Uma grande lição que ultrapassou os muros do Colégio Estadual Branca da Motta em Maringá. Essa é a história de como a auxiliar de serviços gerais da escola, Flora Dias Dourado, venceu todas as adversidades e, nesse último final de semana, vestiu-se de toga para receber o seu diploma na formatura da turma 2013-2015 do curso de formação Pró-Funcionário.
Flora foi uma dos(as) cerca de 150 agentes educacionais que concluíram o programa do governo federal que visa a formação dos(as) funcionários(as) das escolas públicas estaduais em nível técnico. No Paraná, desde 2007, pelo menos 24 mil trabalhadores(as) concluíram o curso de formação. Para a agente educacional, a conquista vai além do diploma recebido na noite da sua formatura, ele é um símbolo que lhe garante segurança e empoderamento. “Eu tinha uma visão da escola muito diferente. Era chegar, fazer o serviço de cabeça baixa, com vergonha muitas vezes, e ir embora. A gente se sentia inferior. Hoje, eu consigo discutir sobre pedagogia, sobre didática, sobre tudo que se passa na minha escola, hoje eu sei e entendo o que se passa no meu trabalho”, orgulha-se a agente.
Foi a resistência da categoria que, no período histórico de greve da APP-Sindicato – marcado pelo lamentável massacre de 29 de abril – garantiu que o reconhecimento da conclusão do curso fosse mantido na carreira dos(as) funcionários(as). “O secretário de comunicação da APP-Sindicato, o funcionário de escola Luiz Fernando Rodrigues, comenta a importância da unidade da categoria nessa última greve. “Para além do reconhecimento enquanto profissão, os esforços da APP-Sindicato em torno do plano de carreira dos funcionários, garantem os avanços de classe na tabela salarial. O governo estadual quis tirar isso dos servidores. Tudo foi colocado em cheque, os avanços, o quinquênio, as promoções, tudo. A greve nos garantiu que tudo isso fosse mantido”, avalia Luiz Fernando.
Hoje, o(a) agente educacional I ou II que concluir o curso de formação Pró-funcionário tem, assegurado em seu plano de carreira, o avanço de 6 classes da tabela salarial. Para um agente I, nível 1 da tabela o valor representa um aumento de 25,07% no salário base, é o sentimento de orgulho partilhado pela Flora e seus colegas de turma traduzido em salários. “Eu entro no colégio hoje com uma outra postura. Eu tenho consciência que eu também educo. Sabe quando eu percebi isso? Nas primeiras aulas do módulo de história do curso, quando a gente aprendeu sobre a importância dos primeiros funcionários de escola, lá na época dos Jesuítas. Agora eu entendo que a educação começa ali, quando recebo o aluno no portão”, comenta a agente educacional recém-formada.
Para a secretária de funcionários da APP-Sindicato, Nádia Brixner, as formaturas dessas turmas de agentes educacionais, que acontecem agora em dezembro em todo Paraná, são símbolos dos esforços contínuos pela manutenção do plano de carreira e pela valorização dos funcionários e funcionárias enquanto educadores. “É um desejo forte de garantirmos a formação de todos os funcionários e funcionárias. A nossa insistência na Comissão Estadual de Funcionários, garantiu com que a Seed buscasse uma conversa com o Instituto Federal para ofertar a formação os funcionários efetivos no ano que vem. Pra o ano que vem: duas coisas interessantes nesse processo é formação em serviço, ou seja, sem aulas aos sábados. Teremos também, a condição também de fazer a oferta social. Poderemos ofertar para os agentes do PSS, do ParanáEducação, Clad e CLT”, adianta Nádia.
Outro avanço resultante do trabalho da APP pela garantia da formação continuada para os(as) agentes, é a proposta da oferta do curso superior exclusivo para funcionários(as). “Temos um debate bem avançado. Estamos empenhados na construção dos componentes curriculares. É possível e acreditamos que, já no segundo semestre, tenhamos este curso. Vamos lutar sempre para fazer com que esses cursos de formação, seja o Pró-funcionario seja o curso de formação, chegue a todos os nossos funcionários”, defende a secretária.
“Você sabe o que é a alegria de vê-los de beca? A formação faz isso: tira as pessoas da invisibilidade e faz com que elas se percebem como agentes importantes no processo educacional”, reforça a professora Neide Gomes Clemente diretora do Instituto de Educação.
Aos 54 anos, Flora volta para o Colégio Branca da Motta, com uma nova formação, uma nova visão sobre o processo educacional e alguns sonhos. “Sabe qual a minha vontade agora? Terminar a faculdade. Quero fazer gestão da informação ou pedagogia”. É para que todos os funcionários e funcionárias públicos do Paraná tenham as mesmas condições de Flora que a APP-Sindicato já se prepara para lutar ainda mais fortalecida em 2016.