A perspectiva de falta de professores(as) para atender as necessidades educacionais do país levou a Comissão de Educação e Cultura do Senado a fazer uma audiência pública para debater maneiras de tornar os cursos de licenciatura mais atraentes. Há previsão de que o Brasil tenha um déficit de 235 mil professores na educação básica até 2040.
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Professores são o coração da educação, mas muitos estão abandonando a profissão e há menos jovens dispostos a entrar nela. Garantir profissionais bem formados e remunerados é a única forma de reverter a tendência de escassez.
A Comissão debateu na quarta-feira (20) alterações na lei que trata do ensino superior, com a participação de representantes de professores(as), estudantes, pesquisadores(as) e gestores(as) da área educacional.
Pesquisa do Semesp, que representa mantenedoras de ensino superior do Brasil, aponta que o envelhecimento dos(as) professores(as) e o desinteresse dos(as) estudantes pelo magistério devem provocar em breve uma escassez de profissionais.
Para reverter esse cenário, Fátima Paduan, presidenta do Conselho de Educação do Paraná, sugeriu na audiência pública que todos os cursos superiores permitam o ingresso de aluno(as) em bacharelado e em licenciatura, para que depois eles escolham o que for melhor para sua formação.
Segundo resolução do MEC, atualmente apenas Educação Física tem a possibilidade de ingresso único.
“Entendemos que a permissão deve ser estendida aos demais cursos que por suas especificidades possibilitem essa oferta, tendo em vista que habilitar para mais uma área é uma opção mais atrativa para os futuros professores e pode ajudar a ocupar as vagas desses cursos”, afirma Fátima.
Alterações na lei devem contemplar a formação dos professores com valorização salarial e flexibilidade, disse na audiência o presidente da Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais, Odilon de Moraes. Ele ressaltou que é urgente tornar a profissão mais atrativa.
Educação Internacional
Não é só no Brasil que a eventual falta de professores(as) preocupa. Painel realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 15 de setembro concluiu que os governos de todo o mundo devem agir para enfrentar a crise educacional global, elevando o papel e o futuro da profissão de professor(a).
A Unesco estima que o mundo precise de mais de 69 milhões de novos professores até 2030. O Painel de Alto Nível da ONU sobre a Profissão Docente avançou para finalizar um conjunto de mais de 50 recomendações a serem apresentadas ao secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres no Dia Mundial do Professor, 5 de outubro.
Entre as recomendações estão a garantia de que professores(as) e suas organizações possam envolver-se no diálogo com os governos sobre todas as questões que afetam sua profissão.
O Painel da Educação Internacional apelou aos governos para que estabeleçam comissões com sindicatos de professores(as) e outras categorias, para resolver a escassez de profissionais com formação adequada. Outra recomendação é acabar com as restrições salariais e a austeridade do setor público, medidas que reduziram muito os gastos com educação em todo o mundo.
A Educação Internacional se propõe a ser a voz dos(as) trabalhadores(as) da educação em todo o mundo. São 383 organizações reunidas, representando mais de 32 milhões de professores(as) e pessoal de apoio à educação em 178 países e territórios.
“O acesso à educação de qualidade é um direito humano fundamental. É também fundamental para enfrentar os maiores desafios do nosso tempo, desde a erradicação da pobreza e a consecução da justiça social até à luta contra as alterações climáticas. Os professores são fundamentais para esta visão do futuro”, registra o site da instituição.
Pesquisa Semesp
Pesquisa do Semesp, divulgada em outubro de 2022, aponta que o déficit de professores(as) em todas as etapas da educação básica no Brasil pode chegar a 235 mil no ano de 2040.
Considerando a taxa atual de 20,3 pessoas com idade entre 3 e 17 anos para cada docente na educação básica, em 2040 serão necessários 1,97 milhão de professores. Mantendo-se as taxas de crescimento de 2021, estima-se que o número de professores diminuirá 20,7% até 2040, caindo para 1,74 milhão. Logo, o déficit será de 235 mil.
Outro ponto da pesquisa indica o envelhecimento da categoria docente nos últimos anos, com destaque para o número crescente de profissionais prestes a se aposentar.
O número de professores(as) jovens em início de carreira (com até 24 anos) caiu 42,4%) de 2009 a 2021, passando de 116 mil para 67 mil profissionais. O número de professores(as) com 50 anos ou mais subiu 109% no mesmo período.
A pesquisa revela que os(as) docentes também deixam de lecionar por falta de infraestrutura adequada nas escolas. Em 2021 o Brasil tinha 3,8% das escolas públicas sem banheiro, 2,6% 5,8% sem água potável, 2,5% sem energia elétrica e 5,5% sem esgotamento sanitário.
Outro aspecto relevante da pesquisa é a saúde dos(as) professores(as). A categoria é uma das que mais sofre com esgotamento físico e mental, apontada como a principal causa de afastamento do trabalho. Em 2021, menos da metade desses profissionais (47%) avaliou sua saúde mental como boa ou excelente, 34% reclamaram de estresse prolongado e 72% disseram não ter acesso a apoio para cuidar da saúde mental.
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