Nesta terça-feira (24), estudantes da rede pública estadual participam de mais uma etapa da Prova Paraná. A avaliação foi desenvolvida pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed) e tem o objetivo de mostrar o nível de apropriação dos conteúdos e habilidades consideradas essenciais para cada etapa de ensino. A prova será aplicada para as turmas de 5°, 6°, 7º e 9° anos do Ensino Fundamental e também para 1°, 2º e 3° anos do Ensino Médio. O teste acontece em 398 municípios, atingindo todo estado, exceto Curitiba que já possui uma avaliação própria, e atinge cerca de 1 milhão de alunos(as) nas redes estaduais e 250 mil nas redes municipais de ensino. A Prova Paraná acontece em três etapas, sempre no início de cada bimestre e, para a Seed, é o principal instrumento para adequar os(as) estudantes para as exigências da Prova Brasil e para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), sistema nacional e internacional de medição da aprendizagem de escolas públicas e particulares.
Segundo o documento “Manifesto por uma EDUCAÇÃO HUMANIZADORA contra o projeto de governo do Paraná de mercantilização” emitido pela APP-Sindicato, esses testes servem para um ranqueamento das escolas e culpabilização dos(as) professores(as) pelos resultados e privilegiam áreas do conhecimento em detrimento de outras. O professor Hermes Leão, presidente da APP-Sindicado, explica que a Prova Paraná é um método classificatório, meritocrático e por isso excludente. “Uma avaliação real das escolas precisa levar em consideração os contextos de aprendizagem, a relação dos(as) estudantes com o conhecimento, o dialogo da avaliação com o projeto político pedagógico”, afirma Hermes Leão.
Os gastos e demais informações sobre a avaliação não estão disponíveis no portal da transparência, o que gera desconfiança sobre os métodos usados pelo governo na aplicação da prova. “A Seed deve ter feito licitação, contrato com a empresa e nós estamos solicitando que a Secretaria nos informe dentro do processo de transparência. Queremos saber todos os processos de licitação, as empresas que concorreram e os valores que serão utilizados para fazer essa etapa da prova”, destaca o secretário de assuntos jurídicos, Mario Sergio de Souza.
O dirigente enfatiza ainda que estado deve informar se os(as) professores(as) estão recebendo a estrutura necessária para que a prova seja aplicada. “Não é justo que os(as) professores(as) apliquem a prova, usem a internet própria, paga particularmente, o aparelho deles em função do bem estar do estado, tendo em vista que não sabemos quanto custou essa avaliação”.
A professora da rede estadual, Marcia Valeria Dias, ressalta que a prova não reflete em momento algum a realidade das escolas. Primeiramente porque os(as) estudantes não enxergam a necessidade de fazer a prova eficientemente. “Além da dificuldade de material, já que temos que usar nosso próprio, acaba sendo um trabalho a mais, onde não temos tempo para desenvolver adequadamente. Tem ainda a questão de desinteresse dos(as) alunos(as), porque eles não vêem um objetivo concreto nesse tipo de avaliação. Na última prova houve muitas faltas, tivemos até que chamar os(as) alunos(as) para realizarem a prova e assim não abaixar o índice da escola. A justificativa da Seed que é para fazer uma avaliação não condiz com a realidade, porque já fazemos isso no decorrer do ano”.
Confira a nota completa da APP-Sindicato sobre a avaliação:
“O PROJETO DE CONTROLE E RESULTADOS DA SEED: 3ª EDIÇÃO DA PROVA PARANÁ
Na próxima terça-feira, dia 24 de setembro de 2019, deve ser aplicada a terceira edição da Prova Paraná aos(às) alunos(as) do Ensino Fundamental e Ensino Médio, além da Educação para Jovens e Adultos(as) (EJA) da rede estadual do Paraná.
É necessário compreender a prova dentro do contexto político e social ao qual ela se insere, juntamente com a sua finalidade. Assim, gestores públicos como Ratinho Júnior e o secretário da Educação Renato Feder, escoram-se na tendência de reforçar o discurso enganoso de “modernizar” a máquina pública, quando na verdade quer reduzi-la a quase nada. Prevalece o discurso do gerencialismo, do profissionalismo, de instauração de uma cultura empresarial e do planejamento estratégico apenas na obtenção de resultados na esfera pública, sem oferecer o mínimo de condição financeira, material, tecnologia para tal.
O que se tem na verdade é a sofisticação dos mecanismos de dominação a partir de provas e aplicativos que deixam de ser meio para se tornarem fim do processo educacional. Pressionam-se escolas para a obtenção de melhores resultados nas provas estandartizadas e aumento nos indicadores de fluxo escolar, como retenção e abandono. Uma prática de responsabilização e mérito surge com base nos resultados obtidos pelos(as) docentes.
O secretário e o superintendente pedagógico da educação são adeptos desta política e têm se empenhado em colocá-la em prática na educação do Paraná como ocorre no conjunto das políticas educacionais, onde a Prova Paraná é sua principal estratégia de ação e monitoramento.
Em sua última edição nada menos do que 11 das 20 questões continham erros, o que demonstra que o pseudo controle de qualidade que a SEED tenta impor as escolas não é o mesmo que aplica para dentro de sua estrutura. Obedecendo ao nexo instaurando, a estratégia de elevação da qualidade da educação da SEED é centrada na qualidade total, de estabelecimento e cumprimento de metas quantitativas e o controle dos(as) profissionais de educação com mecanismos burocráticos, tecnológicos e de vigilância, contrapondo a luta pelo melhoramento pedagógico e socialização do conhecimento, principal finalidade da escola pública.
Para adequar as políticas públicas educacionais ao modelo empresarial, o governo está executando um conjunto de ações, que dialogam entre si para, uma suposta adequação e o aumento dos índices no IDEB. Nesse conjunto está a Prova Paraná, Tutoria nas Escolas, Auditoria nos Registros Escolares. Três programas em andamento que têm em comum o objetivo de adequar o que se ensina e aprende às exigências da Prova Brasil e o PISA. Desta forma criam-se padrões de comparação e ranqueamento internos na escola, na rede estadual pública e entre rede pública e privada e tem-se, assim, um modelo vertical de responsabilização, de culpabilização e bonificação que recai sobre os(as) profissionais da educação. As escolas que já estão no limite da precarização do trabalho pedagógico, são obrigadas a dirigir suas estratégias para a realização da prova. Também revelam uma política de esvaziamento da função dos(as) pedagogos(as) das escolas e o intervencionismo e ingerência pedagógica, de cumprimento de normas e diretrizes definidas pela Seed sem qualquer debate com as comunidades escolares envolvidas. Pasteuriza-se Padroniza-se o processo de ensinar-aprender ao desconsiderar a autonomia que as escolas possuem de definirem suas formas de aprendizagens, às vivências locais.
É necessário reafirmar a necessidade da autonomia pedagógica e do uso dos recursos tecnológicos pelos(as) profissionais que compõe a escola, diante do conjunto de ações em que está inserida a Prova Paraná, já que a mesma não pode ser compreendida isolada e fora do contexto pelo qual vem sendo implementada, enquanto meio para aprendizagem e não como mera finalidade de controle e dominação social.”
Leia também a nota da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES).