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Contrariando o governo federal, economistas, centrais sindicais e empresários, o Banco Central do Brasil (BC) tem mantido a taxa Selic em 13,75%, a mais alta do mundo. Além de ameaçar a retomada do desenvolvimento do país, essa decisão afeta diretamente a vida da classe trabalhadora, inclusive professores(as) e funcionários(as) de escola.
Com a taxa básica de juros da economia elevada, os empréstimos pessoais, financiamentos imobiliários e outros tipos de crédito se tornam mais caros. Os consignados, por exemplo, que já comprometem a renda de parte significativa da categoria, têm parcelas caras, agravando ainda mais o endividamento.
Juro alto também diminui o poder de compra da população. Somando tudo isso com a defasagem salarial acumulada nos últimos anos, sobra menos dinheiro no bolso dos(as) educadores(as) para consumir bens e serviços. Uma consequência disso é a queda no padrão de vida estabelecido.
Mas as consequências não se limitam ao presente. As altas taxas de juros dificultam o planejamento financeiro a longo prazo, tornando mais difícil estabelecer metas financeiras de longo prazo, como adquirir um imóvel ou investir em uma poupança para os(as) filhos(as).
Esse cenário também prejudica a capacidade de investimento, pois só quem quem tem recursos para investir em aplicações financeiras é que ganha dinheiro com a taxa de juros alta. Não é o caso dos(as) educadores(as), que têm salários baixos e não podem se dar ao luxo de reservar quantias significativas de dinheiro para investir.
Ranking
De acordo com dados do Ranking Mundial de Juros Reais, divulgado em junho pela empresa Money You, o Brasil lidera a lista dos países com as maiores taxas de juros atuais, descontadas a inflação projetada para os próximos 12 meses. Confira abaixo os 10 primeiros que aparecem no levantamento.
- Brasil 7,54%
- México 5,94%
- Colômbia 5,16%
- Chile 4,89%
- África do Sul 2,73%
- Filipinas 2,59%
- Indonésia 2,56%
- Hong Kong 2,47%
- Reino Unido 2,11%
- Israel 1,70%
Fonte: Money You
Efeito cascata
Outro efeito gravíssimo é a despesa que essa taxa gera para os cofres públicos. Segundo o assessor econômico da APP-Sindicato, Cid Cordeiro, a manutenção dos 13,75% vai custar um adicional de R$ 1,9 bilhão ao Paraná em 2023, apenas com dívidas bancárias e com a União.
Pelos cálculos do especialista, esse valor seria suficiente para pagar um reajuste salarial de 7,6% aos servidores(as) públicos(as) do Paraná por 12 meses. Essa quantia também poderia ajudar a melhorar serviços públicos como educação, saúde e segurança, mas vai para os bancos aumentarem seus lucros.
Considerando que a maior parte dos(as) servidores(as) do Poder Executivo do Paraná são mulheres e que mais da metade delas (52%)¨são professoras, mas mesmo assim a média salarial delas é 20% inferior que a dos homens, com base em dados da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2024, percebe-se que as educadoras são prejudicadas em efeito cascata. Elas ganham menos, não recebem a reposição devida e, consequentemente, sentem com mais força o impacto dos juros altos.

Não existe razão
“Não há porque manter a taxa de juros nesse patamar elevado. A inflação está sob controle, a valorização do real perante o dólar é uma realidade, o governo atua em todas as frentes para reconstruir o Brasil, mas o Banco Central tem agido como um poder à parte, na contramão da vontade da maioria da população e dos poderes constitucionais e das reais necessidades de um país em reconstrução”, diz a Central Única dos Trabalhadores (CUT) em nota publicada no mês de junho.
A manifestação foi divulgada após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O órgão, que se reúne a cada 45 dias para decidir sobre a taxa Selic, é conduzido pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado pelo governo Bolsonaro e com mandato até o final de 2024.