“Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”, essa máxima freiriana é totalmente adequada à atividade promovida pela APP-Sindicato no último final de semana. De 20 a 22 de maio, a Secretaria de Gênero, Relações Étnico-Raciais e dos Direitos LGBT organizou o seminário estadual ‘Por uma escola sem machismo, racismo e LGBTfobia’. De acordo com a secretária da entidade, professora Elizamara Goulart, o debate foi ainda mais necessário em vista do momento crítico, quando setores conservadores – e autoritários – da sociedade querem exterminar direitos conquistados pelas chamadas minorias no Brasil. A atividade aconteceu na sede estadual da APP, em Curitiba, e reuniu mais de 200 pessoas vindas de todas as regiões do Estado.
“O objetivo foi pensar para dentro da categoria, o nosso posicionamento diante dos ataques sofridos pelos Direitos Humanos – e que são bandeiras da nossa entidade – e que têm sido desferidos por parte, principalmente, de setores conservadores da nossa sociedade. São posições de pessoas que estão no Congresso Nacional e, neste momento, também dentro do governo federal, além de no nosso Estado. É importante que a nossa categoria debata este cenário”, avaliou. Ela também ressaltou a necessidade de analisar os temas do seminário à luz do que está posto nos planos nacionais, estadual e municipais de Educação. “Os planos de Educação do Paraná e do restante do Brasil foram bastante questionados no que diz respeito às discussões sobre uma série de coisas que estão no cotidiano escolar”, alertou a secretária de Gênero da APP.
Segundo ela, questões como a violência contra a mulher, chamada de violência de gênero, a discriminação sofrida pelos meninos e meninas LGBTTs que frequentam as escolas e, também, o racismo, são fatos presentes no cotidiano. “Não debater, silenciar sobre estes temas, é muito ruim. Porque eles não deixarão de acontecer. Eles estarão continuamente sendo registrados e vividos dentro das escolas”, apontou Elizamara. Para o assessor da Secretaria de Gênero da APP, Robson Padilha, as contribuições trazidas ao debate pelos convidados e participantes foram extremamente ricas.
“Trouxemos filósofos, teólogos, educadores, mães de santo, representantes de diversos movimentos. Falamos sobre laicidade na escola, extermínio dos jovens negros e de homossexuais. Analisamos como nos comunicar com a juventude, diante de tantas inovações tecnológicas, e como estes problemas refletem-se na comunicação intermediada por novas mídias. E também pensamos longamente sobre como é, de fato, o modelo de escola que queremos, livre de machismo, racismo e LGBTfobia”, relembrou. Além disso, a atividade também contou com várias apresentações culturais, entre elas, a do Coral Gay de Curitiba, o primeiro do Brasil.
Encaminhamentos – No encontro realizado pelos coletivos da APP – feminista, de combate à LGBTfobia e de combate ao racismo – as dezenas de participantes de cada grupo retiraram uma série de encaminhamentos. Entre elas, a produção de conteúdos que possam sem utilizados, nas escolas, para debate com a comunidade e com os(as) estudantes. Além disso, foi definido que, em breve, serão disponibilizados os contatos dos palestrantes, bem como a íntegra das falas de cada um, em vídeo, durante o seminário. Além disso, foi definido que o debate precisa ser levado ao interior do Estado e, através de votação, Maringá será a sede do seminário em 2017 e Guarapuava sediará o encontro em 2018.
Para a professora Elizamara, mais uma vez, a APP se coloca na vanguarda do pensar a escola como um ambiente democrático e de respeito às diferenças, assim como uma fomentadora da resistência na luta dos movimentos sociais. “Trouxemos para a nossa prática, no cotidiano da escola, como dialogar com as pessoas numa perspectiva de respeito. Como servidor ou servidora pública, como professor, professora, funcionário e funcionária, estamos ali para tratar as pessoas com igualdade. É isso que devemos fazer. As convicções religiosas, a forma como julgo o mundo não pode interferir na forma como lido com o estudante ou com a estudante em sala de aula. Porque todos eles e todas elas têm, independente da orientação sexual, da identidade de gênero, do credo, da raça, da origem, da classe social, o direito de receber, de forma igual, o conhecimento. Não temos direito de discriminar e julgar. Se pensarmos em quem é predominantemente valorizado no Brasil, sempre será o indivíduo do sexo masculino, branco e rico. E quem foge a este padrão? Não merece ser reconhecido? Então, são questões que devemos aprofundar o debate e mudar, de fato, a realidade nas escolas”, alertou.