De um lado, propaganda e contradição. Do nosso lado, o direito básico de quem trabalha e move o Estado

De um lado, propaganda e contradição. Do nosso lado, o direito básico de quem trabalha e move o Estado


O governo do Estado hora diz que o Paraná vai bem, obrigado, hora diz que está em uma crise devastadora. É claro que, com tanta incoerência no discurso, a população fica sem entender em qual deles é possível acreditar. No entanto, diversos setores dos serviços públicos apontam que dinheiro o governo tem, o que falta é honrar com o compromisso e o dever de fazer uma gestão responsável, pagando devidamente os(as) servidores(as) que movem a máquina pública e fazem, consequentemente, o Estado funcionar.

A questão é que as contas não estão batendo. Essa incoerência de dizer que o Paraná é a 4ª economia do país e, dias depois, que estamos em tempos de vacas magras não condiz com o crescimento de 6 a 8% que o governo do Paraná terá só em 2016. Apesar de o governo dizer que o crescimento será de 3,5%, esse dado também não bate com o dinheiro todo que será arrecado só este ano. Os(as) cidadão(ãs), que sentiram no próprio bolso o resultado de ajustes em tudo quanto é canto, também não conseguem entender a variação de informações que o próprio governo solta.

A APP-Sindicato, que representa os trabalhadores em educação, estuda detalhadamente as contas do governo. Isso permite ao sindicato, assim como a categoria, entender o quanto de dinheiro o Estado tem e quanto dinheiro é preciso para sanar as dívidas que o governo tem com a educação. Educação esta que emprega aproximadamente 100 mil educadores(as) – entre professores(as) e funcionários(as) de escola -, além das mais de 2.400 escolas que precisam reparos e cuidados constantes.

A pauta da categoria, que não se trata de avanços ou novas conquistas, mas sim de uma briga justa para que não se negue aquilo que a lei já estabelece como sendo imprescindível, quer garantir, entre outras coisas importantes, o direito do(a) trabalhador(a) de receber o reajuste da data-base, aquele que garante que não haja perda de salário quando a inflação aumenta o preço dos produtos que todos consomem.

Entre os itens mais importantes, a categoria exige o cumprimento da data-base, o pagamento imediato das progressões e promoções, o complemento de salário mínimo regional e o reajuste de auxílio transporte dos(as) funcionários(as) de escola.  Veja quanto o Estado do Paraná precisa gastar para pagar as dívidas que tem com os(as) trabalhadores(as):

– Complemento de salário mínimo regional = R$ 1,168 milhão por mês.

– Reajuste de auxílio transporte dos funcionários de escola = R$ 240 mil por mês.

– Progressões e promoções = R$ 60 milhões por mês para ser implementado.

– Data-base = R$ 1,9 bilhão de reais por ano. Para os 13 salários dos trabalhadores no ano, gasta-se R$ 158 milhões por mês.

Esses valores ficam mais reais quando se conhece histórias como a da dona Cynthia Nascimento, de 46 anos. Há 8 anos a dona Cynthia dedica seu trabalho na escola pública. Durante a tarde, ela faz limpeza e à noite, é cozinheira. Apesar de todo esse tempo de dedicação, ela ainda não conseguiu fazer um concurso público, pois não foi aberto concurso para funcionários e funcionárias de escola no Paraná. Isso significa que seu contrato como PSS se encerra todo ano e, além das dificuldades de quem tem um contrato precário, todo fim de ano é a mesma insegurança: será que ela vai ser chamada para trabalhar na escola o ano que vem? Mesmo com toda experiência e dedicação, dona Cynthia corre o risco de ficar de fora da escola.

Não bastasse a incerteza que ela enfrenta ano a ano, dona Cynthia é quem tem o menor salário dentro da escola e de todo o funcionalismo público no Paraná. O salário dela é muito baixo, a ponto de ser ainda menor do que o salário mínimo regional. A remuneração mensal da dona Cynthia equivale ao primeiro nível da tabela salarial de funcionários Agente Educacional I, ou seja, R$ 1.015,90. Como é menos que o mínimo regional (R$ 1.148,40), o governo do Paraná tem que fazer uma complementação, pagando a diferença de R$ 132,50 por mês.

Um dos itens emergências da pauta da categoria é que, desde maio, o governo não vem fazendo esse repasse. Isso significa que a dona Cynthia deixou de receber nestes últimos 6 meses o total de R$ 795,00. Para quem ganha pouco mais de mil reais, esse valor significa quase um salário inteiro.

A situação se agrava ainda mais pelo fato dela ser a única fonte de renda fixa na sua casa. Isso porque o seu marido está desempregado e o salário da funcionária é o único dinheiro garantido no fim do mês. A funcionária explica que esse dinheiro não passa despercebido, não. “No meu caso, tem feito muita falta, até porque hoje meu marido encontra- se desempregado. Mas o que mais deixa a gente revoltada é que a lei não está sendo cumprida. Porque se é lei, é justo que a gente receba”, conta.

Além de tudo, a educadora sofre com as expectativas das filhas. “Tenho duas filhas em idade escolar, a mais velha está estudando pra ser professora. Ela tem muitos sonhos, não sei como vai ser o futuro dela se os nossos governantes continuarem em agindo dessa forma”, desabafa.

O exemplo da dona Cynthia é para ilustrar a difícil situação em que se encontra muitos(as) educadores(as). A pauta da greve quer a solução deste e outros problemas que afetam diretamente a vida e trabalho dos(as) educadores(as). Uma educação de qualidade se faz, também, com a valorização e o cumprimento dos direitos dos(as) trabalhadores(as) que movem as escolas públicas do Paraná.

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