Colégio Aníbal Khury enfrenta problemas após entrega para gestão privada APP-Sindicato

Colégio Aníbal Khury enfrenta problemas após entrega para gestão privada

Entre as principais denúncias estão a falta de contratação de professores(as) e funcionários(as) de escola, problemas de estrutura e aumento de violência dentro e fora da unidade

Oito meses após assumir a gestão do Colegio Aníbal Khury a partir do projeto “Parceiros da Escola”, a empresa Tom Educação, criada pelo grupo Insígnia/Decisão, coleciona polêmicas com a comunidade escolar do bairro Uberaba, em Curitiba. 

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Entre as queixas estão a carênciade professores(as) e funcionários(as) de escola, estrutura escolar precária, uniformes de péssima qualidade e um aumento nos casos de violência dentro e fora da escola.

O processo de privatização iniciou ainda em 2022. Logo após Ratinho Júnior garantir a sua reeleição, o governador abriu o edital que entregaria a gestão de 27 escolas para a iniciativa privada. Ficou a cargo das comunidades escolares decidirem se aceitariam ou não o modelo. 

Ao final do processo, após intensa campanha da APP contra as privatizações, apenas duas escolas disseram sim à consulta; os colégios Aníbal Khury e o Anita Canet, de São José dos Pinhais.

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O que, segundo o governo, seria uma “solução para as baixas notas no Ideb” das unidades, teria se tornado uma dor de cabeça para estudantes, mães, pais e educadores(as).

A esteticista Cintia Caetano ouviu que, após a mudança da gestão, o Aníbal Khury seria referência na educação e decidiu mudar sua filha, que está no 9º ano para a unidade. Agora, após diversos problemas, a mãe pretende mudar a filha de escola novamente.

“No início do ano eu coloquei minha filha, troquei ela de escola porque eu pagava uma van para levar ela para uma escola em uma região melhor. Estou muito decepcionada com o Aníbal Khury pois a promessa seria de que teríamos uma escola modelo. Fui convencida, até por conta das redes sociais, ouvimos falar que seria muito bom”, explica a mãe.

A mãe relata que há uma epidemia de violência na escola. “Já perdi as contas de quantos vídeos de brigas entre estudantes recebi. Qualquer atraso da minha filha já me deixa angustiada pensando que ela pode ser a próxima vítima. Levamos nossos filhos para a escola e não sabemos se eles vão voltar bem ou não”, lamenta.

Relatos colhidos pela APP indicam que a unidade enfrenta problemas com a falta de funcionários(as), essenciais para mediar conflitos e monitorar os espaços escolares, e de professores(as), o que leva a aulas vagas e agrava a insegurança da comunidade.

Cintia e sua cunhada, que também tem um filho que estuda na unidade, chegaram a cobrar providências da administração, porém não tiveram respostas. “A coordenação disse que conversaria com os alunos e tomaria providências, porém o que estamos vendo é um aumento das agressões, ao invés de diminuir”.

Pior e mais caro

Não é novidade que as terceirizações não melhoram o serviço fornecido à população. Trata-se de uma transferência de recursos públicos para empresas cujo único compromisso é com o lucro, não com a qualidade do atendimento.

O Parceiros da Escola destina às empresas credenciadas um valor de R$ 800 reais por aluno(a), por um período de 12 meses. Considerando os(as) cerca de 1.200 estudantes do Aníbal Khuri, a escola recebe por mês cerca de R$ 960 mil. Anualmente, a Tom Educação dispõe de mais de R$ 11 milhões de verba estatal para investir na escola ou embolsar.

Questionada sobre os valores que a empresa recebe para fazer a gestão da escola, a mãe disse desconhecer e garante que não acredita que um valor compatível com a receita esteja sendo investido na unidade.

“Eu não sabia que a escola recebia esse valor, até porque a minha filha falou, podem até verificar, que os banheiros da escola muitos deles não tem a tampa do vaso sanitário, não tem papel higiênico, lixos. Estão fazendo algumas reformas nos pisos, paredes, mas não sei para onde essa verba está indo, se gastaram todo esse valor com os uniformes que foram cedidos aos alunos. Muitos alunos não vão com os uniformes completos, não vão com a calça, só com a camiseta”, finaliza a mãe.

Ministério Público aponta ilegalidades no projeto 

Em peça de quase 50 páginas, o Ministério Público do Paraná afirmou que as terceirizações são graves e aponta que o governo do Paraná não conseguiu justificar a necessidade de transferência da gestão de escolas para empresas privadas. Na avaliação do órgão, uma série de falhas comprometeria a transparência do processo e violaria princípios legais.

O processo segue tramitando e há recurso do Estado em análise. A APP segue mobilizada na Justiça para reverter as privatizações.


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