Como é a educação que Ratinho Jr e Feder escolheram para seus filhos APP-Sindicato

Como é a educação que Ratinho Jr e Feder escolheram para seus filhos

*Por Rogerio Galindo

Foto: Divulgação

Com mensalidades a partir de R$ 7 mil, ISC dá destaque para disciplinas que governo quer reduzir em escolas públicas.

No extremo norte de Curitiba, pertinho da divisa com Almirante Tamandaré, um grupo de crianças e adolescentes vive praticamente num enclave estrangeiro. A língua franca é o inglês – português só nas aulas de língua e História do Brasil. Os professores não parecem brasileiros: e na maior parte dos casos não são mesmo. Vêm dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Austrália.

O lugar nem mesmo se chama Colégio Internacional de Curitiba – é a International School of Curitiba. Ali estudam meninos e meninas de todas as idades, desde os pequenininhos até os adolescentes que estão à beira de entrar numa universidade. Antes, só filhos de executivos estrangeiros estudavam ali. Gente que vinha trabalhar nos mais altos cargos da Renault ou de outras multinacionais. Mas há alguns anos, filhos de famílias que têm condições financeira daqui também passaram a frequentar.

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Para entrar no clube, é preciso ter cacife. Primeiro, o interessado tem de pagar uma espécie de “joia”, nada barata. Depois vêm as mensalidades: e aí estamos falando de pelo menos R$ 7 mil mensais, podendo chegar a bem mais nos anos do ensino médio.

Entre os que decidiram dar essa educação para seus filhos estão alguns representantes da cúpula do atual governo do estado. A começar pelo próprio governador Ratinho Jr. (PSD), que mantém lá seus três herdeiros. Renato Feder, o secretário de Estado da Educação, também decidiu colocar seu filho lá, assim como Guto Silva (PSD), chefe da Casa Civil de Ratinho.

Dificilmente alguém poderá questionar a opção: se você quer o melhor para seus filhos (e que pai não quer?) e tem condições financeiras para isso, uma educação de primeiro mundo é o melhor que você pode fazer. No entanto, como ao mesmo tempo se trata das pessoas que estão decidindo os caminhos da educação pública no estado – e muitas vezes tomando medidas que vão no sentido oposto – vale a pena conhecer melhor o que os governantes escolhem para sua própria família.

Estudos sociais

Os alunos da rede estadual de ensino comandada por Feder e Ratinho terão menor carga horária de três disciplinas a partir deste ano: Filosofia, Sociologia e Artes. A grade foi modificada e, entre outras coisas, os alunos deixarão de saber de Kant e Weber para ter aulas de educação financeira (segundo Feder, é importante conhecer os tipos de juros).

Na ISC, a disciplina de Estudos Sociais (uma fusão de conteúdos de várias humanidades, incluindo Sociologia) é considerada uma das mais importantes. Não só porque, claro, os pedagogos de lá não recebem ordens do atual governo, mas por que os alunos estão se preparando para o IB, uma espécie de Enem que permite entrada em várias universidades europeias (sim: escolas como a Sorbonne e Oxford consideram Filosofia e Sociologia importantes, veja só!)

Artes também têm prioridade. Os alunos têm instrumentos de orquestra à disposição, há um ateliê e mesmo os menorzinhos estudam movimentos artísticos como o cubismo e o impressionismo: depois produzem suas próprias obras de arte que entram em exposição na galeria do colégio.

Não que os estudantes sejam privados de conhecimentos práticos. Ao invés das aulas sobre juros, porém, eles têm acesso no último ano a uma disciplina chamada Life Skills (Habilidades para a Vida). Numa réplica de um apartamento, os adolescentes aprendem de tudo um pouco. Cozinham, passam roupa e até trocam pneus de carros. O motivo? A maioria tem empregados domésticos e precisa aprender a se virar para quando for morar fora do país.

Vida real

Os alunos da ISC estudam muitas coisas na prática. Por exemplo: quem quer aprender sobre política internacional pode se inscrever nos estudos da ONU. Mas não fica só na teoria. De vez em quando, o pessoal dá um pulinho em Nova York para ver os embaixadores trabalhando de verdade.

O mesmo vale para a política nacional. A gurizada passa também por Brasília para ver na prática o que os deputados, senadores e ministros (alguns deles seus pais) andam fazendo nos palácios. (Numa das viagens, a presença da filha do governador literalmente abriu portas: o pessoal da turma da filha de Ratinho teve acesso raramente concedido ao andar do presidente no Palácio do Planalto).

Nem todas as viagens, porém, são para estudo. De vez em quando o pessoal passa um tempo só se divertindo. Pode ser no terreno do próprio colégio. Ou pode ser numa estação de esqui fora do país…

Na semana da Pátria, uma curiosidade: a direção do colégio chama pessoas para falarem sobre o Brasil e, quando chegam ao colégio, os alunos são recebidos com decoração típica e bandinha de música, para apresentar os mistério desse exótico país sul-americano.

**Rogerio Galindo, jornalista

Fonte: Plural

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