Em outubro de 2016, a sociedade paranaense descobriu a força da luta estudantil no Estado. Aproximadamente 900 escolas públicas foram ocupadas no Paraná por estudantes indignados com a Medida Provisória (MP) que modifica o Ensino Médio no país. A Medida Provisória 746/2016, assinada por Michel Temer, foi imposta sem debate com educadores(as), pesquisadores(as) da área da educação, estudantes, comunidade escolar, sociedade em geral. Uma MP enfiada goela abaixo, sem qualquer caminho democrático para a definição de que o Ensino Médio passaria por uma reforma estrutural, de método e conteúdo.
As ocupações foram uma demonstração do descontentamento geral de estudantes da escola pública. Enquanto estavam sem aulas regulares, os(as) estudantes fizeram reformas na estrutura, faxinas, oficinas com debates sobre a comunidade e diversas atividades que ensinam para além da sala de aula. Ana Julia, de 16 anos, esteve na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) no dia 26 de outubro e fez um discurso que repercutiu em todo o país. A estudante secundarista resumiu bem como foi o movimento nas escolas. “A minha pergunta inicial é: de quem é a escola? A quem a escola pertence? (…) Nós não estamos lá de brincadeira, nós sabemos pelo que nós estamos lutando, a nossa bandeira é a educação. A nossa única bandeira é a educação”, destacou.
Além das denúncias recorrentes que a APP-Sindicato e a sociedade fazem sobre a estrutura decadente das escolas, as ocupações também tiveram esse papel. No entanto, não foram somente os estudantes que apresentaram denúncias da situação degradante em a escola pública se encontra. O Conselho Tutelar – distribuído em 45 conselheiros, com 5 em cada regional – visitou escolas ocupadas em Curitiba e confirmou na prática o que os estudantes sentem no dia a dia: as condições da escolas públicas são precárias. Não bastasse o Conselho Tutelar confirmar o que os cartazes e palavras de ordem dizem há anos, ainda constataram que as ocupações eram pacíficas, com muita organização e cuidado com o patrimônio público. Estudantes que deram uma aula de cidadania.
As ocupações também deram visibilidade aos desvios de dinheiro público que a educação sofreu no Paraná. A operação Quadro Negro, que teve início em junho de 2015, investiga o desvio de R$20 milhões de reformas e construção de novas escolas por vários municípios do Estado. Um esquema de corrupção que ainda está sendo investigado, mas que já aponta indícios para onde foi o dinheiro de obras tão essenciais em comunidades que esperam por melhores condições nas escolas há anos.
Se tem uma coisa que os(as) estudantes paranaenses fizeram foi barulho. Gritaram alto sobre a injustiça de uma MP que afeta suas vidas, de uma estrutura que não permite uma educação de qualidade e o descaso de que a escola pública é vítima. O que se espera é que esse barulho continue ecoando até que o dinheiro desviado seja devolvido, que as pessoas responsáveis sejam punidas e que, finalmente, seja possível esperar um futuro melhor. Para educadores e estudantes, o que se espera é que a educação seja mesmo a prioridade de que tanto falam os discursos governistas tão corriqueiros e demagogos.
Matéria publicada na edição 207 do Jornal 30 de Agosto