CNTE: casos de violência expõem sucateamento da educação e escalada do extremismo de direita

CNTE: casos de violência expõem sucateamento da educação e escalada do extremismo de direita

Pesquisa indica que metade dos(as) estudantes da rede pública estadual de SP já sofreu violência na escola

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Quase a metade dos(as) estudantes da rede pública estadual de São Paulo já sofreram algum tipo de violência em suas escolas, aponta pesquisa divulgada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). O levantamento feito no Estado mais rico da nação escancara o sucateamento da educação no país.

A pesquisa aponta que 48% dos(as) alunos(as) já passaram por situação violenta em suas escolas. Já 71% dos(as) estudantes disseram saber de casos de violência ocorridos na escola em que frequentam.

Outro dado preocupante é que 19% dos(as) professores(as) sofreram algum tipo de violência em suas escolas no último ano. A informação expõe em números uma realidade preocupante, especialmente se considerarmos o ataque que vitimou a professora Elizabeth Tenreiro em São Paulo nesta semana.

É quase unânime a percepção de que o governo deveria oferecer mais condições de segurança para as escolas – 98% dos(as) estudantes, 96% dos(as) professores(as) e 97% das famílias concordam com isso.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) avalia que os números da pesquisa expõem o sucateamento das escolas e a dura realidade de trabalhadores(as) da educação e estudantes. A entidade aponta como parte das causas do problema a ausência de políticas preventivas e a falta de profissionais nas escolas, como psicólogos(as) para identificar e tratar potenciais agressores(as).

A presidenta da Apeoesp e deputada federal Professora Bebel divulgou nota em que lamenta o abandono do programa de mediação escolar, criado em 2009 pela Secretaria da Educação, a partir de proposta do Sindicato, no qual professores(as) trabalhavam na solução de conflitos no ambiente escolar.

Extremismo

A CNTE considera que o Estado deve combater e punir discursos de ódio estimulados pela extrema-direita e que levam a atentados nas escolas.

A sociedade brasileira lida com o problema de forma superficial e efêmera, e as comunidades escolares permanecem desamparadas, aponta Daniel Cara, professor e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE).

Cara organizou o relatório “Ultraconservadorismo e Extremismo de Direita entre Adolescentes e Jovens no Brasil”, lançado em dezembro de 2022. O trabalho associa o crescimento de atos de violência à escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e à falta de controle e criminalização desses discursos e práticas.

Alheio ao aumento da violência nas escolas, os governos não têm iniciativas para identificar e monitorar possíveis agressores(as). Todo o trabalho contra a violência fica por conta dos(as) educadores(as), que se arriscam para controlar situações de violência sem qualquer apoio.

“Vivemos, lamentavelmente, um período de incentivo ao armamento das pessoas e à banalização da violência, e isso afeta fortemente os adolescentes e os jovens”, constata a presidenta da Apeosp.

Saúde mental

A promoção de políticas de saúde mental é outra necessidade para prevenir atos terroristas nas escolas, indica a pesquisa divulgada pela CNTE. Problemas mentais, como esgotamento e ansiedade, se tornaram mais relatados nas escolas após a pandemia de Covid19, responderam 95% dos(as) estudantes, 95% das famílias e 91% dos(as) professores(as).

Enquanto a grande maioria relata haver necessidade de projetos de acompanhamento da saúde mental nas escolas, pouco mais da metade dos(as) entrevistados(as) disseram que a escola tem iniciativa deste tipo.

A pesquisa reforça a necessidade de providências por parte dos governos, mas de uma maneira bem planejada. A instalação de detectores de metais e câmeras de vigilância não terão efeito sobre a violência se não houver servidores técnicos para monitorar esses equipamentos e psicólogos(as) para lidar com os(as) adolescentes, aponta a presidenta da Apeosp.

A prevenção da violência não pode ficar só nas costas dos(as) educadores(as). “É verdade que os professores têm sensibilidade para identificar potenciais agressores e até mesmo para dialogar com eles, dissuadindo-os de ações violentas. Porém, os professores são responsáveis por diversas classes com 35, 40 ou mais estudantes e não lhes cabe atuar nesse campo”, afirma Bebel.

Pesquisa

A pesquisa “Ouvindo a Comunidade Escolar: Desafios e Demandas da Educação Pública do Estado de São Paulo”,  foi contratada pela Apeosp e feita pelo Instituto Locomotiva. O levantamento ouviu 1.250 estudantes, 1.100 professores(as) e 1.250 familiares de alunos(as) em todo o Estado de São Paulo, de 30 de janeiro a 21 de fevereiro de 2023.

“Para lidar com esse cenário é necessário um movimento amplo de toda a sociedade para construir uma cultura de paz. Precisamos de investimento humano e tecnológico para prevenção e enfrentamento da violência, começando pelos colégios de periferia”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

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