As escolas estaduais do Paraná terão eleições diretas para Direção no próximo dia 3 de dezembro. Depois de muita luta para manter o processo eleitoral e, mesmo com as alterações da lei que rebaixou o processo, estamos num momento de disputa que passa por muita reflexão.
É um momento de disputa de projetos para o melhor encaminhamento para a escola pública. É um momento especial de debate para um processo de gestão democrática e de um projeto coletivo e participativo que gere novas práticas no cotidiano escolar.
Defender a democracia e a gestão democrática nos coloca muitos desafios, não há espaço para paralisia. Retomar a luta permanente por direitos, reforçando nossas organizações e ampliando o espaçode participação constante são lutas que ganham força.
É preciso superar a tendência dominante de cima para baixo na perspectiva de que é a partir da ação coletiva da escola, do sistema e da sociedade que deve ser exercido o poder e assim poder controlar o próprio poder com a reafirmação do caráter público da escola como dever do estado.
O desafio do processo eleitoral: compreendo que nas macro eleições (para governos e parlamento) ou nas micro eleições (escolas, associações, sindicatos, etc), que o processo não deveria se esgotar no ato de votar. A herança cultural calcada na tradição autoritária, no silêncio imposto por décadas de ditadura militar, relações familiares patriarcais, preconceitos, indisponibilidade de tempo e espaço para participar, falta de vivência participativa nas diversas instâncias da vida civil, transferem ao eleito o ato participativo. O grande efeito dessa cultura pode levar ao autoritarismo ou mesmo o desacreditar do coletivo e da esperança de mudanças. São recorrentes no ideário comum a não-participação. Ideário liberal que adota a democracia e a restringe de acordo com os interesses dominantes. “Não adianta participar”, “não muda”, “sempre foi assim e sempre será” são rupturas comum com a democracia.
São essas dificuldades que precisamos superar na perspectiva da gestão democrática da escola. Temos instrumentos para a construção de uma escola mais humana, mais coletivizada e mais educativa que devemos acionar: assembleia geral de mães e pais, assembleia geral com professores(as) e funcionários(as), incentivo aos grêmios estudantis, fortalecimento e funcionamento do conselho escolar como instância máxima de decisões, conselhos de classe com a representação de todos os segmentos, gestão administrativa e financeira transparente e participativa, reconhecimento da representação sindical, entre outros.
Não reproduzir os erros das eleições gerais: este princípio é que mais me causa medo e decepção Quando vemos ações com os mesmos erros e procedimentos que ocorrem em boa parte das práticas das eleições gerais, só podemos ter uma conclusão: para que serve o processo eleitoral das escolas? Ele só serve para os elementos descritos acima e para na prática exercer a democracia. É um exercício. É uma necessidade de ação permanente. É uma forma de organização.
Vale destacar que não é possível aceitar favores ou troca deles, promessas, malediscências, desacatos, machismo, homofobia, racismo, jeitinhos, etc. Essas ações somente desabonam o processo, e mais, deseducam no espaço que é o centro de educação e das relações solidárias. Destaco esses elementos para lutarmos juntos para que não se tornem prática. Se essas práticas prevalecerem o projeto não é coletivo e nem é projeto, e sim mais uma etapa de individualidade.
Quero solicitar que as mães, pais, responsáveis e estudantes para participarem ativamente das eleições depositando seu voto com confiança nos princípios aqui apresentados e que continuem participando ativamente da vida da escola.
Aos professores(as) e funcionários(as) que disputarão as eleições muita força, coerência, lucidez e ação democrática.
“Educar na liberdade não é sinônimo de licensiosidade, mas sim de amorosidade que considera a necessária disciplina pedagógica democrática e significa adotar uma perspectiva dialógica, problematizadora e criativa da educação, que só cabe ao(à) educador(a) progressista.” (Paulo Freire).
*Secretária de finanças da APP-Sindicato, professora da rede pública estadual do Paraná, especialista em educação, foi presidente da APP.