Cynthia Mcleod | Suriname | APP-Sindicato

Cynthia Mcleod | Suriname


O Suriname visto pelo olhar atento de uma turista brasileira:

O voo saindo de Belém, capital do Pará, chega em 01 hora à capital do menor país da América Latina: o Suriname. Após a chegada, é preciso ainda percorrer quase 2 horas até Paramaribo.

Destino pouco explorado por turistas brasileiros, a região oferece experiências deslumbrantes em seu território, composto majoritariamente pela vegetação da floresta tropical. Pelas ruas da capital, a influência holandesa se presentifica nos casarões típicos da época colonial. É possível perceber também a influência da cultura chinesa e hindu tanto na culinária quanto na arquitetura e religiosidade. O idioma oficial é o holandês. Nos bares e restaurantes, é possível se comunicar em inglês e espanhol, onde o câmbio é bastante honesto: o melhor é  levar euro.

Para quem quer curtir um tempo das férias de verão, longe das luzes artificiais e das telas, é possível se hospedar em um bem estruturado resort no meio da Floresta Amazônica, ao qual se chega em embarcações muito simples, que saem de um entreposto, deslizando pelas ruas líquidas da floresta tropical. Neste lugar paradisíaco, é possível relaxar, balançando-se na rede de uma das simpáticas acomodações ou se movimentar, conhecendo os arredores ou caminhando no meio da floresta fechada com a orientação de um guia ou ainda mergulhar nas límpidas e abundantes águas tropicais. À noite, é oferecido um passeio de barco, sob a luz da lua, à caça de jacarés.

Ao redor do resort, é possível também visitar as vilas vizinhas, as quais são habitadas pelos maroons que, no Brasil, são equivalentes aos povos quilombolas. Para sobreviverem na floresta, os maroons aliaram-se aos povos das florestas, aprendendo com estes os segredos da fauna, da flora e das correntezas. Outra opção de passeio na natureza, dentre muitas, é, em um fim de tarde, assistir ao mergulho dos golfinhos, tendo como pano de fundo o pôr do sol em águas tropicais abertas.

Para quem prefere experiências urbanas, em Paramaribo, há hotéis, hotel cassino e hospedagens B&B (cama e café), restaurantes, lojas e centros de compras sofisticados, bem como com preços acessíveis como o mercado popular e as várias lojas de produtos chineses. Mais para o interior do país, é forte a presença de brasileiros que vão em busca de enriquecimento com o garimpo. Vale muito a experiência de visitar o Suriname, menor país neste continente deslumbrante que é a América do Sul.

** Por Sandra Andréia Ferreira, professora de Língua Portuguesa e Literatura da rede de ensino público estadual paranaense, Mestra em Tecnologia e Sociedade pela UTFPR, apaixonada por vivenciar novas experiências por meio de leituras, lugares, pessoas, culturas etc.


Se o Brasil é o maior país da América do Sul, o Suriname é o menor, e será dele que iremos falar neste mês de outubro.

Localizado na parte norte do continente, faz fronteiras com a Guiana, Brasil e Guiana Francesa. Banhado pelo Oceano Atlântico, era também uma Guiana, a Holandesa, mas, após sua independência, em 1975, passou a se chamar Suriname, uma homenagem ao povo surinen (habitantes originários da região).   

Após quase um século de domínio espanhol, a região onde hoje é o Suriname passou a ser controlada pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (1621) até 1794, quando se tornou, de fato, uma colônia holandesa.  Ali foram exploradas várias atividades agrícolas como o café, a cana-de-açúcar e o fumo, com mão de obra africana escravizada. 

Como os africanos eram tratados com muita brutalidade durante as viagens de vinda para o país e no trabalho das fazendas, houveram muitas mortes, e muitos deles se insurgiram formando quilombos – e ficaram conhecidos como cimarrones.

Devido à colonização holandesa, o idioma oficial do país é o neozelandês, mas outros idiomas também são falados por lá:  hindustâni, javanês, inglês, francês, crioulo, espanhol e chinês. Isso porque há descendentes de europeus, africanos, asiáticos e também dos povos originários (aruaques, tupis e caraíbas), o que formou uma heterogeneidade sociocultural no processo de formação do país. 

