Camburão dos(as) deputados(as), o cavalo de Tróia às avessas

Camburão dos(as) deputados(as), o cavalo de Tróia às avessas


Narra a tradição mitológica grega, que uma guerra entre Esparta e Tróia se prolongava havia mais de dez anos. Por estratagemas envolvendo as divindades, Páris, Príncipe de Tróia, teria raptado Helena, a mais bela das mulheres, esposa de Menelau, o Rei de Esparta. O famoso exército espartano, conquanto fosse considerado dos mais preparado, não logrou recuperar Helena nas inúmeras batalhas entre as forças. Consta que a cidade de Tróia estava situada sobre um morro e era cercada por altas muralhas, praticamente intransponíveis. Depois de muitas refregas, Ulisses, o estrategista, planejou uma ação que se não falhasse poderia conduzir à vitória tão almejada. Assim, um grande cavalo em madeira foi construído pelos gregos. Em seu interior, além do próprio Ulisses, teriam tomado parte entre trinta a cinquenta dos mais preparados e valentes lutadores. O objeto, como se fosse um presente, foi deixado no portal de Tróia. Depois de terem meditado e pensado várias alternativas ao objeto, os troianos conduziram-no para o interior da cidade. Deixaram-no na Praça Pública à guisa de oferenda aos deuses. Na alta madrugada, enquanto a maioria dos soldados troianos dormiam, Ulisses comandou a saída dos guerreiros do interior do cavalo, dominaram as sentinelas e, depois de lutarem, recuperaram Helena e voltaram para Esparta.

Registros desse episódio se encontram no poema épico Íliada, atribuído a Homero, que depois escreveu Odisséia, em que descreve as aventuras de Ulisses depois da famosa guerra.

Nesta semana completa um ano do episódio do camburão dos deputados e deputadas estaduais do Paraná. Em fevereiro de 2015, o governo Beto Richa (PSDB), se comportando como se fosse um grupo governante de um império ou reinado, enviou as mensagens 01 e 02/2015 para a Assembleia Legislativa do Paraná. Sem qualquer debate, sem aviso prévio, resolveram efetuar uma nova etapa do chamado ajuste fiscal que já havia penalizado o conjunto da população paranaense com abusivos aumentos de impostos. No afã de enfrentar a grave crise financeira que seu próprio governo provocara durante o primeiro mandato tanto o Poder Executivo como o Poder Legislativo resolveram utilizar o famoso tratoraço – aprovar num único dia, projetos de lei sem debate e sem apoio popular – herança do período da ditadura civil/militar.

Como reação os(as) servidores(as) públicos(as), principalmente os(as) educadores(as) da rede estadual de ensino – os mais prejudicados nas mudanças que as leis propunham – ocuparam o plenário da Alep. Com a marcação de nova sessão para o prédio anexo do plenário, onde fica o restaurante, uma nova estratégia foi necessária para a legítima defesa dos direitos dos(as) educadores(as). Assim, no dia 12 de fevereiro, os portões do quarteirão que envolve a Assembleia e o Tribunal de Justiça amanheceram fortemente ocupados pelos grevistas.

Eis que do lado governamental, após se reunirem no chamado Chapéu Pensador, um prédio da Copel onde o governador costuma ficar quando tem manifestações no Centro Cívico, resolveram utilizar um camburão da Polícia Militar do Paraná. Escolheram o espaço mais próximo do prédio onde aconteceria a reunião e como não havia portão no local tinha menos manifestantes a enfrentar, cerraram rapidamente as grades e os 27 deputados e deputadas entraram pelo vão aberto, enquanto o principal mentor da ação, o então Secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini, agora deputado federal do partido Solidariedade, era rechaçado e posto para correr por um professor.

Sem alternativas, os manifestantes tiveram de superar as “muralhas” e em menos de 48 horas realizar um segundo cerco aos deputados(as). Foi quando sem nenhuma condição política, alegando a segurança dos deputados e manifestantes, o governo, sob apelo dos deputados da oposição, resolveu retirar os projetos de lei, encerrando assim as ocupações da ALEP.

O desastre surrealista do camburão lembra exatamente a estratégia do herói Ulisses da mitologia grega, porém, sem a condição estratégica dos míticos líderes espartanos, os líderes da terra dos pinheirais expuseram os parlamentares – veteranos como Nelson Justus, Traiano, Cantora Mara Lima, Plauto Miró, Artagão Junir e Romanelli, com um grupo de jovens de primeiro mandato e apenas em segunda semana de Alep como Tiago Amaral, Maria Victória, Cristina Silvestri, Felipe Francischini, Paulo Litro, Guto Silva – a um vexame inacreditável.

Além disso, o camburão, como fosse um Cavalo de Tróia às avessas, atingiu em cheio o cartaz do governador Beto Richa (PSDB). Reeleito poucos meses antes em primeiro turno para governar o estado, viu sua imagem se desfazer como folhas ao vento!

O Cavalo de Tróia produziu a mundialmente conhecida expressão “presente de grego” – refere-se a presentes ganhos que parecem muito bons mas que na sequência produzem efeitos indesejáveis aos presenteados.

O camburão da polícia militar do Paraná também ficará para a história?

Fonte: Notícias Paraná

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