Logo cedo, na manhã desta quarta-feira (29), educadores(as) – organizados pela APP-Sindicato – estiveram em frente à casa de Beto Richa (PSDB) para ‘descelebrar’ o aniversário do governador. Hoje, três meses após o massacre do 29 de abril, também é a data em que Richa completa 50 anos. E os(as) servidores(as) estaduais não poderiam deixar a data em branco. Durante o cadê da manhã, os(as) trabalhadores(as) presentearam Beto com uma telemensagem especial, paródia com batucada (destacando as qualidades do governador), faixas, gritos de ordem, bolo e quatro convidados especiais vestidos à caráter: o ‘brimo’ distante, a sogra fantasma,o assessor tatuado e o auditor fiscal amigo. Foi emocionante.
Vários(as) diretores(as) da APP acompanharam a atividade, além de servidores(as) de outras categorias.”Nesta data, lembramos do confisco da nossa previdência e da forma vergonhosa como fomos massacrados em praça pública. Mais uma vez, um forte policiamento estava nos aguardando, mas apesar do frio, fomos bem recebidos pela população. Inclusive, alguns vizinhos do governador saíram às janelas para nos apoiar e até mostrar camisetas com os dizeres ‘fora Beto Richa’”, descreveu Hermes Silva Leão, presidente da APP. Ele também lembrou que nas escolas, que estão funcionando normalmente, a categoria está relembrando os motivos da greve, os fatos do dia 29 e reforçando que a luta continua.
A partir das 14h, a celebração será estendida a mais gente. Em plena Boca Maldita – no calçadão da XV de Novembro – um ato público, com exibição de fotos, de um documentário sobre. Em Foz do Iguaçu, o ato será no Terminal de Transporte Urbano (TTU). A concentração será das 17h30 às 18h30, com faixas, cartazes e panfletos. Em Cascavel, o ato público ocorreu pela manhã, em frente a Catedral Nossa Senhora Aparecida, e contou com a participação de servidores(as) de todas as categorias do funcionalismo, estudantes e população em geral. Já em Londrina, desde as 11h da manhã a categoria está no calçadão da cidade para “comemorar” o aniversário do governador e “homenageá-lo” pelo massacre do dia 29 de abril. O mesmo ocorre em Maringá, onde os educadores(as) da APP se unirão a outras entidades no terminal urbano da cidade para partilharem o bolo de aniversário do governador e relembrar a população do massacre, com panfletos e faixas.
Nunca esqueceremos – Os fatos que antecederam e ocorreram na data que entraria, para a história do Paraná, como o dia do massacre da educação, jamais serão esquecidos. Após tentar de todas as maneiras suspender a votação – e retomar um debate legítimo – sobre mudanças na previdência, os servidores se posicionaram do lado de fora da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), para acompanhar a votação naquela quarta-feira fatídica, há três meses. No entanto, foram impedidos. E o resto, virou história. O protesto dos manifestantes foi violentamente reprimido. Em seguida, iniciou-se um ataque utilizando bombas de efeito moral, balas de borracha, direcionadas principalmente no rosto de manifestantes, gás de pimenta e gás lacrimogêneo. A violência contra as pessoas na Praça Nossa Senhora de Salete e imediações durou cerca de três horas. Estimam-se entre 200 e 400 feridos.
Os dias seguintes foram um sem fim de justificativas bizarras (o governador Beto Richa chegou a dizer, em uma entrevista, que quem mais sofreu com o ataque foi ele…), de mentiras desmentidas (a história de que black blocs estariam infiltrados no movimento, inclusive, manipulando publicamente bombas de cal, quando, na realidade, eram estudantes da Universidade Estadual de Londrina organizando socorro aos feridos), de gente do primeiro escalão caindo (deixaram os cargos os secretários de Educação, de Segurança Pública e o comandante-geral da Polícia Militar). Um vexame sem precedentes.
Mas de tudo isso também surgiu coisas boas. A categoria jamais baixou a cabeça. Recebeu solidariedade de centenas de instituições, entidades, organizações de todo o Brasil e do mundo. Audiências públicas foram pautadas e realizadas na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal. Também foi constituído um grupo de trabalho dentro do Conselho Nacional de Direitos Humanos para acompanhar os casos de violação dos direitos humanos ocorridos dia 29 e seus desdobramentos. Foi formalizada denúncia junto ao Conselho Nacional de Justiça sobre a ação do Tribunal de Justiça no Paraná.
No Paraná, no dia 29 de junho, o Ministério Público Estadual – que antes mesmo do massacre já havia emitido uma recomendação ao governo para não fossem violados os direitos humanos – acusou formalmente de improbidade administrativa o governador Beto Richa, o ex-secretário da Segurança Fernando Francischini, os coronéis da PM César Kogut, Arildo Luís Dias, Nerino Mariano de Brito e o tenente-coronel Hudson Teixeira. Paralelamente, junto a APP-Sindicato, entidades e grupos formaram a Comissão 29 de Abril de Direitos Humanos que investiga, de forma independente, o ocorrido naquele dia. Ademais, também foi criado o Fórum 29 de Abril.
De tudo isto fica uma lição: ainda há muito a ser dito sobre o massacre do dia 29 de abril e os(as) educadores(as) machucados(as), física e moralmente, não vão se calar até os culpados por aquela violação de direitos sejam condenados.