Colégio estadual entregue à gestão privada já registra protestos em Cascavel

Colégio estadual entregue à gestão privada já registra protestos em Cascavel

Durante manifestação, estudantes afirmaram que estariam sendo privados(as) de beber água e ir ao banheiro e tratados(as) com truculência pela nova gestão do estabelecimento

Imagem: Reprodução / Catve

Um grupo de estudantes do Colégio Estadual Jardim Interlagos, região norte de Cascavel, protestou contra mudanças impostas na rotina escolar, após o estabelecimento ter a gestão transferida para uma empresa privada, por meio do programa Parceiro da Escola. Durante a manifestação, ocorrida na noite da última sexta-feira (4), eles(as) afirmaram que estariam sendo privados(as) de beber água e ir ao banheiro e até tratados(as) com truculência pela nova gestão do estabelecimento

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A mobilização foi acompanhada por veículos da imprensa local e repercutiu também nas redes sociais. Uma equipe da Catve esteve no local e registrou imagens dos(as) estudantes com cartazes e fazendo falas em tom de denúncia. De acordo com os relatos divulgados pela reportagem, os(as) estudantes afirmam que os banheiros passaram a ser fechados e os bebedouros desligados do início da segunda até a quarta aula, ficando disponíveis apenas na entrada, no intervalo e na saída.

Segundo os(as) estudantes, após a transferência da gestão administrativa da escola para uma empresa privada, alunos(as) que chegam atrasados(as) estariam sendo impedidos(as) de acessar a escola para assistir às aulas, mesmo tendo justificativa. À reportagem, informaram ainda que estariam sendo tratados(as) de forma abusiva. Cartazes exibiam palavras como “tratamento desumano” e “abuso de poder”.

Em uma postagem do perfil do portal de notícias CGN no Facebook, vários(as) usuários(as) reagiram ao caso. Muitos(as) manifestaram contrariedade à privatização da gestão da escola. “O que esperar de um colégio privatizado”, escreveu uma internauta. “Escola privatizada e acontecendo isso???”, questionou outra pessoa.

Em nota enviada à Catve, o Núcleo Regional de Educação informou que a direção da escola entrará em contato com os(as) responsáveis pelos(as) estudantes que participaram da manifestação. De acordo com o comunicado, “o objetivo é manter o diálogo com as famílias e reforçar as orientações pedagógicas que vêm sendo desenvolvidas com foco na formação integral dos alunos e na construção de um ambiente escolar cada vez mais participativo e acolhedor.”

Lucro para empresário

O Colégio Estadual Jardim Interlagos é um dos 70 estabelecimentos de ensino da rede estadual do Paraná em que a comunidade escolar não autorizou a adesão ao programa Parceiro da Escola, mas a gestão administrativa foi transferida para empresas privadas, por decisão unilateral da Secretaria da Educação.

Em documento divulgado pela Seed, o colégio ficou sob a gestão do Grupo Salta. Ao invés de enviar recursos diretamente para a escola fazer reparos e melhorias, o programa prevê o envio anual de R$ 5.810.220,84 milhões do dinheiro público da Educação, para a empresa ter lucro com a gestão da escola.

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A consulta à comunidade aconteceu nos dias 6, 7 e 9 de dezembro de 2024 com diversas denúncias de assédio e abusos de autoridades policiais contra educadores(as). Mesmo com um forte esquema de repressão acionado para intimidar posicionamentos contrários e um aparato jurídico utilizado para impedir a participação democrática, das 177 escolas onde ocorreram as votações, em apenas 10 (5,6%) houve aceitação da proposta do governo que transfere recursos públicos da educação e a gestão dos estabelecimentos para a iniciativa privada.

Pelo levantamento realizado pela APP, o quórum (o comparecimento de 50% mais um dos(as) aptos(as) a votar) só foi atingido em 94 escolas. Dessas, 84 disseram não à privatização. Nas outras 83 escolas, onde o comparecimento ficou abaixo do mínimo, as urnas não foram abertas e os resultados não foram divulgados. A APP considera o programa ilegal e pede na Justiça que a legislação do Parceiro da Escola seja declarada inconstitucional.

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