Intolerância, preconceito e incitação à violência: não, este não foi o conteúdo da exibição artística que causou polêmica no Colégio Estadual Hugo Simas, em Londrina, mas sim o resultado da divulgação de vídeos acusando a equipe pedagógica de “doutrinação” dos(as) estudantes do período noturno. Tudo começou quando, no dia 1 de novembro, a direção do Colégio londrinense autorizou a apresentação da peça teatral “Quando Quebra, Queima” do Festival Internacional de Londrina (FILO).
De acordo com a equipe teatral e com a direção da escola, a peça, exibida para crianças e jovens em países como Portugal e Inglaterra, recria o período de mobilizações civis contra o fechamento de escolas em São Paulo, em 2015. A peça teatral tem classificação indicativa de 10 anos e utiliza técnicas de dança para narrar a resistência estudantil. (Veja a sinopse aqui).
No dia 6 de novembro, um grupo de mães esteve no Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) da região para registrar um boletim de ocorrência sobre a apresentação. Segundo as mães, que não assistiram ao espetáculo, a apresentação teria incitado a violência e a depredação de patrimônio público. Uma das responsáveis divulgou um vídeo nas redes sociais dizendo que os(as) atores(atrizes) são “um bando de vagabundos” que propagavam valores contrários ao conservadorismo. Expressões como “onde já se viu, um homem beijar outro homem?” e “tambores que simulavam uma religião afrodescendentes” são tomados como maus exemplos para os(as) jovens, de acordo com a mãe.
A direção a APP-Sindicato analisou o conteúdo da peça e também atividade proposta pela direção e equipe pedagógica com a exibição do espetáculo.”A comunidade escolar do Colégio Hugo Simas está sendo vítima de um movimento autoritário, de intolerância e ilegal”, afirma o presidente do Sindicato, Hermes Silva Leão. Diante deste entendimento, a APP-Sindicato pautou a Secretaria estadual de Educação (Seed), em reunião ocorrida nesse dia 6 de novembro, cobrando uma manifestação pública em defesa da escola. “Este movimento de difamação de educadores, que não é novo, faz parte desse movimento nacional da intolerância deste processo do ensinar e do aprender. Em nome da segurança do trabalho pedagógico, é preciso que o governo se manifeste nesta defesa. Não dá para deixar nossas escolas a mercê sanha de movimentos que veem no conhecimento e no papel da escola, uma ameaça aos seus intentos autoritários e ditatoriais. A equipe que participou da reunião tem um entendimento, a priori, em sintonia com o entendimento que nós apresentamos e ficou de passar ao secretário este parecer. Continuaremos dialogando com o governo neste sentido”, explica Hermes.
“Estão atribuindo à peça um conteúdo que ela não transmite. Todo este movimento contrário de homofobia, de racismo e de intolerância religiosa prejudica a escola, os trabalhadores e os estudantes. Estamos analisando juridicamente uma resposta para essa difamação e repercussão de notícias falsas”, adianta o secretário de Assuntos Jurídicos, Mario Sergio de Souza.
O presidente da Núcleo Sindical da APP-Sindicato em Londrina, professor Márcio Andre Ribeiro esteve, na manhã desta quinta-feira (07), na 10ª Delegacia de Policia Civil 10ª subdivisão da cidade para acompanhar a equipe pedagógica do Colégio. “A direção vem sofrendo ameaças de morte e agressão, por conta da repercussão nas mídias sociais em função do vídeo da mãe postado no Facebook e divulgado no Whatsapp. O material gerou uma repercussão negativa em relação aos diretores. Além das medidas legais está sendo organizado uma reunião dos movimentos sociais e para organizar um ato em apoio ao Colégio”, salienta o presidente.
A APP-Sindicato acompanhará o desdobrando do caso e manifesta publicamente apoio à comunidade escolar do Colégio Estadual Hugo Simas.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), também publicou uma moção de repúdio ao episódio. Clique aqui para ler mais.
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