Promessa da Secretaria da Educação para facilitar a vida dos(as) professores(as), a chamada por reconhecimento facial nas escolas estaduais não consegue superar a boa e velha lista como método de registro de presença.
É o que dizem 82% dos(as) educadores(as) da rede, entrevistados(as) na pesquisa Plataformização da Educação, realizada pela APP-Sindicato e o Instituto IPO.
Dentre estes, 42,7% dizem que a tecnologia não reconhece os alunos e 41,1% afirmam que o método é mais moroso e reduz o tempo de aula.
Já 5% citam que estudantes se negam a participar da foto e se sentem expostos.
Impessoalidade
Outros(as) profissionais reclamam do rompimento do vínculo com estudantes propiciado pela chamada manual.
O método digital, que consiste em uma fotografia da turma, dificulta memorizar os nomes e reduz o tempo de interação pessoal, já prejudicado pelo excesso de plataformas digitais impostas pela Secretaria da Educação.
Ainda mais grave, há relatos diversos sobre as dificuldades para reconhecer estudantes negros(as) e pardos(as), corroborando estudos que apontam menor eficácia da tecnologia para identificar estas populações.
O recorte específico sobre o reconhecimento facial exemplifica uma das muitas das dificuldades enfrentadas pela categoria diante da digitalização do trabalho docente, das relações entre professor(a) e estudante e dos recursos didáticos.
O excesso de plataformas associadas a metas e cobranças têm gerado sobrecarga, adoecimento, desigualdades educacionais e graves prejuízos à aprendizagem, reiterando alertas de estudos internacionais e experiências como a da Suécia.
Também não há nenhuma transparência sobre o tratamento dos dados dos(as) estudantes processados pela tecnologia, ensejando potenciais violações de privacidade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) traz a preservação da imagem como um direito básico. Ainda de acordo com o ECA, é dever de todos evitar que crianças e adolescentes sejam expostos(as) a situações vexatórias ou constrangedoras.
Já Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em vigor desde 18 de setembro de 2020, destaca a prioridade absoluta de crianças e adolescentes, assegurando o direito à privacidade de informações sensíveis. Mas não há sinais de que a Seed esteja preocupada.
A APP trabalha para abrir debate com a Secretaria e propor o estabelecimento de uma política que priorize a interação humana e a autonomia, mantendo as tecnologias como ferramentas que auxiliem o trabalho pedagógico e não como instrumentos de controle e substituição do papel dos(as) professores(as).
Em manifesto publicado na Edição Pedagógica do Jornal 30 de Agosto, a APP propõe a regulamentação do tempo de estudo e trabalho diante das telas, a oferta de plataformas públicas, o respeito à autonomia e à gestão democrática como princípios inegociáveis e uma educação universal, diversa, plural e inclusiva, em contraponto à sua determinação por interesses do mercado.
Sobre a pesquisa
A pesquisa “Plataformização da Educação” foi realizada pelo IPO entre os dias 28 de junho e 7 de julho de 2023, com 300 professores(as), pedagogos(as) e diretores(as) da ativa sindicalizados(as) à APP. A amostra é representativa por região do estado, sexo e faixa etária e a abordagem foi conduzida por ligações telefônicas.
O estudo foi contratado pela APP-Sindicato. A Secretaria Educacional da APP trabalhou em conjunto com os(as) cientistas sociais do Instituto para desenvolver o questionário, que incluía perguntas abertas e estimuladas. Para completar as 300 entrevistas, que somaram mais de 100 horas de gravação, cerca de 6 mil educadores(as) foram contatados. A margem de erro é de 5,9% com intervalo de confiança de 95%.
Pesquisadores(as) e veículos de imprensa podem ter acesso a mais detalhamentos entrando em contato com a Secretaria de Comunicação da APP pelo Whatsapp (41) 9249-2328.
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