Comemorado no dia 28 de abril, o Dia Internacional da Educação é um marco importante, que deve fomentar reflexões sobre o tema, principalmente visando uma escola pública de qualidade e democrática. Sempre lutando para que a educação seja valorizada no país, a APP-Sindicato atua ativamente na luta, se colocando em diversas frentes para garantir a autonomia das escolas e a autonomia na construção de um currículo humanitário.
Em função da data, o Sindicato realizou uma entrevista com o Presidente da APP-Sindicato, Professor Hermes Leão, sobre a luta do Sindicato em períodos de ataques a educação pública, mesmo durante uma pandemia. Confira a entrevista completa abaixo:
APP-Sindicato – Atualmente qual é o maior desafio que os profissionais da educação enfrentam para aplicar uma educação de qualidade?
Hermes Leão – Hoje nós temos vários desafios que são cruciais para uma educação de qualidade. Primeira a valorização dos trabalhadores(as) da educação, passando pelos professores(as), funcionários de escola. A valorização de direitos e atendimento destes direitos que vêem sendo atacados. Sem uma categoria estar segura sobre seus direitos, se sentindo sempre ameaçados(as) e os ataques constantes sobre redução e ameaças de destruição de direitos, nós não conseguimos fazer um trabalho com a entrega, segurança e a tranquilidade necessária para este trabalho.
Em segundo lugar é importante que todos compreendam a necessidade de valorização da ciência, do conhecimento, como um processo de emancipação e autonomia de cada estudante para a construção de uma sociedade mais avançada. Uma sociedade de valores calcados na justiça, solidariedade e igualdade. Nós lutamos com um desafio muito grande que é o consumismo e o imediatismo das coisas, é uma luta fazer com que os estudantes se interessem pelo conhecimento.
APP-Sindicato – Qual é o projeto do governo federal e estadual para a educação e como os profissionais da educação se posicionam diante dela?
Hermes Leão – No cenário nacional nós temos um ministério da educação que de maneira inédita coloca um projeto de poder que é uma anti-educação. O ministro é um adversário e coloca a educação como sua inimiga, então é muito difícil. É um projeto de desmonte, principalmente da educação superior público, que é gerida pelo próprio ministério, mas interfere também na educação pública como um todo. Então neste momento nós lamentamos que no governo federal tenhamos um ministério que joga contra o desenvolvimento, contra uma educação pública de qualidade.
No estado do Paraná, o governo Ratinho optou por um modelo empresarial de educação, no sentido do livre mercado. Então nós estamos desde 2019 fazendo uma valaiação e um balanço das extremas dificuldades das quais a rede pública do Paraná enfrentará neste período. Um período de não atendimento dos direitos, tanto que foi necessário duas greves gerais no mesmo ano e primeiro ano de governo, o que é muito desgastante, mas necessário. Então denunciamos um projeto educacional que prioriza o privado em detrimento do público.
APP-Sindicato – Como a categoria e o sindicato avaliam o EAD de Ratinho?
Hermes Leão – O processo de educação a distancia pressupõe toda uma preparação, um planejamento, uma formação adequada de professores, de tutores, de técnicos e também dos estudantes que precisam entender e aceitar a proposta.
A educação a distância ainda é uma modalidade com muitas dificuldades onde já é regulamentada, tem um índice de evasão muito alto e na rede básico nós entendemos que não é uma proposta adequada. Nós temos posição contrária contra o EAD para jovens e adultos, educação prisional, que já são tentativas colocadas. Somos contra também o EAD no ensino médio, onde já existe uma previsão de um percentual de educação à distância.
Entendemos que a formação dos estudantes deve ser feita em uma educação presencial, essas outras propostas vem como complementação ou especialização depois.
APP-Sindicato – Por que Ratinho tenta interferir na gestão das escolas e o que ele pretende com isso?
Hermes Leão – Nesse período do governo Ratinho Jr. acentua-se uma postura que já havíamos denunciado no governo anterior. Uma postura de quebra de autonomia do projeto político pedagógico das escolas, do pensar da realidade local em detrimento da padronização e do controle. Criticamos essa padronização no sentido de que temos diferenças regionais importantes que deveriam ser levados em consideração.
Com esse projeto de governo, as escolas têm as autonomias cada vez mais reduzidas e em contrapartida, a Secretaria de Estado da Educação e Esportes (Seed) coloca mais projetos. Delibera ações e instrumentos de aplicação de um método pedagógico que desrespeita o PPP das escolas.
Consideramos muito grave esta forma de gestão, criticando inclusive as tentativas de avaliações massificadas, classificatórias, excludentes e que não dialogam com a educação pública, cujos valores devem ser de humanização, valorização da ciência e a ética da verdade. Desta forma, temos muitas preocupações com o aprofundamento das dificuldades e com a saúde mental de professores(as), funcionários(as) de escola, diretores(as) e equipes pedagógicas.
É muito preocupante esse processo e precisamos denunciar e cobrar uma gestão capaz de coordenar o processo e respeitar a autonomia de cada escola.
APP-Sindicato – Quais as condições de trabalho hoje na educação e qual a luta do sindicato para mudá-las?
Hermes Leão – A realidade nos dias atuais nas escolas é de um trabalho precário. Nós temos 30 mil PSS entre profesores(as) e funcionários(as), então já e uma precarização, além de uma insegurança enorme. Este modelo não dialoga com a identidade destes professores(as) com a escola, pois os contratos são encerrados de maneira rápida. Também existe a falta de estabilidade em uma unidade, já que os(as) trabalhadores(as) da educação não sabem se poderão continuar na mesma comunidade e na mesma escola. Existe também o desafio da jornada de trabalho e da não aplicação de 1/3 de hora-atividade. A superlotação de alunos(as) por sala afeta o atendimento aos(às) alunos(as) e dificulta a assimilação de conteúdo por parte dos(as) estudantes.
Fora as condições de carreira, os atrasos de valorização de Promoções e Progressões, a falta de reajuste salarial, o aumento da contribuição previdenciária de trabalhadores(as) da ativa e aposentados(as) são um conjunto de adversidades que irão se manter durantes estes atuais governos.
Temos que fazer a luta, buscar apoio da sociedade pela valorização da escola pública e fazer todo o trabalho para que possamos evitar mais ataques aos nossos direitos.
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