As eleições 2018 estão se aproximando e junto os temas considerados “chaves” para uma gestão pública. Um dos sinais de alerta junto à sociedade relacionam-se com questionamentos de vários(as) pesquisadores(as) da área educacional. Vamos falar em militarização no cenário da educação.
Sabe-se que a educação militar é extremamente disciplinadora, mas, engana-se quem pode interpretar como algo positivo. Questionável, talvez? Pensar em mais do que o conteúdo programático das matérias ensinadas, é enfatizar a maneira de como ensinar. É correto condecorar os(as) melhores(as) alunos(as) e excluir aqueles(as) com mais dificuldades ou que não se adaptam? Esse já é um assunto a refletir.
Outro ponto que contradiz é o viés de “adestramento” que a disciplina militar tem, impõe e que extrapola as exigências pedagógicas na prática. No mundo atual queremos criar cidadãos(ãs) robotizados(as) ou seres humanos com liberdade de se expressar, pensar, agir e evoluir?
Não é de hoje que alguns políticos(as), como o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), enfatizam a prática como ideal. Em entrevistas a veículos de comunicação, Bolsonaro é taxativo em afirmar a militarização nas escolas e com a ânsia em colocar em frente ao Ministério da Educação (MEC) um general que já tenha comandado algum colégio militar pelo país e militares para a administração. Ele exemplifica com alguns colégios públicos estaduais do Amazonas e de Goiás que já seguem esse “modelo exemplar”. Bolsonaro acredita que revistar alunos(as), cantar o hino nacional, ter aula de educação moral e cívica, chamar os9as) professores(as) de senhores(as) e não tio(as), ficar em pé no momento em que os(as) professores(as) entram nas salas de aula equivalem-se a pessoas que têm noção forte de disciplina e hierarquia, que atualmente faltam nos colégios brasileiros.
A APP-Sindicato é a favor da concepção pedagógica multilateral. Já o ensino militar, ao contrário, prioriza o conceito unilateral. Vale lembrar que o princípio pedagógico rege a construção de uma autonomia intelectual dos(as) indivíduos(as) e não de “adestramento”.
Cenário brasileiro em números – são mais de 100 colégios militares espalhados. Concentram-se principalmente em Goiás, Minas Gerais e São Paulo. No Paraná, a militarização não integra “oficialmente” a política da Secretaria de Educação do Paraná (Seed). São dois colégios militares até o momento, um em Curitiba e outro em Londrina, mas existem projetos em estudo (e alguns adiantados) para a criação de colégios militares em Pato Branco, Cascavel e Cornélio Procópio. Divulgou-se recentemente análises para a instalação de quatro novas unidades de colégio da Polícia Militar do Paraná nas regiões do Sudoeste, Norte, Noroeste e Oeste do Estado.
Em algarismos, ainda não é alarmante, pois a rede pública paranaense consta com mais duas mil escolas. Preocupante sim, é ver o desejo de comunidades escolares e Núcleos de Educação reivindicarem a implantação de colégios militares como solução a problemas educacionais e de violência nas escolas. Sendo que na prática não funciona assim. O apelo é intenso pelo falso discurso dos poderes da militarização. Militarizar a sociedade não é resposta para diminuir a violência, já comprovado em estudos. Não se transfere do ambiente escolar para toda a sociedade, é uma questão com outros entraves. Militarização em escala de escolas públicas também demanda alto investimento, pois para a instalação desses colégios a própria Polícia Militar impõe certas condições a se cumprir. Adestrar é forte, assim como a realidade vivenciada pela militarização. Não somos iguais, cada um(a) é diferente. Precisamos valorizar a expressão individual e de potencialidades. Fica a reflexão a todos(as).
Autonomia de pensamento – é um princípio pedagógico fundante aos(às) sujeitos(as). O contrário, a heteronomia, faz com que as pessoas passem a ser reguladas sobressaindo à necessidade e vontade de aprender. Assim é a teoria do conceito militar de educação, que simplesmente condiciona o modelo de aprendizagem. Invariavelmente não se cria a autonomia do ponto de vista intelectual, ou seja, é muito sério. Temos que deixar o ser humano se reconhecer como ser pensante. Na conformação, cidadania e emancipação, o(a) sujeito(a) fica condicionado(a) e bitolado(a) a olhar o mundo apenas com unilateralidade. Afinal, é a partir do pensamento crítico é que se faz escolhas e toma as próprias decisões.
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