Depois de muitos conflitos e golpes de estado, hoje, o país vive uma República presidencialista, contando com dez distritos, cuja capital é Paramaribo. Sua densidade populacional é extremamente baixa: 3,2 habitantes por km², com quase 75% da população vivendo em áreas urbanas.  Sua economia movimenta-se, basicamente, pela produção de ouro e bauxita, e também com a exportação de alumínio. Há também uma forte indústria têxtil e processamento de alimentos, sendo que o governo controla a economia do país e emprega quase 65% da população tanto na administração quanto nas estatais. 

O Suriname é um país multicultural, pequenino, se comparado com seus vizinhos sul-americanos mas, é extremamente rico culturalmente. Forma um verdadeiro mosaico que se formou sobre as “terras das águas”. Mesmo não tendo tantos nomes reconhecidos internacionalmente na literatura, há leituras imprescindíveis como as da escritora  Cynthia Mcleod,  que estampa nossa agenda de 2023 no mês de outubro. Quem é essa mulher? É o que veremos a seguir.

Sobre a escritora:

Nasceu em 4 de outubro de 1936, em Paramaribo, com o nome de Cynthia Ferrier.  Estudou no Suriname e na Holanda, onde se formou professora de Cuidados e Educação Infantil. De 1969 a 1978, lecionou língua e literatura holandesa na educação pré-universitária em Paramaribo. 

Em 1978, seu marido foi nomeado embaixador do Suriname, na Venezuela. Mais tarde, na Bélgica e nos EUA e, durante sua morada no exterior, aprofundou a escrita, especialmente,na Bélgica, local oportuno para pesquisas nos arquivos de Haia, Amsterdã, Roterdã, Emmerich e Colônia. 

Condecorada com a Ordem de Honra da Palma Dourada, em 1998, pelo presidente do Suriname. 

Como educadora, participou de um projeto de renovação da educação e escreveu histórias para crianças publicadas na série Van Hier en daar en Overal. 

Como resultados de suas pesquisas, Cynthia Mcleod adquiriu um amplo conhecimento sobre a história do Suriname, e ela o compartilha com prazer com outras pessoas. Ela também organiza viagens educacionais gratuitas para jovens escolares do Suriname com sua embarcação motorizada, a Sweet Merodia

Hoje, reside no Suriname, onde continua a escrever e se envolver em projetos sociais.


Sobre suas obras: 

Escritora que engloba a técnica literária e registros históricos que retratam paradigmas de gênero, classe e raça; também escreveu livros para crianças. 

Seu primeiro livro, The Cost of Sugar (1987), já a tornou uma das escritoras mais proeminentes do seu país. Tornou-se um best-seller, traduzido para o alemão e outras línguas, deu origem a um filme e uma minissérie. O enredo aborda a história do Suriname, em particular no período em que o país era uma colônia holandesa, sua economia baseada na exploração de escravos, além da produção de açúcar, café e cacau. 

Seus enredos buscam trazer para o leitor, uma visão pungente e  lírica das contradições internas do Suriname; o patriarcado, a exploração do trabalho, o racismo, denunciando os maus tratos com as minorias e marginalizados socialmente. Além disso, há fortes questionamentos sobre a questão de gênero, já que as mulheres surinamesas sempre foram oprimidas e  abusadas de todas as formas. A autora comenta que é mais fácil escrever sobre aquilo que se sente. 


Principais obras:

 The Cost of Sugar (1987)

Lafu (1992);

Toen het vakantie was (1999)

The Free Negress Elisabeth (2005);

Tutuba. Het meisje van het slavenschip Leusden (2013);  

Zenobia – Slavin op het paleis (2015).


TRECHO DE ENTREVISTA:

Revista Diálogos: Em The cost of sugar, Tutuba: the girl from the slaveship, Leusden e The free negress Elisabeth: prisoner of color, percebemos a presença de protagonistas femininas. O que levou a essas escolhas? Isso pretendia criar uma nova perspectiva sobre a história? 

Cynthia: Protagonistas femininas! De fato, em todos os meus romances (dez publicados) tenho protagonistas femininas. Como sou mulher, acho mais fácil, pois me identifico. O nome de Elisabeth Samson foi mencionado em todos os grandes volumes da história do Suriname e fiquei intrigada com isso. Pesquisei por mais de 12 anos e todas as informações que encontrei eram tão contrárias à maneira como ela foi mencionada pelos historiadores (homens brancos e machistas, diga-se), que só esse fato continha um romance em si.

REFERÊNCIA: SILVA. Natali Fabiana da Costa. Entrevista com Cynthia Mcleod. Revista Diálogos. Maringá-PR. vol.24, nº2, pág.422-426. mai/ago 2020. 


