento, que começou nesta sexta-feira (21) e irá até amanhã (22) reúne profissionais que defendem a permanência das populações campesinas no campo e batalham para que estes(as) cidadãos(ãs) tenham condições de permanecer no ambiente rural. “A existência das escolas do campo é um dos itens da pauta de revindicação da Articulação. O Seminário irá diagnosticar a situação das escolas do campo hoje do Paraná, apresentará pesquisas feitas na área e socializará o debate e a realidade das diversas regiões do Paraná para que possamos compor um cenário e traçar um panorama de como faremos esse enfrentamento”, apresenta a professora e secretaria educacional da APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto.
A professora da educação do campo do NS de Cascavel, Silvana Rodrigues da Fonseca conhece de perto a realidade das escolas do campo que ainda resistem abertas no Paraná. “É outra realidade. quando trabalhei na cidade, tinha uma estrutura com salas, cadeiras e ar condicionado. Agora sou professora da educação no campo e onde estou, não temos acesso à internet, iluminação adequada, nenhuma área esportiva ou lazer. Ao mesmo tempo a gente fica se assusta, a gente fica encantada em ver a garra dos alunos e educadores do campo. É encantador ver a vontade que eles têm em estudar. Eu vim aqui para encontrar uma perspectiva para esses meus alunos”, anseia a professora.
Para fortalecer esses(as) trabalhadores(as) que querem continuar semeando a esperança, o Seminário teve, na parte da manhã, um apanhado histórico, político e social para compreender a realidade da classe trabalhadora e da resistência dos movimentos campesinos. “De 2013 para cá, a burguesia brasileira se empenha, e muito, em destruir movimentos populares. O golpe é a fase atual do capitalismo. O que eles querem? Ampliar o lucro. E qual a estratégia? Aumentar a produção e diminuir a remuneração”, contextualiza Roberto Baggio, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao falar sobre a importância da resistência dos(as) trabalhadores(as) diante do atual momento político e econômico que o país vive.
Sair mais fortalecido enquanto classe trabalhadora. Para contribuir com esse objetivo a professora, vice-presidenta da CNTE e dirigente da APP-Sindicato, Marlei Fernandes de Carvalho, conversou sobre a realidade dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as) em um cenário pós-golpe e como isso atrapalha o ensino e o aprendizado nas escolas do campo. “No momento em que governantes se empenham em retirar direitos da classe trabalhadora, a corrupção está sendo usada como justificativa para cortes. Este governo golpista e ilegítimo está ousando alterar 114 itens da CLT. São quase 100 anos de conquistas que estão sendo jogados no lixo. Aqui, o governador Beto Richa vai poder dizer: eu não tenho dinheiro para manter a escola no campo. Vamos terceirizar. Isso significa empresas privadas contratando professores, funcionários, pagando menos e ainda ditando toda a parte pedagógica”, denuncia a professora.
Também contribuiu com o debate o representante da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (Assesoar), Ricardo Callegari, ao explicar porque mesmo produzindo tanto, o Paraná dá de ombros para o(a) trabalhador(a) e para o estudante do campo. “Dentro da divisão internacional, o Brasil é responsável por produzir cana, soja, milho, leite e celulose, isso na mão de grandes latifúndios. No Paraná, 1% dos proprietários de terra, controlam 37% da área agricultável do Estado. Isso diz muito da nossa questão agrária. A gente não produz alimentos, a gente produz lucro para grandes empresas. Essa lógica se dá pela exploração de trabalhadores”, quantifica. Callegari ainda continua: “a bancada ruralista é a maior no Congresso, só o Paraná, tem 14 deputados ruralistas. São 14 empresários donos de terra pressionando para que índios não tenham terra, para que a reforma agrária não aconteça: é uma batalha desigual”.
Com a realização do Seminário, a APP-Sindicato integra a parcela daqueles e daquelas dos que além de acreditar na existência de uma sociedade mais justa e igualitária, também plantam sementes para fazer nascer uma escola com condições de ensino, aprendizado e desenvolvimento para todos(as) os(as) jovens do campo.