Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo é crime no Brasil, punido com pena de reclusão de dois a cinco anos e multa.
Mas um suposto trabalho escolar realizado no Colégio Cívico-Militar Marquês de Caravelas, em Arapongas, e divulgado pela própria escola nas redes sociais, ignorou a gravidade do assunto e foi denunciado pela deputada federal Carol Dartora (PT), neste domingo (8), por apologia ao nazismo, regime extremista que matou milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.

Além da reprodução da simbologia, o “trabalho” envolveu entrevista com a filha de um soldado nazista, romantizando um dos regimes mais vis e abjetos da história da humanidade ao retratá-los como vítimas do exército vermelho. Vale lembrar que a URSS – responsável direta pela derrota do nazismo – pagou o maior preço da guerra com mais de 20 milhões de mortos.
De acordo com a publicação, o Núcleo Regional de Educação (NRE) de Apucarana ainda curtiu a postagem e a professora responsável pela atividade seria apoiadora do ex-presidente Bolsonaro e teria frequentado os acampamentos golpistas que pediam um golpe militar contra o resultado das urnas que elegeu Lula presidente.
Após a denúncia, a postagem teria sido excluída pela escola. Procurado pela imprensa para dar explicações sobre o assunto, o NRE endossou a prática considerada criminosa pela legislação e respondeu, em nota, negando o conteúdo que é visto nas imagens.
Segundo o órgão, a atividade com bandeiras enormes exibindo símbolos nazistas, alunos(as) usando bonés com a cruz suástica e até um boneco representando Hitler “não se trata de uma apologia a qualquer regime”. Para a APP-Sindicato, a resposta do NRE, além de não reconhecer o problema, é desastrosa, pois naturaliza esse tipo de iniciativa ilegal e abre portas para outras ocorrências semelhantes nas escolas.
Ideologias fascistas
Secretária Educacional da APP, Vanda do Pilar Santana considera que a defesa do NRE não tem sustentação na realidade, pois há limite entre a autonomia docente, liberdade de cátedra de ensino, e o que a humanidade já consensuou como crime e como apologia nazismo, machismo, racismo e lgbtfobia.
Para a dirigente, a partir das imagens divulgadas, é possível concluir que o ambiente reproduzido na escola fez apologia ao nazismo e ao holocausto. O suposto trabalho envolveu estudantes do 3º ano do ensino médio e ainda contou entrevista da filha de um soldado nazista.
“O que fica muito forte nessa atividade da escola é a imagem e a imagem tem simbolismo de apologia à violência, apologia ao nazismo, com aquelas bandeiras vermelhas com a suástica e a reprodução do Hitler, os estudantes com uma posição bastante autoritária, que representa muito bem os soldados nazistas”, explica.
Vanda lembra que a sociedade precisa enfrentar o avanço de grupos da extrema direita e a disseminação de ideologias fascistas. Ela destaca a necessidade de uma reflexão sobre como as redes sociais têm sido utilizadas para atingir essa finalidade.
“Precisamos sempre repudiar qualquer manifestação que represente apologia ao nazismo. Que seja processo pedagógico para nós, para a professora, para os estudantes, para a Seed, enfim, para toda a sociedade”, afirma.

Não é a primeira vez
A denúncia da parlamentar gerou uma onda de indignação e muitos questionamentos sobre a doutrinação ideológica dos(as) estudantes nas escolas cívico-militares no Paraná. O modelo foi implantado pelo governador Ratinho Jr., nos moldes do projeto criado por decreto pelo ex-presidente Bolsonaro.
Este caso envolvendo a promoção de ideologias extremistas nas escolas públicas da rede estadual já é o segundo em cerca de 30 dias. No mês passado, a APP denunciou um slide elaborado pela Secretaria da Educação (Seed) em que vítimas da ditadura eram chamadas de “antipatriotas” e “esquerdistas”, reproduzindo a narrativa bolsonarista sobre o regime militar.
Leia abaixo a nota do chefe do NRE de Apucarana, Vladimir Barbosa, enviada ao TNOnline.
“O Colégio Estadual Marquês de Caravelas e o Grêmio Estudantil do Colégio Marquês de Caravelas, de Arapongas, postaram uma reportagem em seus perfis apresentando um trabalho sobre a Segunda Guerra Mundial. Ressaltamos que o trabalho desenvolvido não se trata de uma apologia a qualquer regime, mas sim uma tentativa de detalhar os horrores da Segunda Guerra Mundial para que tais eventos sombrios nunca mais se repitam.
Este trabalho, intitulado como Segunda Guerra Mundial, é uma obra de extensa pesquisa e reflexão, que busca iluminar os acontecimentos que marcaram a era do nazismo. É importante esclarecer que este projeto não glorifica de forma alguma o nazismo, mas, em vez disso, busca promover uma compreensão mais profunda do que aconteceu durante esse período da história mundial.
O NRE de Apucarana curtiu a publicação, não por fazer apologia ao Nazismo, mas por acreditar que a educação é uma ferramenta poderosa para prevenir a repetição de tragédias como o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. Este trabalho não apenas detalhou os horrores do passado, mas também buscou inspirar uma reflexão crítica sobre como podemos promover a tolerância, a compreensão, a paz no presente e no futuro.”