DICAS PARA TRABALHO EM SALA DE AULA: 

As riquezas deste país vizinho podem ser trabalhadas em várias disciplinas da Base Comum. Listamos abaixo algumas sugestões que podem enriquecer o trabalho em sala de aula.

>> História

O Fort Zeelandia foi erguido no século XVII como uma defesa para o entreposto comercial fronteiriço neerlandês. Ao redor dele constituiu-se a cidade de Paramaribo, hoje capital do Suriname.

Saiba mais: Fort ZeelandiaFort Zeelandia Paramaribo

O Centro Histórico da Cidade de Paramaribo foi considerado patrimônio mundial da UNESCO em 2002. Pelas ruas, é possível transitar por casarões coloniais lindíssimos, conhecendo a história do país.

Saiba mais: Conheça ParamariboCentro histórico da cidade de ParamariboParamaribo nas margens do rio Suriname

>> Geografia

O Parque Natural do Suriname Central foi criado em 1998 e declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2000 pela riqueza do seu ecossistema. Há três reservas ambientais dentro dele: a Reserva Natural de Tafelberg, a Reserva Natural de Eilerts de Haan Gebergte e a Reserva Natural de Raleigh Vallen. Lá, fauna e flora locais são os principais atrativos.

Saiba mais: Reserva Natural Central do SurinameSuriname: onde fica, qual a capital, o que visitar e outras informações

>> Biologia / Ciência

São diversos parques e reservas ambientais para você percorrer, além de praias como Galibi, a turística Branco, Braamsput e Matapica, que fica próxima a área pantanosa da parte leste do Suriname.

Saiba mais: Parques e reservasPraias Suriname

Todo mundo que visita o Rio Commewijne procura ver os golfinhos, seja nos passeios de barco ou de bike pelas margens. A rota de barco inclui uma visita ao encontro com o Rio Suriname e o ponto em que ambos deságuam no mar. O ambiente é lindo, com mata ciliar abundante e o pôr do sol maravilhoso, sempre premiado com a revoada de vários pássaros. Em Suriname, turismo tem que envolver uma foto dos botos do rio Commewijne.

Saiba mais: Rio Commewijne

Já foi um dos principais pontos de extração de balata, um tipo de látex endêmico do Suriname. As bananas são o principal produto de Nieuw Nickerie, mas os turistas chegam ao local para visitar uma área de pântano que é abrigo de mais de 100 espécies de pássaros. Essa atração chama-se Bigi Pan.

Saiba mais: Bigi Pan

>> Química

O Suriname tem uma forte economia baseada na extração de ouro, petróleo e bauxita, sendo um dos maiores exportadores desse mineral.

Saiba mais: Curiosidades sobre a bauxitaRecursos inexplorados – Indústria mineral

>> Arte

A virada de ano em Paramaribo é um espetáculo à parte. Na tarde e  noite de 31 de dezembro, ocorre o Owru Yari, uma festa popular com muita música, jogos, bebidas e cores. É conhecida também como  Surifesta.

Saiba mais: Owru Yari – antigo e novo no Suriname

Já imaginou uma junção das culinárias da Indonésia, da Índia, da China e da Holanda? Assim é a culinária no Suriname e o pom é um desses pratos exóticos. A cultura gastronômica do país é um dos seus fortes atrativos, sem contar que todos os pratos misturam ou tem como acompanhamento nossas frutas tropicais.

Saiba mais: Gastronomia do SurinameComidas típicas

>> Português

Apesar de fazer fronteira com o Brasil, muito pouco se ouve o Português no Suriname, pois o idioma oficial do país é o neerlandês, a língua dos Países Baixos, que aqui chamamos de Holanda. Que tal conhecer um pouco mais sobre ele?

Saiba mais: Origem língua holandesaGastronomia holandesa


DICAS DE FILMES:

Sendo um país multicultural, seu cinema não poderia ser diferente. Há filmes produzidos em vários idiomas, com temáticas variadas (veja aqui). Vale a pena assistir ao filme baseado na obra de maior sucesso da autora: The price of sugar.


DICAS DE MÚSICAS:

A multiculturalidade é marca registrada do Suriname, por isso, musicalmente, há estilos norte-americanos, europeus e africanos, cantados nos dialetos locais. O mais importante é que todos os ritmos são dançantes.

Veja aqui:

>> Música do Suriname mistura influências


IMAGENS DO SURINAME:

Fotos: Sandra Andréia Ferreira

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