Em uma era dita moderna e evoluída soa até como contradição ter que ressaltar a importância da igualdade e sem discriminações em um Brasil que está chegando ao final de 2016. A vida é livre, nem sempre, nesta era digital ainda temos que levantar a bandeira e mostrar ao mundo a consciência negra, tendo novembro como o mês das reflexões. “Novembro Negro” revela que ainda são muitas as histórias de pessoas que travam batalhas contra o preconceito e a discriminação.
O Instituto de Desenvolvimento Econômico (IPEA) (veja aqui) apresenta um texto da realidade em preto e branco. Mostra o quadro típico das dificuldades ainda encontradas pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira, afirmando que o nosso país está longe de ser considerado de “democracia racial” e que os(as) afrodescendentes sofrem sim com o preconceito. Podemos comprovar isso entre vários nichos, caras, bocas e olhares em diversas situações que acontecem ao nosso lado na vida real. No mundo do trabalho, afinal, todos(as) lutam para sobreviver diante da crítica economia brasileira, trabalhar é digno, mas, a situação dos(as) negros(as) é pior do que a dos(as) brancos(as), pois estão entre o maior número de desempregados(as) no mercado formal, e com isso ocupam as vagas dos trabalhos informais, mesmo ganhando menos.
Em 2011, no início do plano Brasil Sem Miséria, instituído para alcançar a população apta a receber benefícios, mas ainda não registrada no Cadastro Único, com meta de inclusão de 16 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram que 71% eram negros(as) ou pardos(as). Outra divulgação, em 2013, com elementos mostrados na época pela ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, 73% dos cadastrados no Bolsa Família eram negros(as) ou pardos(as). Com alguns números já identificamos o cenário da falsa democracia racial brasileira e de algumas dificuldades encontradas.
Vamos dar uma mapeada pelo país; de norte a sul, leste a oeste
Uma volta pelo Brasil das “semelhanças” aborda projetos que conseguiram mudar a vida de muitas pessoas, meninas e meninos, mulheres e homens, um cabelo crespo lindo e um “tapa na cara da sociedade”. Autoestima na luta contra o preconceito.
– Pérolas Negras: Projeto desenvolvido desde 2013, na ONG Casa Cultural do Morro, em Viçosa (MG), com o objetivo de promover semanalmente a troca de experiências de meninas de diferentes idades sobre o cuidado e a manutenção de seus cabelos crespos naturais. Muitos encontros são sediados em escolas – vamos abrir um parênteses e ressaltar sim o papel educacional do ambiente escolar, imprescindível esta base para a formação de um(a) cidadão(ã). Assim, as participantes compartilham suas histórias pessoais e discutem temas ligados ao racismo, como o estereótipo da mulher negra como objeto sexual.
– Manifesto Crespo – Coletivo independente formado por mulheres negras de São Paulo. Atuam englobando a reflexão e prática que envolvem as particularidades e potencialidades do corpo negro de forma criativa. A luta é pelo resgate das origens. Propõe reconhecer o valor da cultura afro-brasileira, suas produções artísticas e estéticas e, consequentemente, fomentar a autoestima de homens e mulheres negros(as).
Literatura retratando a vida como ela é; literalmente ler é aprendizado
A antologia Literatura e Afrodescendência no Brasil, Editora UFMG, organizado por Eduardo de Assis Duarte, reúne vida, obra e análise crítica de cem autores negros em duas mil páginas e quatro volumes. Confira a entrevista com Duarte, para o site Carta Educação, e entenda um pouco mais a raiz para esta conscientização literária. Fica a dica de leitura e vamos abrir os nossos horizontes para este “Novembro Negro” que deve ter reflexos a todos os dias, meses, anos e décadas.